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Criatividade será relevante no trabalho do futuro
“Carreira do futuro” é uma expressão que deixará de fazer sentido e as pessoas devem se preparar para cenários de mudanças com Inteligência Artificial e outras ondas que virão. O especialista em tecnologias exponenciais Ricardo Cavallini acaba de lançar “Para os seus próximos mil anos – um manual para as profissões que ainda não existem” , refletindo sobre carreiras que terão seu ápice dentro de 20 ou 30 anos. Para ele, criatividade é uma palavra chave para os novos tempos. Pais, filhos, funcionários, patrões, todos com dúvidas e poucas respostas. E Cavallini garante: “Enquanto excluirmos qualquer faixa da sociedade, seja por etnia, gênero, idade ou orientação sexual, estaremos dando um tiro no pé. A conta não vai fechar se não olharmos para todos”. Confira entrevista exclusiva:
Você escreveu o livro para sua filha e ele ganhou vida e provocou muito interesse. Por que chamou tanta atenção?
Acredito que muitos pais, mães e adolescentes estão passando pela mesma dificuldade. Internet, redes sociais e mobile mostraram rapidamente como uma mudança de base tecnológica pode influenciar a cultura e o ambiente de negócios. Agora, o fantasma da inteligência artificial criou, com razão, muita ansiedade. Quais profissões terão maior impacto? Quais irão surgir, quais irão desaparecer? Escrevi para minha filha, mas espero que seja útil para fomentar essa conversa nas famílias.
Como lidar com opções profissionais?
Eu adoraria dar uma resposta simples, mas não acredito em frases de autoajuda como “Escolha o que ama e nunca irá trabalhar na vida”. É uma escolha complexa, no livro tem um capítulo destinado a essa reflexão. No final, será sempre uma decisão pessoal, mas existem ponderações que podem ser feitas.
Pode explicar seu trabalho?
Ajudar executivos e empresas a entender e a lidar com esse futuro que está chegando todos os dias, cada vez mais rápido e com impacto cada vez maior. Faço isso através de palestras, cursos e consultoria. A geração de conteúdo, seja em artigos, podcasts, redes sociais ou livros também é parte desse trabalho.
Em que ambientes você atua?
A quantidade de informação disponível é brutal e acaba mais confundindo do que ajudando. Todos os anos, especialistas em tendências despejam várias centenas de novas delas no colo do mercado. Todo ano na SXSW, Amy Webb nos brinda com um documento com mais de 800 páginas com nomes pomposos como Visual Commonsense Reasoning ou Building a Strategic Panopticon. Gosto do trabalho dela, mas acredito que a necessidade de ter sempre novas tendências acabou criando bizarrices cujo buzz dura seis meses e captura toda a atenção.
Pode citar exemplo?
Metaverso é um exemplo claro disso. A cultura das empresas e o dia a dia do executivo é muito complicado para conseguir fazer a curadoria e tradução, bem como entender como o que pode ser feito, quais os riscos, quais as possibilidades. Por isso é importante ter alguém que consiga traduzir tudo e dar indicações claras do que precisa ser trabalhado. Meu objetivo é atuar nesta frente.
Há quanto tempo você pesquisa o tema?
Praticamente toda a minha carreira, mas com maior ênfase nas últimas décadas. Abri a primeira agência digital do Brasil e logo de cara percebi que precisaria ajudar a educar o mercado. Na época, poucos entendiam o impacto que a internet teria em comportamento e nos negócios. O olhar para a próxima geração surgiu quando virei pai, há 17 anos. De lá para cá, fiz trabalhos com escolas e muitos cursos para crianças e adolescentes.
Quais as profissões para a próxima geração falando em dez, 20 anos?
Tecnologia hoje é visto como uma área, mas cada vez mais será entendida como transversal. A nova geração passará por 2, 3, talvez 4 grandes ondas de revolução tecnológica. A próxima é IA (que já começou) mas outras virão. Também acredito que muitas pessoas mudarão de profissão ao longo de suas carreiras. Por esses e outros motivos, cada vez mais a expressão “carreira do futuro” deixará de fazer sentido e precisaremos pensar em como nos preparar para esse cenário que mudará tanto e tantas vezes.
Qual o caminho para as empresas lidarem com esse futuro tão incerto?
Primeiro entender que não é mais problema para o próximo CEO, os problemas e os louros destes investimentos (ou a ausência deles) serão sentidos na sua gestão. Depois investir (tempo, atenção e dinheiro) em inovação, colaboração e foco no cliente. Mas nenhum destes investimentos é simples, pelo contrário. Se fala muito nisso nas redes sociais, mas falta franqueza para falar disso. Daí a necessidade de desmistificar cada um desses termos. Se não muda o bônus, é só discurso. Nada adianta falar sobre foco no cliente se algumas fontes de receita da empresa são conflitantes com isso.
Como se preparar para qualquer profissão do futuro?
A primeira coisa é não surtar. A segunda é descobrir quais frentes investir que serão úteis, qualquer que seja a sua escolha. Um dos exemplos é criatividade, que muitos acreditam ser uma característica, mas que eu acredito que pode ser desenvolvida e será cada vez mais relevante.
Você acredita que a IA vai acabar com muitos empregos?
No curto prazo sim. No longo, teremos mais e melhores empregos. O desafio é como lidar com isso nesse ínterim. Pessoas devem se preparar. Empresas devem se preparar. Nações devem se preparar.
O mercado do futuro é jovem? Como ficam os mais velhos?
As pessoas estão vivendo mais, a população de alguns países está envelhecendo rápido (caso do Brasil), as duas frentes precisam de atenção, jovens e mais velhos. Enquanto excluirmos qualquer faixa da sociedade, seja por etnia, gênero, idade ou orientação sexual, estaremos dando um tiro no pé. A questão social é a mais relevante, mas não é só isso. A conta não vai fechar se não olharmos para todos.