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“Hidrogênio verde é a grande oportunidade do Brasil”

Atualizado em: 15 de junho de 2024 às 10:24
Ivani Cardoso Enviar e-mail para o Autor

engenheiro Jurandir Picanço

“O Brasil tem um potencial de energias renováveis gigantesco e o hidrogênio verde é nossa grande oportunidade, poderá ser produzido em larga escala”. A frase otimista é do engenheiro Jurandir Picanço, um dos maiores especialistas brasileiros no tema, consultor de Energia da Federação das Indústrias do Estado do Ceará. Seu nome foi escolhido para o Troféu do Sindienergia/CE que homenageia personalidades do setor de energia no Ceará.

Com 59 anos de atuação no setor de energia, em diversas atividades exercidas esteve ligado às energias renováveis, sendo um dos responsáveis pelas primeiras iniciativas de desenvolvimento das energias eólica e solar, e agora, do hidrogênio verde no Ceará.

Um grande passo foi dado essa semana com a aprovação do projeto de lei que estabelece o marco regulatório para a produção do hidrogênio de baixa emissão de carbono e determina incentivos fiscais e financeiros para o setor. A proposta segue agora para a análise no Plenário do Senado. “Esse projeto na sua tramitação foi muito melhorado. Será ótimo que seja aprovado com brevidade. Temos vários investidores interessados na nossa produção de hidrogênio verde, mas sabemos que nenhum deles vai tomar qualquer decisão sem o marco legal do hidrogênio. Qual o empresário que vai fazer um investimento de grande monta sem segurança legal e sem saber quais as regras do jogo? Felizmente o processo está avançando e acreditamos que em breve teremos o nosso marco legal”, ele espera.

O uso do hidrogênio é apontado como uma solução para desacelerar o aquecimento global e reduzir impactos das mudanças climáticas, com eficiência energética similar a de combustíveis fósseis. “O Brasil tem potencial de energias renováveis gigantesco, o hidrelétrico, que é o que predomina na nossa matriz elétrica, um potencial de biomassa, muito maior de energia eólica, e um potencial quase inesgotável de energia solar. A Europa não tem potencial de energias renováveis para atender suas demandas atuais, não tem o vento, não tem o sol e nem as mesmas condições que temos aqui”, Jurandir esclarece.

O hidrogênio é abundante, é limpo,  está no ar, na água e existem inúmeros processos que podem produzir o hidrogênio com baixa emissão de carbono, que não vai comprometer o meio ambiente, garante o consultor. “O principal é produzir energia renovável a partir da eletrólise. A energia hidrelétrica tem sido difícil ampliar porque tem restrições ambientais, conflitos com áreas indígenas. A grande chance é a energia eólica e solar”.

Jurandir nasceu em Fortaleza e se formou em Engenharia Mecânica e Elétrica.

“Sempre tive tantas possibilidades no setor de energia, a vida foi encaminhando minha carreira, nunca pensei em outra alternativa. Já estou há muitos anos no segmento de energia, e particularmente no segmento de energia renovável. Tudo aconteceu por acaso, fui levado a esse tema e tive a possibilidade de investigar prematuramente que o hidrogênio verde é o futuro”.

O Ceará está à frente desse processo, foi o primeiro a se preocupar em criar um ambiente para o desenvolvimento do hidrogênio verde. “Foi feito um acordo entre Governo do Estado, Federação das Indústrias, Universidade Federal do Ceará e o próprio Complexo de Pecém para dar apoio a empreendedores privados que quisessem desenvolver o seu projeto no Ceará. Temos condições muito favoráveis e logo muitos se interessaram em vir para cá, cabe ao Governo propiciar as condições necessárias para que os projetos aconteçam”.

A maior parte dos empreendedores é de estrangeiros, e a inclinação pelo Brasil aconteceu a partir de fevereiro de 2021, em plena pandemia, e não parou mais. “Já temos 36 memorandos de entendimento, eles não têm compromisso de fazer investimentos, por enquanto seriam só estudos, mas alguns já avançaram e já alugaram áreas no complexo de Pecém, estão pagando aluguel para essas áreas, estão providenciando licença ambiental. O movimento não para”.

O Nordeste, segundo ele, tem a melhor oferta de energia eólica e de energia solar, com as condições de atender à demanda de hidrogênio da União Europeia, que terá que importar metade do hidrogênio de que precisam para descarbonizar os seus processos. No Complexo de Pecém, a produção estimada de hidrogênio verde deve chegar a um milhão de toneladas/ano em 2030, um potencial para atender a 25% da demanda de importação de Roterdã

Por enquanto, os governos estaduais do Nordeste estão comprometidos, como Ceará, Piauí, Bahia, Rio Grande do Norte, mas há uma pedra no caminho:  “A nível federal eu não vejo tanto comprometimento e determinação, tem o lobby do óleo e gás pressionando. É um processo que beneficiará o setor de energia renováveis e a instalação é quase semiautomatizada, não vai empregar um número grande de pessoas. Os empregos ocorrerão em toda cadeia produtiva desde os parques eólicos e solares á produção de derivados de hidrogênio. No mundo todo são poucos os fabricantes de eletrolisadores é um dispositivo que permite produzir hidrogênio por meio de um processo químico (eletrólise) capaz de quebrar as moléculas da água em hidrogênio e oxigênio através da eletricidade. Os principais estão na Alemanha e na China, provavelmente teremos que importar porque o Brasil não tem essa indústria, quiçá no futuro teremos”, acredita.

Estudando energias renováveis desde a década de 70, Jurandir conta que a participação em um programa de visitas a uma feira tecnológica do setor na Alemanha, em 2016, despertou seu interesse: “Eu me deparei com pesquisas sobre hidrogênio e constatei que seria o vetor adequado para descarbonizar vários segmentos industriais e de mobilidade. Quando surgiram as notícias que a União Europeia queria importar o hidrogênio eu despertei para as nossas condições e percebi que as nossas condições são as melhores do mundo em função de estudos internacionais de vários consultores. Na irradiação solar, os piores locais do Brasil ainda superam os melhores da Alemanha”.

Agora é preciso tempo para consolidar o futuro: “ O que está previsto é que esses projetos devem se realizar a partir de 2028 .Temos uma condição especial que é o Complexo de Pecém, administrado pela  Companhia Industrial e Portuária do Pecém – CIPP que tem zona de processamento exportação (ZPE), área industrial e um porto em expansão. É administrado em parceria com o Governo do Ceará e o Porto de Roterdã e está se preparando para ser o principal porto de hidrogênio verde para a Europa, o Ceará é uma vitrine”.

Jurandir mora em Fortaleza e é apaixonado pela região: “É  uma cidade que agrada a todos, temos uma beira-mar que é local de excelência. Eu faço caminhadas pela manhã e fico encantado com o movimento de pessoas jogando, correndo, nadando, é um movimento, tem feirinhas para os turistas. Saindo de Fortaleza tem a praia do Porto das Dunas, Jericoacoara, muitos hotéis e restaurantes, é um paraíso. E agora a grande procura é o kitesurf, praticado na água utilizando a força do vento, quer melhores condições do que aqui?

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