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Impacto ambiental é o maior desafio da Inteligência Artificial, diz professor
Mergulho
Quando o tema é Inteligência Artificial, as dúvidas são muitas. O professor Kleber Candiotto, Doutor em Filosofia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), conhece bem o assunto e diz que um dos maiores desafios é o ambiental. Nesta entrevista exclusiva, ele também comenta a dependência do Brasil no setor e acha que deveríamos temer mais a tendência de o ser humano fazer o uso inadequado da IA. Ele foi um dos palestrantes do IV Congresso Humanitas da PUCPR. Confira:
Precisamos temer a IA?
O que temos é uma tendência de potencialização de muitas atividades humanas que são consideradas perigosas para a organização social, questões ligadas à privacidade, novas modalidades de crimes, por exemplo, que a IA possibilita. Não é o medo da IA em si, mas deveríamos temer mais a tendência de o ser humano fazer o uso inadequado da IA.
Em que área estão os maiores avanços?
Fica difícil dizer qual área não vai ter um grande avanço com a IA, praticamente todos os setores terão avanços. Mas algumas destacam-se mais. Uma em especial é a área da Saúde, cada vez mais teremos uma contribuição enorme da IA em termos de oferecer exames mais precisos, diagnósticos mais precoces, possibilitando tratamentos cada vez mais eficientes. Outra área que teremos um grande avanço é a área da Educação.
Quais são os desafios?
São muitos. Mas eu gostaria de destacar um que é muito pouco mencionado, que é o desafio ambiental. Para você desenvolver mais a IA hoje e fazê-la expandir em termos não só de atuação, mas também de poder computacional, você precisa muito de recursos naturais, como energia elétrica, uso de água para refrigerar os grandes servidores que emitem muito calor durante a operação. E de materiais para construir sistemas artificiais que possibilitam a operação da IA, com a extração e migração de materiais que acabam causando um grande impacto ambiental. Esse desafio talvez seja um dos maiores, mas certamente é o que menos se fala hoje em dia.
O que fazer para evitar problemas com a IA?
Uma das grandes preocupações é sobre o poder das grandes corporações que detêm a operação, o desenvolvimento da IA. Estamos falando de big techs, que são trilionárias. Hoje, das 10 maiores empresas do mundo, só 3 não são do setor tecnológico. Uma das grandes questões é encontrar ferramentas jurídicas para diminuir esse poder e as decisões estarem um pouco mais nas mãos da sociedade e menos das grandes organizações.
Como está o Brasil nesse setor?
O Brasil não está tão bem em termos de desenvolvimento de IA, pois ela está sob comando das grandes big techs internacionais. Dependemos muito do poder público para o desenvolvimento de pesquisas. Até há pesquisas no setor privado, mas para questões muito específicas, não de desenvolvimento de grandes sistemas de IA ou de criação de grandes modelos de linguagem, como Chat GPT por exemplo. Estamos em um contexto em que somos muito mais colônias digitais, esse é um dos grandes problemas hoje, pois os nossos dados são de certa forma extraídos para treinar a IA e posteriormente venderem para nós.
O futuro não tem limites com a IA?
Acredito que tem limites. Um é o limite de material, de fonte de recursos para a operação da IA. A própria miniaturização dos chips está chegando num limite complicado. Para que haja aumento do poder computacional teremos que ir para uma computação quântica, que ainda é uma questão a ser desenvolvida e não se sabe como será esse desenvolvimento. E o segundo é em relação à estrutura de dados, os dados são produzidos, mas qual o limite de produção desses dados e o que isso efetivamente gera? Sempre haverá algum limite, a questão é que sempre haverá alguém querendo superar esse limite.
Quem são os maiores beneficiários?
É um ponto muito importante. Hoje temos a tendência de um aumento muito grande de desigualdade social, onde poucos se beneficiam muito, porque acabam sendo muito produtivos em detrimento de outros que vão perdendo capacidade de trabalho, seja intelectual ou braçal. Sendo o trabalho intelectual o mais atingido atualmente com o desenvolvimento da IA, pois a robótica não anda na mesma proporção que a IA, então nesse sentido o trabalho braçal, por incrível que pareça, é o que menos perde espaço. Quem ganha hoje são as grandes corporações, as poucas pessoas que saberão fazer bom uso da IA para gerar maior produção e riqueza. O grande problema que surge é a possibilidade de um aumento vertiginoso da desigualdade social.