Participantes da missão técnica do Brasil Export visitaram o megaterminal PTP, 15o maior complexo marítimo do mundo em movimentação de contêineres (crédito Leopoldo Figueiredo)
Singapura
Hub ports serão cada vez mais importantes, diz CEO da PTP
Marco Neelsen se reuniu com empresários do setor portuário e de navegação brasileiro na Malásia durante missão do Brasil Export
Os portos concentradores de carga – os “hub ports” – e as operações de transbordo serão cada vez mais importantes para a navegação mundial e a atividade portuária, principalmente diante da intensificação das mudanças climáticas. A análise é de Marco Neelsen, CEO do Pelabuhan Tanjung Pelepas (PTP), décimo-quinto maior complexo portuário do mundo e o segundo da Malásia em operação de contêineres. Ele falou sobre suas perspectivas para o setor durante reunião com empresários brasileiros que participam da missão internacional do Brasil Export, durante visita às instalações da PTP nessa quinta-feira, dia 9.
A missão internacional do Brasil Export levou mais de 80 empresários e autoridades dos segmentos de navegação e portuário brasileiros em visitas a terminais e empresas de infraestrutura de Singapura e da Malária nesta semana. A programação teve início no domingo, dia 5, e termina hoje, dia reservado para reuniões particulares entre executivos do Brasil e dos países asiáticos.
Na quinta-feira, o destaque da programação foi a visita ao complexo da PTP, localizado no sul da Malásia, no distrito de Johor Bahru, nas proximidades da fronteira do país com Singapura. Construído em 2000 e, atualmente, administrado a partir de uma parceria entre o grupo malaio MMC e a APM Terminals, da dinamarquesa Maersk, o porto se destaca por suas operações de transbordo e pelo rápido crescimento, tendo movimentado 10,5 milhões de TEU (sigla de Twenty-feet Equivalent Unity, unidade equivalente a um contêiner de 20 pés) no ano passado, resultado que o levou a conquistar a 15a posição no ranking dos maiores complexos marítimos do mundo na movimentação de contêineres.
O grupo brasileiro foi recebido por Neelsen, que destacou os planos do complexo para os próximos anos, sua estratégia operacional e as perspectivas para a navegação e o setor portuário mundial. Questionado sobre os principais desafios desses mercados, ele afirmou que contornar os impactos logísticos das mudanças climáticas já é e continuará sendo a grande meta deste segmento.
“O setor de navegação continuará crescendo e a concorrência nele também. Nesse cenário, as amadoras continuarão lutando para ampliar suas receitas, reduzindo perdas. E a grande preocupação são os impactos das mudanças climáticas, com suas tempestades, ressacas, tufões cada vez mais frequentes. E isso não é mentira, está acontecendo. E quando ocorre, temos portos fechando por cinco, seis dias, uma semana ou mais, com impactos sérios na cadeia logística. São perdas preocupantes”, explicou o executivo.
Neelsen lembrou dos reflexos, para a cadeia logística global, do fechamento do Porto de Shanghai (China), o maior do mundo em movimentação de contêineres, por meses durante a epidemia de covid-19. “Com o porto parado, cargas ficaram presas, navios perderam escalas e o setor sabe que deve evitar isso.
A solução para mitigar os impactos das mudanças climáticas na navegação passa pela consolidação dos portos concentradores, que devem ser complexos localizados em áreas do planeta menos propensas a fenômenos climáticos intensos. Esses portos vão concentrar as cargas de uma região, facilitando as operações das companhias de navegação. Esses complexos vão receber os grandes navios ligando suas regiões a outros pontos do globo e, ainda, as embarcações menores, trazendo e levando as cargas para as áreas próximas. “Esse é um modelo que terá sua importância cada vez mais ampliada. Não estamos falando apenas de uma redução dos custos logísticos, mas também sobre como evitar que o fechamento de um porto devido às condições climáticas não afete muito a cadeia de suprimentos, que deixam de escalar em várias localidades atrás das mercadorias para se fixar nos portos concentradores, em áreas mais seguras”, afirmou.
O CEO do TPT explicou que, caso uma tempestade feche um porto menor, suas cargas ficarão retidas nele, mas isso terá um impacto inferior na logística global. “Com o maior volume de cargas estando nos portos de transbordo (concentradores), o transporte continuará. Uma parte das cargas poderá ser afetada naquela região, pois estará presa com o fechamento de um porto (secundário), mas a grande maioria continuará a ser movimentada”, disse.
Marco Neelsen também destacou os planos de crescimento da PTP. Com uma capacidade para movimentar 13 milhões de TEU por ano, o complexo malaio conta com um cais de 5,1 quilômetros e berços com 18,5 metros de profundidade, capazes de receber os maiores conteineiros em circulação no planeta, que transportam 24 mil TEU. E ja tem planos para amplia suas instalações, expandido sua faixa de cais por mais 13,75 quilômetros, o que elevará sua capacidade operacional para 54,15 milhões de TEU por ano.
Para garantir o crescimento de suas atividades e, principalmente, de sua eficiência, a PTP aposta em sistemas de gestão digitalizados. Atualmente, todas as suas operações são mensuradas digitalmente e programas de inteligência artificial buscam projetar as melhores condições para se reduzir perdas de tempo e performance na movimentação de cargas nos pátios e no cais e, também, no tráfego de navios entre as áreas de fundeio e os berços.
“Tudo é mensurado. Tudo são dados. Acompanhamos para saber como está nossa eficiência a cada momento, onde precisamos melhorar e, ainda, para prever onde teremos gargalos, onde temos de ter mais atenção. Tudo isso a partir dos dados que coletamos em tempo real”, destacou Neelsen.
Principal empresário de Cingapura recebe comitiva do Brasil Export
A agenda da missão internacional do Brasil Export nessa quinta-feira, dia 9, também contou com uma reunião de integrantes da comitiva com o empresário número 1 de Singapura, o CEO da Tee Yih Jia Food Manufecturing, Sam Goi (em destaque). Ele recebeu executivos brasileiros na sede de sua companhia e falou sobre seus negócios. A Tee Yih´Jia é a maior produtora de alimentos da ilha-nação asiática, especialista em rolinhos primavera e produtos derivados, destinados principalmente para a China e outros países do mercado asiático. Devido a sua ´projeção internacional, Goi, também conhecido como o rei do rolinho primavera, é o embaixador de Singapura no Brasil, cargo que ocupa há seis anos.