A região tem longas distâncias de navegação e para qualquer reparo que a draga precise, é necessário navegar cerca de quatro dias até um porto onde o conserto possa ser feitoCrédito: Divulgação/Dnit
Região Norte
Distâncias de navegação e erosão são desafios para dragagem nos rios amazônicos
Diretor comercial de empresa do setor falou sobre operações já realizadas na região que sofre com seca extrema
Grandes distâncias de navegação e velocidade da erosão das margens dos rios amazônicos são desafios para realizar serviços de dragagem nas hidrovias da região Norte do país, citou Ricardo Delfim, diretor comercial da empresa Jan De Nul, que realizou recentemente a dragagem de um trecho do rio Madeira entre Porto Velho (RO) e Manicoré (AM).
A região tem enfrentado uma seca severa neste ano e que pode se estender até o mês de janeiro, segundo previsão do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). A situação de diversos rios estratégicos para a região é crítica e já registram vazões (volumes) abaixo da média histórica.
Entidades do setor produtivo alertam para a necessidade da realização de dragagens em pontos estratégicos dos rios utilizados para escoar a produção local e também abastecer os moradores da região.
Para entender o cenário, o BE News entrevistou Ricardo Delfim, diretor comercial da empresa Jan De Nul, empresa que tem contrato ativo com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), responsável pela manutenção da navegação nos rios amazônicos.
Para Delfim, a região Norte é “um dos lugares mais desafiadores do Brasil” para realizar obras de dragagem. Entre os principais motivos, está a acelerada erosão das margens dos rios, que acaba causando a queda de toras de madeira na água, que podem prejudicar a atuação dos equipamentos de dragagem.
Ele explica também que a região tem longas distâncias de navegação e para qualquer reparo que a draga precise, é necessário navegar cerca de quatro dias para acessar um porto onde o conserto possa ser feito.
Além disso, o maquinário utilizado nas dragagens é grande para o padrão de navegação local, então é preciso elaborar complexos planejamentos de segurança, de navegação, mobilizar e preparar toda a equipe para que tudo seja feito de acordo com todas as normas vigentes.
“Nas duas campanhas que fizemos ali (2022 e 2023), conseguimos alinhar todas essas ações. É algo complexo, especificidades que precisam ser cumpridas”, detalha.
Ele cita que as hidrovias têm um comportamento diferente dos canais de navegação marítimos, por exemplo, o que pede mais constância nos estudos de dragagem e antecipação dos cenários, o que talvez evitasse uma situação tão crítica como a atual.
“O rio Madeira é um rio novo e está mudando constantemente. Nos pontos onde a seca está mais crítica nunca foram feitos estudos de dragagem. Talvez, se esses locais tivessem sido estudados, as condições estariam melhores mesmo no período de seca. Então acho que esse é um ponto de alerta para os próximos anos, para se pensar em intervenções preventivas”, explica.
O último ciclo de dragagem realizado pela empresa na região foi em um trecho de cerca de 600 km do rio Madeira, entre Porto Velho (RO) e Manicoré (AM), concluído em junho deste ano, e um dos poucos que ainda segue navegável mesmo com a baixa do volume de água.
Medidas
Para tentar amenizar o impacto da seca, na última terça-feira (3), o vice-presidente Geraldo Alckmin anunciou duas obras de dragagem na região Norte. Uma será no Rio Solimões, com custo de R$ 38 milhões e prazo de conclusão em 30 dias. A outra será no Rio Madeira, com custo estimado em R$ 100 milhões e término em 45 dias. Ainda não há informações sobre qual empresa realizará as obras emergenciais.