Durante o feriado da Proclamação da República dezenas de ativistas se concentraram em frente à sede da Capitania dos Portos. Crédito: Divulgação/Porto de Suape
Região Nordeste
Manifestantes protestam contra atracação forçada de porta-aviões em Suape
Casco do antigo navio da Marinha está contaminado com amianto, substância tóxica e cancerígena
Durante o feriado da Proclamação da República, no último dia 15, dezenas de ativistas se concentraram em frente à sede da Capitania dos Portos (PE), no Bairro do Recife, munidos de faixas e cartazes com frases contra a atracação da embarcação que carrega o casco do antigo porta-aviões São Paulo, no Porto de Suape – possibilidade proposta pelo órgão na semana passada, via atracação arribada (forçada). O fundeio só não aconteceu porque a Justiça Federal proibiu.
O casco do antigo navio da Marinha está contaminado com amianto, substância tóxica e cancerígena, motivo pelo qual nenhum porto aceita recebê-lo. A suspeita é que existam ao menos 10 toneladas da substância, além de resíduos que podem ser radioativos.
Segundo a Marinha, a sucata foi vendida para desmanche a uma empresa turca e saiu do Rio de Janeiro com destino ao país em agosto, mas o rebocador que carrega partes do antigo porta-aviões foi impedido de passar pelo Estreito de Gibraltar após o Ministério de Meio Ambiente da Turquia suspender o consentimento para a importação do bem. O rebocador voltou ao Brasil e, desde então, segue vagando pelo Oceano Atlântico.
A última tentativa de atracação ocorreu na semana passada e seria em Suape, o que não ocorreu. Porém, o imbróglio segue e tem gerado preocupação em entidades representativas de empresas do segmento, de sindicatos de trabalhadores do ramo, de associações de pescadores e moradores, além de entidades do meio acadêmico e de pesquisa.
Todos vêm se pronunciando nos últimos dias, por meio de notas e e-mails, para repudiar a possibilidade de atracação do porta-aviões São Paulo no complexo portuário pernambucano.
“Estamos muito preocupados com o potencial perigo que o porta-aviões possa trazer ao meio ambiente. Todos já sabem da carga de amianto e que a embarcação foi pintada com cadmo, um elemento que pode conter radioatividade. Por isso, é importante que a sociedade pernambucana esteja atenta aos riscos que estamos correndo”, disse o ambientalista Alexandre Carvalho, presidente do Instituto de Pesquisa e Preservação Ambiental Oceanário de Pernambuco, um dos ativistas que lideraram o protesto.
A ação judicial foi impetrada pela Procuradoria Geral do Estado de Pernambuco (PGE-PE) e pelo Complexo Industrial Portuário de Suape, e a liminar, com tutela antecipada, foi expedida na noite do dia 9 de novembro.
A não atracação do comboio em Suape foi recomendada por meio de notas técnicas da Coordenadoria de Operações Portuárias e da Diretoria do Meio Ambiente e Sustentabilidade, ambas do Porto de Suape, além da Agência Estadual do Meio Ambiente de Pernambuco (CPRH).
LOGÍSTICA EM RISCO
“Chamamos a atenção para os significativos problemas de uso da infraestrutura pública no Porto de Suape que poderiam ser acarretados com a entrada da embarcação. Receia-se que toda a cadeia de prestadores de serviço logísticos possa vir a ser afetada por causa do uso, sem prazo definido, pelo porta-aviões”, criticou a nota da Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP).
Em praticamente todos os demais pronunciamentos de entidades empresariais e de trabalhadores, os problemas e riscos apontados são os mesmos.
Também divulgaram notas de repúdio o Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado de Pernambuco (Sindanpe); Sindicato dos Operadores Portuários do Estado de Pernambuco (Sindope); Federação Nacional das Operações Portuárias (Fenop); Associação Brasileira das Entidades Portuárias e Hidroviárias (Abeph); Sindicato dos Estivadores nos Portos do Estado de Pernambuco; Associação Brasileira dos Terminais Portuários (ABTP) e o Órgão Gestor de Mão de Obra Suape (OGMO).
O Fórum Suape – Espaço Socioambiental e outras nove entidades representativas de pescadores, moradores e pequenos trabalhadores das comunidades do território estratégico do complexo industrial portuário também divulgaram nota em repúdio ao pedido de atracação do porta-aviões no porto.
A decisão judicial também conta com apoio internacional. A administração do atracadouro recebeu e-mail de solidariedade da Associação Americana de Autoridades Portuárias (AAPA), que reúne as autoridades portuárias das Américas do Norte, Central e do Sul e do Caribe.