O projeto proposto pela Autoridade Portuária em Cubatão, especificamente na Ilha do Tatu, prevê a ocupação de uma área de 106.637 m² e com capacidade para 500 vagas até 2028. Foto: Rodrigo Silva
Região Sudeste
Expansão logística no Porto de Santos enfrenta resistência em Cubatão
Prefeitura e ambientalistas questionam proposta da Autoridade Portuária de construir condomínios para organizar o fluxo de caminhões
A Autoridade Portuária de Santos (APS) anunciou um amplo projeto para a construção de quatro novos condomínios logísticos na região da Baixada Santista (SP), visando organizar o fluxo de caminhões na região. Entre os empreendimentos está o pátio regulador planejado para a área da Ilha do Tatu, em Cubatão, cujo projeto tem gerado intensos debates entre a administração portuária e a prefeitura local.
Os quatro projetos estão distribuídos por Cubatão, Santos, São Vicente e Guarujá, com capacidade para abrigar mais de 2.800 caminhões em uma área total de 719 mil metros quadrados. A prioridade da APS é instalar esses espaços ao longo das principais rotas de caminhões que acessam o Porto de Santos, garantindo maior fluidez ao trânsito. O presidente da APS, Anderson Pomini, destacou que o projeto é essencial para evitar um colapso na mobilidade urbana da região. “Temos que ser responsáveis e pensar no futuro do Porto nos próximos anos e, ao mesmo tempo, organizar o tráfego de caminhões para garantir a fluidez do trânsito nas cidades da região”, declarou.
O projeto em Cubatão, especificamente na Ilha do Tatu, é um dos mais polêmicos. Previsto para ocupar uma área de 106.637 m² e com capacidade para 500 vagas até 2028, o pátio regulador será operado pela Condilog, empresa vencedora da licitação. O contrato de concessão, com duração de 35 anos, prevê um investimento total de R$ 3 bilhões, incluindo a construção de um Parque Ecológico denominado Guará Vermelho na área de preservação. No entanto, a prefeitura e representantes da sociedade civil têm criticado a localização do projeto, alegando impactos ambientais e sociais negativos.
O prefeito de Cubatão, Cesar Nascimento (PSD), e moradores manifestaram preocupação com o fato de a área escolhida ser uma Zona de Preservação Permanente. Associações ambientalistas alertam para a supressão de vegetação nativa e o agravamento dos problemas de alagamento já existentes na região. “Existe um problema local já, que são os alagamentos em função das chuvas constantes. Nosso receio é que a construção desse pátio amplifique esse problema”, afirmou Leandro Silva de Araújo, diretor da Sociedade de Melhoramentos do bairro Jardim Casqueiro.
Outra crítica levantada pela Prefeitura de Cubatão é o baixo potencial de geração de empregos e desenvolvimento econômico do projeto. Em resposta, Pomini defendeu que a iniciativa beneficiará a economia da cidade, destacando que “sempre que o porto chega, ele estabelece as contrapartidas”. A APS estima que o empreendimento gerará 550 empregos diretos e arrecadará R$ 24,2 milhões em ISS e R$ 1,5 milhão em IPTU por ano.
Diante das críticas, representantes da Prefeitura de Cubatão propuseram a construção de um Porto Seco como alternativa ao projeto do pátio regulador. O objetivo seria aumentar a capacidade logística da cidade sem comprometer as áreas de preservação ambiental. “A Autoridade Portuária se nega a fazer o diálogo correto com a Prefeitura e com os cidadãos sabendo que nós temos áreas dentro do município onde poderiam ser expandidas essas atividades de retroporto”, criticou Fabrício Lopes, secretário de Indústria, Porto, Emprego e Empreendedorismo de Cubatão.
Impacto minimizado
Pomini garantiu que o impacto ambiental será minimizado, pois as intervenções serão realizadas apenas em parte da área de preservação. Ele reforçou que “instalado ou não, os caminhões já trafegam por aquele local. O que a gente pretende organizar”. O presidente da APS se comprometeu a manter o diálogo com a prefeitura e anunciou uma reunião com o prefeito nos próximos dias para discutir as demandas da comunidade e possíveis ajustes no projeto.
Apesar do embate, a APS segue firme no compromisso de expandir a infraestrutura do Porto de Santos para acompanhar o crescimento do tráfego de cargas. A prefeitura de Cubatão, por sua vez, avalia a possibilidade de judicializar a questão caso não haja consenso sobre a localização do pátio regulador. “A Prefeitura está de portas abertas para receber o presidente da Autoridade Portuária, os diretores que ele achar necessário vir dialogar conosco, para que a gente não tenha que tomar nenhuma atitude mais drástica”, finalizou Lopes.