Os participantes da mesa debateram sobre oceano e economia, efeitos climáticos e economia azul (Reprodução)
Região Sudeste
Emissão de carbono na cabotagem ou no transporte hidroviário é quatro vezes menor
Diretora de Sustentabilidade da Hidrovias do Brasil, Fabiana Gomes apresenta resultado comparativo com modais rodoviário e ferroviário
O transporte de cargas por cabotagem ou por hidrovia é quatro vezes menos poluente em comparação aos modais rodoviário e ferroviário, segundo levantamento da Hidrovias do Brasil.
O dado foi apresentado pela diretora de Sustentabilidade da companhia, Fabiana Gomes, durante a mesa “Um oceano produtivo, sustentável e previsível: as relações entre a economia azul, oceano e clima”, do evento internacional Diálogos da Cultura Oceânica, na última terça-feira, na Associação Comercial de Santos, no Centro Histórico.
“O inventário de gases de efeito estufa da Hidrovias do Brasil em 2020 e 2021 apontou que, na comparação com os modais rodoviário e ferroviário, a nossa emissão de carbono equivalente é quatro vezes menor por quilômetro útil transportado. É uma forma sustentável de transportar grandes cargas”, afirmou.
“A hora que você coloca uma quantidade muito grande de carga para ser transportada por um empurrador e um conjunto de barcaças, no caso da navegação fluvial, ou por cabotagem, na navegação costeira, você tem um ganho de sustentabilidade e de eficiência brutal”, ressaltou.
O clima e o agro
Já o chefe de Agricultura da Climatempo, Willians Bini, falou sobre os efeitos dos fenômenos climáticos La Niña e El Niño sobre o planeta como um todo e os impactos na economia, especialmente na agricultura. “São fenômenos que estão 100% relacionados com a questão dos oceanos. Quando o Pacífico está mais quente, o fenômeno é o El Niño, e quando está mais frio, La Niña. E não é só a temperatura da água; muda todo o cenário global, a ponto de áreas perderem produtividade e ocorrerem enchentes e nevascas”, disse Bini.
Bini explicou que o fenômeno La Niña tem impacto direto na produção agrícola. “Este vai ser o terceiro ano seguido de La Niña e os riscos climáticos são muito grandes, especialmente para o sul do Brasil. Foram dois anos seguidos com produtividade agrícola muito ruim por causa da temperatura do Oceano Pacífico, tão longe da gente, mas interferindo bastante na nossa economia local”, observou.
O especialista também apontou os efeitos climáticos resultantes do aquecimento do Oceano Atlântico. “Quando eu tenho o Oceano Atlântico um pouco mais quente, na costa do Brasil, eu potencializo chuvas e, inclusive, temporais”, pontuou.
“Nós estamos passando por um momento crítico em mudanças climáticas”, alertou Willians Bini, deixando claro que não queria entrar na discussão sobre possíveis fatores que supostamente contribuem para as mudanças como interferência humana ou intercorrências naturais nos ciclos climáticos.
Plano de Ação Climática
Prosseguindo com o tema, a mediadora da mesa, a jornalista Paulina Chamorro, mencionou que Santos é a primeira cidade a implementar um Plano Municipal de Combate às Mudanças Climáticas.
Sobre o assunto, o chefe da Seção de Mudanças Climáticas da Secretaria de Meio Ambiente de Santos, Eduardo Kimoto Hosokawa, disse que o plano mapeia as condições de tempo e do mar. “Aqui, as ressacas ocorrem com menor tempo de recorrência, assim como as rajadas de vento e as marés negativas. O Plano de Ação Climática, rebatizado assim, traz a análise ambiental e social no aspecto local, com uma gama de informações para o tomador de decisão, seja ele o prefeito, o secretário, a comissão municipal, organizações e instituições”, explicou.
“O ideal é implementar o plano em toda a sua plenitude, com todos os atores compartilhando o mesmo entendimento da situação. A gente compila o documento não somente no Plano de Ação Climática, temos o Plano de Conservação e Recuperação da Mata Atlântica, o Plano de Contingências, Ressacas e Inundações, e a Defesa Civil. É o Município trabalhando de forma transversal, como uma atividade de governo, e não apenas de uma secretaria ou de um setor isolado”, afirmou Hosokawa.
“O século 21 presencia a urgência de a gente se mexer para lidar com esses grandes desafios. Embora a gente esteja lidando com um tema que é global, a gente tem que mexer na escala local”, ressaltou o representante da Escola de Guerra Naval, Tauã Santos.
O Diálogos da Cultura Oceânica, que acontece presencialmente em Santos, vai até hoje e é organizado pelos programas Cultura Oceânica para Todos, da Unesco; Maré de Ciência, da Unifesp; e pela Prefeitura Municipal.