Autoridades e especialistas do setor de infraestrutura e sustentabilidade participaram da solenidade de abertura do InfraESG Talks, realizado na Arena B3, na capital paulista. Foto: Divulgação/Grupo Brasil Export
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Executiva do BID reforça papel do setor privado na infraestrutura
Paola Arrunategui Martinez falou sobre o assunto na solenidade de abertura do InfraESG Talks, em São Paulo
“O Brasil enfrenta uma lacuna de financiamento estimada entre 2% e 2,5% do PIB (Produto Interno Bruto) ao ano para alcançar padrões adequados de infraestrutura”. A afirmação foi de Paola Arrunategui Martinez, chefe de operações do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), durante a solenidade de abertura do InfraESG Talks, realizado na Arena B3, em São Paulo, na quinta-feira (28). Durante o evento pelo Grupo Brasil Export em parceria com a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), ela destacou o papel decisivo do setor privado, que “desempenha um papel crucial, especialmente por meio de concessões e parcerias público-privadas (PPPs)”.
O PIB do Brasil em 2023 foi de aproximadamente R$ 10,8 trilhões. Com base nessa informação, o valor mínimo de investimento para preencher a lacuna anual de financiamento mencionada pela executiva do BID seria algo em torno de R$ 217 bilhões.
O BID destinou, nos últimos anos, mais de R$ 5 bilhões ao modal de transportes, incluindo rodovias e mobilidade urbana. Paola informou que a instituição se coloca à disposição para apoiar a implementação do plano de sustentabilidade da ANTT, aprovado pela diretoria colegiada na quinta-feira. “Queremos contribuir com nossa experiência em modelos de financiamento inovadores”, disse.
“Na Colômbia, desenvolvemos um projeto a partir da emissão de títulos sociais. A Rodovia Rumichaca-Pasto mobilizou US$ 800 milhões em financiamento social, comprovando o potencial do mercado de capitais para impulsionar projetos sustentáveis”, contou Martinez.
O Programa de Sustentabilidade da ANTT define nove Parâmetros de Desempenho (PDS) que visam monitorar e avaliar as ações ambientais e sociais das concessões de rodovias e ferrovias federais. Esses critérios abordam desde a implementação de políticas sustentáveis até a proteção dos trabalhadores, da saúde pública e da segurança das comunidades. Também são focados na conservação do meio ambiente, na preservação de bens culturais e na adaptação da infraestrutura às condições climáticas, além de garantir a eficiência no uso de recursos e a minimização de impactos negativos.
O novo regulamento será adotado tanto nos contratos de infraestrutura rodoviária e ferroviária que forem celebrados futuramente quanto nos que já estão em andamento, caso a empresa responsável escolha aderir ao Programa.
Rafael Vitale, diretor-geral da ANTT, destacou o esforço do órgão em acompanhar as transformações no setor de infraestrutura, enfatizando que a agência tem se dedicado a analisar as tendências que “estão moldando as concessões rodoviárias e ferroviárias, bem como os transportes de carga e passageiros, com foco também em questões relacionadas às finanças verdes”.
Cloves Benevides, do Ministério dos Transportes, enfatizou a importância de desenvolver estratégias de sustentabilidade que não apenas enfrentem os desafios ambientais, mas também assegurem a viabilidade financeira e a concretização de resultados palpáveis.
O subsecretário de Sustentabilidade mencionou que três planos setoriais estão sendo discutidos no âmbito do Plano Clima: um plano de mitigação, um de adaptação e a implementação de uma taxonomia sustentável para o segmento de transportes.
Segundo Benevides, “nossa construção coletiva, construída a partir de parâmetros objetivos e evidências que possam direcionar o futuro, nos colocará em uma posição de vanguarda, porque temos vantagem competitiva, condição tecnológica e muita boa vontade”.
Modal hidroviário
A diretora do Programa de Sustentabilidade do Ministério de Portos e Aeroportos, Larissa Amorim, informou que, pela primeira vez, o órgão realizará o leilão de hidrovias no próximo ano. O certame será voltado à concessão da hidrovia do Rio Madeira (RO/AM), com previsão de realização para o segundo trimestre de 2025.
Larissa detalhou que estão sendo incorporadas às estruturas dos contratos as diretrizes ESG (sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança).
“Há uma preocupação socioambiental muito grande com esse projeto, seja pela interferência com as hidrelétricas, com as comunidades ribeirinhas, com a questão da erosão natural no leito do rio e com a segurança da navegação. Tudo isso foi muito detalhado e avaliado quando estruturamos essa concessão”, afirmou.
Uma das inovações é a previsão de um fundo para eventos climáticos extremos. “Dentro do nosso modelo, precisamos prever instrumentos de controle para que, quando esses eventos ocorram, os danos — ambientais, econômicos ou sociais — sejam os menores possíveis”, finalizou.
A solenidade contou também com a presença de Felipe Queiroz, diretor da ANTT, e Guilherme Peixoto, superintendente de Licitações da B3.