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Estilo BE entrevista Adriano Dias, o consultor que virou prático

Atualizado em: 27 de julho de 2024 às 4:29
Ivani Cardoso Enviar e-mail para o Autor

Prático Adriano Dias
Era uma vez um garoto que adorava o mar, foi para a Marinha Mercante e virou prático, como tantos. Só que não foi bem assim com o prático Adriano Dias, da Praticagem de São Paulo. Ele nasceu em Piracicaba (a mãe era de lá e voltou para o parto) e foi criado em uma cidade pequena do Interior de São Paulo, próximo ao sul de Minas Gerais. Passou grande parte da infância na fazenda da família, brincando com primos e amigos e nadando no açude da propriedade. Viajou duas vezes em cruzeiro com amigos, mas nunca pensou que  teria qualquer contato profissional com mar ou navios no futuro.

Hoje a ligação é grande e o mar é a sua praia. Com mais de 18 mil seguidores no Instagram, Adriano posta vídeos muito interessantes de manobras de praticagem, do passadiço, de embarques e desembarques dos práticos, com milhares de visualizações (uma delas tendo ultrapassado 2,8 milhões).

Fez intercâmbio nos Estados Unidos e, quando voltou, estudou em Campinas, prestou o vestibular e passou na Engenharia da Poli/USP, em São Paulo. Nunca cogitou ou trabalhou como engenheiro, logo começou a atuar em consultoria empresarial na área de processos e sistemas para grandes empresas em São Paulo. Atendeu a empresas em outros Estados como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Salvador e em Brasília. “Sempre gostei da área de negócios, de mercado financeiro, de gestão. Grande parte dos engenheiros das melhores faculdades vai para essas áreas mais promissoras”, ele conta.

Em 2005 resolveu que desejava mais. Prestou MBA nos Estados Unidos, passou e ficou por lá durante dois anos, com foco total na área de negócios estratégicos. Voltou e continuou na área de consultoria, desta vez com foco maior em estratégia de negócios, custos e estrutura organizacional, mas as viagens constantes já estavam cansando e resolveu buscar outras oportunidades.

Quando o irmão mandou para ele o aviso de um concurso para prático (certa vez, durante um almoço familiar, ele tinha comentado brincando que gostaria de ser prático após ter lido sobre a profissão em um jornal) em 2011, resolveu prestar. “Caí de paraquedas, só tive dois meses para estudar, corri atrás de material, fiz a inscrição no último dia. No dia da prova nem consegui passar todas as minhas respostas para o cartão pois não parei para pensar nessa questão, e evidentemente não passei”.

Mas o destino trouxe de volta a praticagem ao seu caminho. Em 2012 abriu um novo concurso para 206 vagas, que nem era esperado. “Eu sempre fui de estudar de última hora, não estava esperando outro concurso tão rápido, mas pelo menos tive mais algum tempo para me preparar, mesmo que pouco. No curso de engenharia, assim como no trabalho de consultor, você desenvolve a capacidade de assimilar conhecimento rapidamente, e isso me ajudou muito durante o processo seletivo”.

Foi aprovado e veio trabalhar em Santos. Revela que o grande segredo para se sair bem na prova teórica para prático é fazer resumos dos tópicos do programa muito bem feitos, cobrindo tudo que o candidato julgar importante. Para a prova prática, Adriano resolveu investir e foi fazer um curso rápido com simuladores nos Estados Unidos, que na época ainda não eram encontrados facilmente no Brasil.

Nessa época, já estava como sócio de um restaurante de carnes portenhas, o Calle 54, rede com várias filiais em São Paulo e Jundiaí, que continua em expansão. Além desse, também é sócio do Sutorito 81, no Plaza Sul, em São Paulo. Ter outras atividades faz parte do seu planejamento.

Adriano é muito organizado e mantém uma planilha com todas as manobras que fez em Santos e São Sebastião nesses 12 anos. Lá está o primeiro embarque como prático formado no navio Amyntor, um graneleiro carregado de açúcar, em 8 de junho de 2015.

De lá para cá, são 2.325 manobras como prático e mais de 3.500 se considerarmos as que fez como praticante no início. Com as postagens dos vídeos ele ajuda a divulgar a praticagem e tem muito engajamento dos seguidores. “O pessoal gosta mais de manobras que apresentam alguma curiosidade, como a que eu tive que dar um pulo do navio para a lancha. Eu geralmente uso meu celular para gravar vídeos que mostram o interior do navio e detalhes da manobra e uma câmera no capacete para gravar embarques e desembarques. Eu faço os vídeos não para ter seguidores, faço porque sou fascinado pela profissão”.

Nas postagens ele prefere não usar termos técnicos do setor marítimo para que as pessoas entendam. “Em vez de falar boreste, por exemplo, eu falo à direita e acho que isso facilita”.

Entre as experiências marcantes desses 12 anos foram duas manobras com visibilidade zero, só com radar. “Sabendo o que você está fazendo passa a segurança para o comandante. Uma vez saindo do Terminal Integrador Portuário Luiz Antonio Mesquita (TIPLAM), em Cubatão, com cinco minutos o nevoeiro encobriu tudo, eu não enxergava nem a proa do navio. Só voltamos a enxergar em frente à Praticagem, mais de duas horas depois”.

Quando fala da profissão, se entusiasma: “Sou fascinado pela dimensão das coisas, navio com quase 370 metros, você pensa num prédio com mais de 120 andares na água, um peso de 150, 180 mil toneladas, alguns podendo passar de 300. Muitos desafios, muita coisa acontecendo, fazer giro, buscar alternativas, às vezes tem que pensar rápido. Na aviação tudo é muito mais instantâneo. Só que nesse nosso mundo no mar, às vezes aquilo que vai acontecer dali a 10 minutos já não tem mais como evitar, tem que se antecipar até para diminuir a velocidade ou ficar dez minutos assistindo um filme de terror sem ter o que fazer”.

Atualmente, Adriano divide a moradia entre Santos e São José do Rio Pardo. “Minha mãe estava se sentindo muito sozinha, meus irmãos moram em outras cidades. E como sou o único solteiro, fico muito por lá para fazer companhia sempre que eu posso”.

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