Em virtude dos ataques dos Houthis, muitas empresas estão optando por não utilizar o Canal de Suez da Europa para a Ásia, desviando Cabo da Boa Esperança, na África do Sul (Foto: UK Ministry of Defence/Reuters via Agência Brasil)
Internacional
Conflitos no Mar Vermelho impactam logística global
Especialistas alertam para possíveis consequências da série de ataques dos Houthis a navios que trafegam pela região
Os conflitos no Mar Vermelho, que já duram três meses e afetam as navegações comerciais em todo o mundo, podem levar a um outro problema em breve: a falta de contêineres vazios, semelhante ao que ocorreu na pandemia de Covid-19. Esta é uma das principais preocupações apontadas por especialistas do setor, além do aumento de fretes em torno de 10% a 12%, segundo exportadores brasileiros.
A região onde está o Canal de Suez, entre o Mar Vermelho e o Mar Mediterrâneo, é responsável por cerca de 12% do tráfego marítimo mundial. Há três meses, os Houthis, milícia iemenita defensora dos palestinos na Faixa de Gaza, fazem investidas contra navios cargueiros que eles consideram ser de aliados de Israel.
“Esse conflito trará consequências de cadeia logística globais, tais como os contêineres vazios, falta de produtos, inflação, aumento no custo de combustíveis que serão repassados ao frete”, afirma a especialista em relações internacionais, comércio exterior e logística, Gisele Souza.
Ela explica que o caos da falta de contêineres só foi normalizado em setembro do ano passado, mas que foi o maior problema logístico da pandemia. “E isso vai voltar a acontecer por conta dos navios que não conseguem atracar ou que estão fazendo rotas mais longas, portanto, a falta de contêineres vazios para exportação será uma realidade novamente se o conflito se intesificar”, diz ela.
A professora e especialista explica que, durante a pandemia de covid-19, em 2020, a China, única produtora de contêineres vazios no mundo, escoou toda a produção que ficou paralisada durante quase um ano de uma vez só. Em 2021, essa carga foi escoada muito rapidamente, o que afetou toda a cadeia logística global com a falta de contêineres vazios. Este foi um dos piores momentos do comércio mundial até então, segundo Gisele.
Mas o mundo, diz ela, não estava preparado nem para o retorno tão abrupto de cargas, tampouco desta forma. A falta de contêineres para abastecer os navios atrasou as viagens em até 20 dias, principalmente na Europa, um dos maiores mercados da China. Esse choque levou à inflação de milhares de produtos, não só naquela região, como no mundo todo. E esta situação é conhecida, de acordo com a professora Gisele Souza.
“Em 2008, durante a crise mundial na economia, houve joint ventures (quando há uma parceria comercial para tirar proveito de alguma atividade, por um tempo limitado), o que resolveu parte do problema”, diz ela.
Outra rota
Por conta dos ataques, muitas empresas estão optando por não utilizar o Canal de Suez da Europa para a Ásia, onde está a China. A rota é a mais rápida. Porém, o caminho agora está sendo desviado pelo Cabo da Boa Esperança, na África do Sul, viagem que demora de 15 a 25 dias a mais.
“Nós ficamos menos competitivos. Ainda que seja um aumento de 10% a 12%, isso impacta muito em nosso negócio e em todos os negócios no País. Estamos vendendo, oferecendo nosso produto, queremos ser mais competitivos, mas com este aumento são necessárias outras alternativas como novos fornecedores e prestadores de serviços para encobrir custos e repassar o mínimo possível aos consumidores finais”, afirma a especialista em exportação da WoodFlow, Gisele Santos.
Segundo a especialista, o setor madeireiro é apenas um dos que sentem os aumentos que já estão ocorrendo aqui no Brasil por conta das rotas mais longas feitas pelos navios cargueiros nos últimos meses.
Para a professora e especialista Gisele Souza, o País poderá ter efeito em suas commodities, como soja, café e milho, também, em breve. Mas, o principal problema está no petróleo. “Por enquanto, o petróleo ainda não foi afetado porque o Irã é um aliado dos Houthis”, afirma ela.
Hoje, 40% do petróleo mundial passa pelo Estreito de Ormuz, que fica na região entre o Irã, os Emirados Árabes Unidos e o Paquistão, entre os golfos Pérsico e de Omã. “Esta região ainda não foi afetada, mas porque o Irã não se envolveu. Se algo acontecer que necessite de sua intervenção, veremos mais uma crise por conta de Petróleo envolvendo toda a cadeia global”, afirma Gisele Souza.