Donaldo Trump fez várias acusações de comércio desleal a governos estrangeiros durante a campanha e prometeu taxar importações em 10% para fortalecer o mercado interno. Foto: Brendan McDermid/Reuters via Agência Brasil
Comércio exterior
Especialista vê Brasil sob novas incertezas com a vitória de Trump
Professor da UnB avalia que republicano pode dificultar entrada no Conselho da ONU e ampliar restrições para o Brasil
A eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, confirmada na quarta-feira, dia 6, pode trazer desafios para as ambições brasileiras na arena internacional e para a relação comercial entre os países. Em entrevista ao BE News, o professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília (UnB) Alexandre Andrada destaca que a vitória do republicano pode dificultar o ingresso do Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e limitar a obtenção de recursos internacionais para projetos de preservação ambiental nos países em desenvolvimento.
No comércio bilateral, Andrada observa que, embora o Brasil registre um deficit com os Estados Unidos — importando US$ 30,6 bilhões e exportando US$ 29,4 bilhões entre janeiro e setembro de 2024 —, a vitória de Trump eleva os riscos de investigações sobre práticas comerciais desleais.
Um relatório da Global Trade Alert já aponta o Brasil entre os países sob maior risco de restrições comerciais por parte dos Estados Unidos, ao lado de nações como China, Itália e Japão. Trump fez várias acusações de comércio desleal a governos estrangeiros durante a campanha e prometeu taxar importações em 10% para fortalecer o mercado interno.
Apesar desses riscos, Andrada minimiza os possíveis impactos diretos sobre o comércio brasileiro, afirmando que a eleição de Trump não deverá gerar desvantagens significativas, mas tampouco vantagens. “O comércio internacional é fundamentalmente feito entre agentes privados. Então, os governos terem simpatias um pelo outro ajuda, mas isso não é o ponto fundamental”, destacou. Ele acrescenta que o protecionismo defendido por Trump se concentra mais em países superavitários nas relações comerciais com os Estados Unidos, como é o caso do México, cujo comércio com os Estados Unidos foi de US$ 800 bilhões no ano passado, comparado aos US$ 74 bilhões do Brasil.
Embora possam surgir tarifas sobre produtos específicos, a diversidade de exportações brasileiras para os Estados Unidos deve amortecer o impacto de possíveis medidas protecionistas, avalia Andrada. Ele conclui que qualquer tarifação direcionada não deverá comprometer significativamente o comércio total do Brasil com os Estados Unidos.
“Mesmo que o governo Trump coloque alguma tarifa protecionista em um ou outro produto que o Brasil exporta para lá, isso não deve ter um impacto muito grande no total de tudo que vendemos”.
O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) parabenizou Trump pela vitória e destacou a importância do diálogo para a paz e o desenvolvimento. Contudo, Lula rompeu a tradição diplomática brasileira ao manifestar apoio público à candidata democrata Kamala Harris durante a corrida eleitoral, o que, segundo Andrada, pode ser um pequeno atrito nas relações bilaterais, embora não apresente implicações graves para as trocas comerciais entre os dois países.
“No protocolo diplomático, o fato de o presidente Lula ter declarado publicamente sua preferência pela vitória da candidata do Partido Democrata Kamala Harris não é algo muito apropriado, mas também não é algo muito grave. É mais um inconveniente, mais um atrito que se soma às relações não muito amistosas que existem entre as ideologias dos dois governos”.