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Paula Bispo de Santana, de 45 anos, atua há 20 no setor portuário, sempre exercendo cargos operacionais (Divulgação/DP World Santos) 

Região Sudeste

“Estou provando que a mulher pode fazer, que tem força e capacidade”

10 de outubro de 2022 às 9:00
Bárbara Farias Enviar e-mail para o Autor

Paula Bispo de Santana é a primeira operadora de costado da DP World Santos e do Porto de Santos

A paixão pela área operacional no setor portuário fez Paula Bispo de Santana entrar para a história. Aos 45 anos, ela é a primeira mulher a exercer a função de operadora de costado no Porto de Santos (SP), uma atividade popularmente conhecida como capatazia. Atualmente, Paula é funcionária da DP World Santos, do Grupo DP World (Dubai Ports World), cujo terminal está instalado na margem esquerda do complexo portuário, lado de Guarujá.     

Há 20 anos trabalhando em terminais no Porto de Santos, Paula ingressou na DP World há dois e durante todo esse período foi assistente de operações. Em setembro, assumiu o cargo de operadora de costado cuja função consiste em fazer a atracação e a desatracação de navios, amarrando-os ao cais, além de retirar e colocar as chamadas “castanhas” (peça que une as vigas dos contêineres), colocar cabos de aço, ganchos, entre outros, em contêineres superdimensionados ou cargas soltas. Também apoia na retaguarda, conduzindo empilhadeiras de pequeno porte no cais, quando necessário, para transportar materiais e ferramentas.

Em entrevista ao BE News, Paula Santana conta um pouco de sua história, seu amor pelo porto e do orgulho que sente em ser a primeira mulher a exercer uma atividade delegada até então aos homens. 

Paula vem recebendo congratulações de colegas de trabalho, família e amigos, mas foram os elogios e o reconhecimento de seu filho, de apenas 14 anos, que a fazem se sentir realizada na profissão. 

Ao desbravar novos “territórios” antes afetos somente aos trabalhadores portuários homens, Paula já inspira outras mulheres a encontrarem nas atividades operacionais um novo rumo profissional.     

Há quanto tempo trabalha no setor portuário? E na DP World?

Estou no porto desde 2002 e entrei na DP World Santos em 2020. Antes, trabalhei em outro terminal, onde fui crescendo: comecei como vigilante terceirizada, depois controladora de tráfego, assistente de transporte, encarregada de transporte e assistente de gate. Na DP World Santos, meu início foi como assistente de operações e agora estou como operadora de costado.

Você sempre atuou em funções operacionais na área portuária ou também já exerceu atividade no setor administrativo, onde a participação feminina é maior?

Nunca atuei no setor administrativo, estive sempre no operacional.

Como se sente sendo a primeira mulher operadora de costado do Porto de Santos, o maior do Brasil e da América Latina?

Tem sido uma felicidade tremenda e me sinto orgulhosa! Nunca imaginei chegar em um setor totalmente masculino e conseguir essa posição. Também foi uma alegria passar no processo seletivo interno do terminal. Eu vejo muito orgulho por essa conquista nas pessoas que me conhecem, na minha família e, principalmente, no olhar do meu filho.

Por que você escolheu atuar na área operacional do porto?

Eu nunca me imaginei trabalhando no administrativo. Gosto muito do dinamismo da área operacional, de conhecer pessoas e de estar no dia a dia. Nesta nova função, sinto ainda mais prazer, porque eu posso mostrar para todo mundo a minha capacidade. Hoje, estou provando que a mulher pode fazer, que ela tem a força e a capacidade.

Você auxiliará nas operações de carga e descarga de navios e caminhões no terminal. Você gosta dessa atividade? Como se sente realizando esta função?

Gosto porque é um trabalho dinâmico, todo dia é diferente. É por isso que gosto tanto da área operacional. Uma hora você está tirando castanha, depois atracando navio, montando equipamento… todo dia eu aprendo algo novo.

Exercer uma atividade historicamente desempenhada por homens é uma forma de provar que as mulheres também podem realizá-la com a mesma eficiência?

Concordo. Meu principal desafio é a questão da força física. E eu não desisto, eu vou até o limite. Hoje, eu provo para todo mundo que eu consigo, que eu sou capaz. Mas tem que ter força de vontade. Quando comecei na função, os homens foram abertos à minha chegada, mas eu tinha medo de ser tratada com preconceito e que eles achassem que eu era muito delicada por ser mulher. Hoje, temos uma relação muito tranquila na qual todos eles me ensinam e me tratam como igual.

Você sente que está abrindo caminhos e inspirando outras mulheres a ingressarem no setor portuário?

Sim. É muito legal, pois estou sendo reconhecida por muita gente, inclusive mulheres que me falam: “Eu quero conseguir, você está realizando um sonho que eu tenho”. No próprio terminal, tenho encontrado mulheres de outros setores que agora querem participar do processo interno. Pessoas de outras empresas também têm me abordado, me param e dizem: “Também vou tentar”. E eu digo: “Você consegue”. A mulher consegue tudo o que ela quiser, é só ter força de vontade, se qualificar, correr atrás, arriscar e tentar. No salão de beleza, encontrei uma moça que me reconheceu e disse: “Tenho medo de arriscar e sair de onde estou e ir para o porto, mas por sua causa, eu vou arriscar”. Recebi muitas mensagens bonitas de mulheres se sentindo orgulhosas de saber que elas podem tentar. A gente pode chegar onde desejar, porque dá certo. Sou muito grata à oportunidade que a empresa me deu, porque eu nunca imaginei que iria entrar nessa área e ter essa abertura de ir para um setor composto por homens há muitos anos. Tive o apoio dos meus gestores e do RH (setor de Recursos Humanos) e estou muito feliz com isso.

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