O ponto de partida do estudo seria a Bahia, com suas conexões já existentes no Matopiba e no Sealba, região formada por Sergipe, Alagoas e Bahia (crédito: Divulgação/CNA)
Região Nordeste
Estudo vai avaliar corredores logísticos do Nordeste
Levantamento visa melhorar eficiência do escoamento de grãos movimentados pelos portos da região
Para melhorar a eficiência do escoamento de grãos movimentados pelos portos do Nordeste, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), as federações de agricultura dos estados e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estão discutindo uma proposta de estudo para fazer um diagnóstico dos corredores logísticos do Nordeste. Segundo a assessoria da Conab, ainda não há cronograma para o envio da proposta.
O assunto foi tema da reunião da Comissão Nacional de Logística e Infraestrutura da CNA, no último dia 7. Durante o encontro, o superintendente de Logística Operacional da Conab, Thomé Luiz Freire, disse que um dos motivos para a execução do estudo é a relevância da produção e exportação de soja, milho e algodão oriundos de Matopiba, região formada pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
Na safra 2020/2021, os estados foram responsáveis por produzir 16 milhões de toneladas de soja e 8 milhões de toneladas de milho. De acordo com dados do Comexstat, sistema para consultas e extração de dados do comércio exterior brasileiro, o Porto do Itaqui (MA), exportou 7,8 milhões de toneladas de soja no ano passado Já o porto de Salvador (BA) embarcou cerca de 3 milhões de toneladas.
Segundo Thomé, os principais objetivos do estudo são dimensionar o mercado de grãos do Matopiba; estimar perspectivas de crescimento do agro, com foco em soja, milho e algodão; fazer um diagnóstico sobre os atuais gargalos operacionais e logísticos; e sugerir parâmetros para projetos de infraestrutura de armazenagem, portuária e equipamentos ferroviários que atendam o mercado agropecuário da região.
O ponto de partida do estudo seria a Bahia, com suas conexões já existentes no Matopiba e Sealba, outra região de alto potencial agrícola no Nordeste, formada pelos estados de Sergipe, Alagoas e Bahia.
“A proposta é acompanhar as estruturas que estão sendo criadas na Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol), que atravessa o estado, ligando a Ferrovia Norte-Sul aos portos de Ilhéus, Itaqui e Porto Sul, além da continuação dos investimentos nas rodovias BR-020 e BR-242, estabelecendo campos de interesse para o avanço do agro”, explicou o superintendente de Logística Operacional da Conab.
A BR-020, citada por Thomé, é uma rodovia federal radial que começa em Brasília e segue até Fortaleza (CE). Já a BR-242, ou Rodovia Milton Santos, se estende da Bahia até o Mato Grosso, no município de Sorriso, e carece de pavimentação em alguns trechos.
O presidente da Comissão e da Federação da Agricultura e Pecuária da Paraíba (Faepa-PB), Mário Borba, destacou que o estudo é uma demanda antiga do setor e também falou sobre a necessidade de conclusão das obras de algumas rodovias que passam pela região, entre elas a BR-020.
“A conclusão dessa rodovia é muito importante para a região do Semiárido, onde a produção de grãos e a pecuária têm crescido nos últimos anos. Precisamos unir esforços do setor para discutir formas de como melhorar a infraestrutura e logística e atender à necessidade do Nordeste”, disse Borba, que também é vice-presidente da CNA.
Ferrogrão
Outro tema discutido no encontro foi o projeto da Ferrogrão, ferrovia que vai conectar Mato Grosso a terminais portuários no Pará, reduzindo os custos logísticos de transporte da produção agropecuária nas regiões Norte e Centro-Oeste. Pelo projeto, são 933 km de extensão, ligando Sinop (MT), maior centro produtor de grãos do País, a Miritituba (PA), onde estão os terminais de exportação.
Na reunião, a diretora de operações da Hidrovias do Brasil, Gleize Gealh, falou sobre a importância da ferrovia para aumentar o escoamento de grãos para os portos da região Norte, reduzindo a concentração do Sudeste. Segundo ela, as exportações de grãos de Mato Grosso devem dobrar em 2030.
“Se a Ferrogrão não for concluída, esse escoamento será concentrado para os portos de Santos. Ou seja, a ferrovia é a única alternativa que garante ao Pará a relevância atual no cenário logístico brasileiro”, disse ela.
O projeto desta ferrovia aguarda julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) desde março do ano passado, em razão da Ação Direta de Inconstitucionalidade, movida pelo PSOL, que questiona a alteração dos limites da Floresta Nacional do Jamanxim, no Pará, para a construção da ferrovia e pede a suspensão do processo de implantação do equipamento.
A CNA participa do julgamento da ADI como amicus curiae (expressão em latim utilizada para designar uma instituição que tem por finalidade fornecer subsídios às decisões dos tribunais). O assessor jurídico da entidade, Rodrigo Kaufmann, disse que o relator da matéria é o ministro Alexandre de Moraes, que concedeu liminar a favor da suspensão do processo.
O investimento estimado pelo Governo Federal para a Ferrogrão é de R$ 8,5 bilhões – que pode chegar, segundo projeções de mercado, a R$ 13 bilhões. O prazo de concessão seria de 69 anos e a expectativa é transportar 51 milhões de toneladas até o trigésimo ano de operação.
Porém, especialistas alegam dificuldades para que o projeto saia do papel, já que o traçado passa pela região amazônica, gerando entraves ambientais, além de estar em área sujeita a alagamento por pelo menos cinco meses do ano. Outra questão apontada seria a pouca atratividade financeira aos possíveis investidores.