De acordo com economistas que produziram o documento, as consequências das mudanças climáticas vêm tanto dos riscos físicos (ciclones, inundações, ondas de calor) quanto da perda de produtividade do trabalho devido ao aumento do calor. Foto: Secom/Gov RS
Mudanças climáticas
Mudanças no clima vão levar a perdas de 11% no PIB da América Latina, diz relatório
No Brasil, redução é estimada em 6% até 2030 por conta da perda de produtividade
As mudanças climáticas vão levar a perdas de 11% no Produto Interno Bruto (PIB) da América Latina até 2050, prevê o relatório Latin America Shall We Dance?, divulgado pela Allianz Trade. O documento aponta os riscos econômicos nos países latino-americanos por conta dos efeitos do aquecimento do planeta.
De acordo com economistas que produziram o documento, as consequências das mudanças climáticas vêm tanto dos riscos físicos (ciclones, inundações, ondas de calor) quanto da perda de produtividade do trabalho devido ao aumento do calor. Esses riscos variam de acordo com a localização geográfica e podem mudar ao longo do tempo com base em mudanças na população, crescimento econômico e padrões de migração.
O Brasil deve experimentar as perdas mais significativas devido à redução da produtividade causadas pelo calor, estimadas em 6% até 2030.
O estudo aponta que as ondas de calor podem diminuir significativamente a produtividade do trabalho, especialmente em setores fisicamente exigentes, como agricultura e construção. Além disso, os problemas são agravados pelo desmatamento e seca, especialmente na Amazônia, onde essas condições intensificam a gravidade da seca, afetando a disponibilidade de água, a biodiversidade e a regulação climática tanto local quanto globalmente.
Para lidar com essas vulnerabilidades, cada país precisa de estratégias de adaptação personalizadas, segundo economistas detalham no relatório. “Isso envolve melhorar a resiliência da infraestrutura por meio do aprimoramento das defesas contra inundações e sistemas de gestão de água e construindo infraestrutura urbana resistente ao calor. Isso também inclui desenvolver práticas agrícolas sustentáveis, como a criação de variedades de safras resistentes à seca, a melhoria da eficiência da irrigação e a adoção de práticas de gestão de terras sustentáveis”, informa o documento.
O documento também aponta que iniciativas de saúde pública também são cruciais, incluindo a implementação de planos de ação para o calor, a conscientização pública sobre os riscos do calor e o aprimoramento das respostas dos serviços de saúde às doenças relacionadas às altas temperaturas. Além disso, como os impactos socioeconômicos das mudanças climáticas são desproporcionalmente distribuídos, às populações mais vulneráveis com menos recursos tendem a enfrentar os maiores desafios.
“As estratégias de adaptação devem ser adaptadas localmente, mas coordenadas em uma escala global para mitigar as consequências mais severas das mudanças climáticas de maneira eficaz”, diz o estudo. O documento aponta, ainda, que essa abordagem garante que os riscos climáticos, tanto imediatos quanto de longo prazo, preservem a estabilidade econômica e promovam o desenvolvimento sustentável.
Custo das mudanças climáticas
O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Illan Goldfajn, disse que o custo das mudanças climáticas é de cerca de US$ 22 bilhões por ano, durante sua participação no Fórum Brasileiro de Finanças Climáticas, antes da tragédia no Rio Grande do Sul. Na época, ele já alertava que mais de 3 bilhões de pessoas podem ser arrastadas para a pobreza por conta dos eventos extremos do clima.
Segundo ele, o BID vai aumentar para US$ 150 bilhões nos próximos 10 anos os recursos destinados ao financiamento de projetos sustentáveis para combater as mudanças climáticas. De acordo com ele, há interesse do BID em projetos que façam uma transição energética na economia brasileira.
Dobro das consequências
O relatório mostra que a Ásia e a África devem enfrentar mais que o dobro das perdas econômicas devido ao aquecimento global em comparação com a América Latina, em um cenário em que o aumento da temperatura global atinge 2°C acima dos níveis pré-industriais até meados do século, com um potencial de aumento para 2,9°C até o ano 2100. Os maiores custos para a América Latina em 2050 virão das perdas de produtividade (cerca de 5% do PIB), secas (3%) e ondas de calor (2%). O impacto varia consideravelmente por país.
Em uma comparação do risco climático em quatro grandes economias latino-americanas, as perdas econômicas totais variam de 11,6% a 13,7%. Entre esses países, até 2050, a Argentina será a mais afetada por inundações, com danos projetados representando 2,1% de seu PIB. A economia do Chile será notavelmente impactada por secas, com uma perda de PIB prevista em 7,4%. Enquanto isso, o México sofrerá com os efeitos de ondas de calor severas, que devem causar perdas que chegam a 2,1% de seu PIB.
A Argentina frequentemente enfrenta inundações significativas, especialmente na região das Pampas, que interrompem a agricultura – um dos setores econômicos cruciais da nação – e levam a perdas econômicas substanciais. As inundações também representam ameaças para áreas urbanas, incluindo Buenos Aires, onde impactam a infraestrutura e a habitação. Além disso, a variabilidade climática influencia o setor agrícola da Argentina com padrões irregulares de chuva e flutuações de temperatura que afetam a produtividade das safras e as condições do gado.