Setor hidroviário ganhará novo marco legal
Região Sudeste
Hidrovia Tietê-Paraná opera com menos da metade dos comboios
Operações foram retomadas em 15 de março, mas, das 27 embarcações que atuam nos dois rios, apenas 13 estão em atividade
Após retomar suas operações em 15 de março, a Hidrovia Tietê-Paraná opera com menos da metade dos comboios – de um total de 27 embarcações, apenas 13 estão trabalhando. Nem todas as empresas reiniciaram suas atividades, processo que só deve ocorrer em junho. As informações são do Departamento Hidroviário do Estado de São Paulo (DH).
O atual limite máximo de calado na hidrovia, 2,90 m, propicia que os comboios transportem uma quantidade maior de carga, até 5.670 toneladas. Em março, a profundidade ainda era de 2,40 m, o que possibilitava o transporte de 4 mil toneladas por comboio. Esse aumento no nível da água já era esperado devido à subida dos níveis dos reservatórios de Ilha Solteira e Três Irmãos, verificada em 1º de abril.
Para que as operações aconteçam sem riscos, o Rio Tietê, em seu ponto de partida, precisa ter, no mínimo, 2,20 metros de profundidade.
A navegação pela Hidrovia Tietê-Paraná ficou suspensa por sete meses, desde o dia 26 de agosto do ano passado, devido à crise hídrica e ao pedido do Governo Federal para usar a água dos reservatórios do Rio Tietê para produção de energia. Com isso, a água foi desviada para as hidrelétricas, reduzindo a profundidade da hidrovia e inviabilizando a navegação.
Essa não foi a primeira vez que o transporte pela via fluvial foi interrompido. Entre 2014 e 2016, quando aconteceu uma das maiores crises hídricas do estado de São Paulo, a operação pelo rio foi paralisada por 20 meses. Em quase dois anos sem movimentação, o prejuízo estimado foi de R$ 1 bilhão às empresas de navegação, além da perda de 1.600 empregos.
Dessa vez, 80% dos trabalhadores do Porto de Pederneiras, no interior de São Paulo, foram demitidos e o prejuízo estimado é de R$ 3 bilhões para o setor, segundo o Sindicato dos Armadores de Navegação Fluvial do Estado de São Paulo (Sindasp), entidade ligada às empresas que operam na hidrovia.
O Porto de Pederneiras é importante porque é a partir dele que, anualmente, milhões de toneladas de matéria-prima e mercadorias vindas do Centro-Oeste partem para todo o Centro-Sul do País, principalmente para os portos de Santos (SP) e Paranaguá (PR), onde são exportadas.
Importância econômica
Em 2020, as barcaças transportaram mais de 2,1 milhões toneladas pela Hidrovia Tietê-Paraná; no ano anterior, foram mais de 2,5 milhões de toneladas. A expectativa para 2021 era de aumento de 10% a 15% em relação aos anos anteriores, mas a paralisação não permitiu o crescimento do setor. Para este ano, uma nova estimativa em relação à movimentação de cargas deve ser divulgada em junho.
A Hidrovia Tietê-Paraná tem 2,4 mil quilômetros de extensão, sendo 800 quilômetros dentro do estado de São Paulo. Ela é o principal corredor de escoamento da produção agrícola dos estados do Mato Grosso, Goiás, Minas Gerais, Paraná e São Paulo, região que soma 76 milhões de hectares e onde é gerada quase a metade do Produto Interno Brasileiro (PIB).
A via fluvial é integrada às malhas rodoviária e ferroviária regionais, originando um grande sistema de transporte multimodal – uma alternativa de corredor de exportação, ao conectar áreas de produção aos portos marítimos, e no sentido do interior, servindo os principais centros do Mercosul.
Nestes sete meses sem a Tietê-Paraná, toda a produção agrícola foi transportada pelas rodovias, o que tornou a operação mais cara e mais poluente. Por exemplo: um comboio de quatro barcaças viaja com 6 mil toneladas de carga, enquanto que, para transportar essa mesma quantidade por terra, são necessários 162 caminhões.
As principais cargas que passam pela hidrovia são o milho, a soja, óleo, madeira, carvão, cana de açúcar e adubo.
Melhorias
Nos últimos 50 anos, o Governo do Estado de São Paulo implantou, nos rios Tietê e Paraná, barragens equipadas com eclusas para permitir que as embarcações vençam os desníveis provocados pelos aproveitamentos energéticos. Também abriu canais para melhorar as condições de navegação e sinalizou a rota fluvial.
Esse sistema hidroviário é administrado, no Rio Tietê, pelo Departamento Hidroviário (DH), da Secretaria dos Transportes do Estado de São Paulo, e, no Rio Paraná, pela Administração da Hidrovia do Paraná (AHRANA), vinculada ao Ministério dos Transportes.