Comandante Vanessa embarca mês que vem em sua primeira viagem oficial pela empresa
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Log-In contrata primeira comandante mulher na história da empresa
Lugar de mulher é onde ela quiser, inclusive à frente de um cargueiro percorrendo a costa brasileira. Para a operadora Log-In Logística, especializada em navegação de cabotagem, essa frase não poderia ser mais verdadeira, especialmente a partir do próximo mês, quando sua primeira comandante de navio, a oficial Vanessa Cunha dos Santos Silva, de 39 anos, embarcar e iniciar sua viagem de estreia pela empresa.
Vanessa foi contratada pela Log-In através do programa Navegar, projeto de recrutamento desenvolvido pela empresa e voltado exclusivamente para as profissionais marítimas. A iniciativa é pioneira no setor e tem como objetivo fomentar a presença feminina em cargos de liderança, especialmente nas áreas operacionais e de comando.
Na primeira edição do Navegar, no ano passado, foram oferecidas vagas nos dois postos mais altos na hierarquia de um navio: comandante e chefe de máquinas. Era a primeira vez que a empresa abria um processo seletivo para mulheres ocuparem essas posições.
Vanessa já era comandante de navio em outra empresa do ramo, a Transpetro, desde 2017. E quando soube do programa da Log-in, mandou seu currículo. Foi selecionada, passou por todas as etapas e conseguiu a contratação.
“O treinamento pelo Navegar começou em agosto. Fiz dois embarques acompanhada por outros comandantes e, em abril, assumo um navio”, conta.
A comandante deu seus primeiros passos rumo ao mar aos 19 anos, quando entrou para a Escola de Formação de Oficiais da Marinha Mercante (EFOMM), instituição de ensino superior militar administrada pela Marinha do Brasil e conhecida como Universidade do Mar. Segundo ela, esse caminho foi escolhido principalmente pelo retorno financeiro.
Hoje, de acordo com Vanessa, a parte mais difícil é ficar longe da família por tantos dias seguidos. Quando embarca, chega a passar 60 dias no mar. Para cuidar dos dois filhos, ela conta com a ajuda de seus pais e do marido, que também é comandante de navio.
Na Log-In, a oficial fará rotas de cabotagem, ou seja, navegará ao longo da costa brasileira, Mas ela já comandou navios em longo curso e chegou a ficar embarcada por seis meses. Quando está na função, lidera uma equipe de cerca de 20 pessoas, a maioria homens.
Em um mercado que, há até poucos anos, era exclusivamente masculino, Vanessa diz teve sempre de lidar com o machismo. “O machismo existe o tempo todo. Só pelo olhar de alguns, eu consigo sentir a indignação de ter uma mulher ocupando o maior cargo dentro um navio. Eles disfarçam e aturam, mas ainda é difícil aceitar ordens de uma mulher, tanto que já tive situações de indisciplina em viagem”, explica Vanessa.
Por outro lado, a comandante percebe um aumento no número de mulheres que trabalham embarcadas e ocupam diversas funções. “Já tive equipe com sete mulheres dentro de um navio. São enfermeiras, eletricistas, cozinheiras, mecânica, marinheira de máquinas. A cada dia, mais mulheres conquistam espaços em todas as áreas que envolvem a navegação”, conta.
PROGRAMA NAVEGAR
Andrea Simões, diretora de Gente, Cultura e Transformação Digital da Log-In, explica que a primeira edição do programa Navegar teve oito candidatas, sendo seis para a vaga de comandante e duas para a vaga de chefe de máquinas.
O programa foi iniciado em março do ano passado e dividido em etapas como: divulgação, seleção, testes online, entrevistas, dinâmica de grupo, entrevista com frota e diretoria e, por fim, a admissão. Em seguida, as participantes realizaram a integração entre as áreas. Após a parte teórica, elas embarcaram nos navios Log-In Endurance e Log-In Polaris, quando tiveram a oportunidade de acompanhar o dia a dia da tripulação durante sete meses.
Além da nova comandante, a Log-In contratou uma chefe de máquinas, que assumirá o posto oficialmente ainda neste semestre.
Nas últimas semanas, a empresa lançou a segunda edição do programa Navegar e recebeu mais de 500 inscrições. No entanto, poucos currículos estavam de acordo com a vaga. Quem foi selecionada, passa agora por diversas etapas, até a conclusão em abril e contratação em maio.
“A primeira edição trouxe uma nova visão para a companhia focada na diversidade. O programa tem um papel social muito importante. Vanessa é mulher, profissional, mãe, negra e a primeira comandante da Log-In. A expectativa é que o programa seja ampliado nos próximos anos e siga com o propósito de desenvolver e formar mais mulheres em cargos de liderança no mar”, comenta Andrea.
A iniciativa, de acordo com a diretora, tem servido de motivação e exemplo para outras mulheres, além de despertar o interesse pela carreira marítima com a possibilidade de alcançar o topo.
“Queremos incentivar e encorajar as mulheres, mostrando que é possível conciliar trabalho e vida pessoal, sendo mãe e construindo uma família, mesmo ficando 60 dias embarcadas”, conclui Andrea Simões.