Emprego
Mulheres abrem espaço, mas são minoria no alto escalão do setor portuário
Um levantamento feito pela Associação Brasileira das Entidades Portuárias e Hidroviárias (Abeph), no fim de 2020, sobre a representatividade feminina nos portos públicos do país mostrou que os cargos de diretoria e superintendência ainda são dos homens.
São 5.204 colaboradores no total. Destes, 1.073 são mulheres, somente oito ocupam cadeiras na diretoria/superintendência e apenas uma tem salário acima de R$ 30 mil.
O cenário é diferente para eles. Dos 4.131 colaboradores homens, 91 são diretores ou superintendentes e 40 ganham mais de R$ 30 mil mensais.
Nos cargos de gerência e coordenação, as mulheres também aparecem em menor quantidade: são 151 para 239 homens, com os salários mais altos ainda sendo pago a eles. São 210 homens recebendo de R$ 20 a R$ 30 mil contra 36 mulheres na mesma faixa salarial.
Segundo os dados, a maioria das mulheres que trabalha no setor portuário ganha entre R$ 5 a R$ 10 mil (38%). Em seguida, com 30%, recebe de R$ 2 a 5 mil.
Na representatividade por cargo, 83% delas atuam na área técnica operacional, 8% em supervisão e assessoria, 7% são gerentes ou coordenadoras e somente 2% são diretoras ou superintendentes.
No consolidado, a participação feminina nos portos é de 21% e os homens, 79%.
O estudo também mapeou quantas mulheres trabalham na Guarda Portuária. Do total de 1.297 colaboradores, 1.186 são homens e 111 mulheres, ou seja, apenas 9% da guarda portuária é formada por trabalhadoras.
Para Elaine Costa, Gestora e Head de Recursos Humanos em uma empresa líder nacional no setor em que atua, este cenário deve mudar com o passar dos anos. “Hoje, as mulheres já são maioria no ensino superior, então claro que, mais preparadas e independentes, irão ocupar lugares antes impensáveis”, diz.
Ela, que já trabalhou durante sete anos para uma empresa logística portuária, no Rio de Janeiro, conta que viu uma crescente de profissionais mulheres assumindo cargos de gestão no corporativo do setor nos últimos anos.
“Mas, no porto mesmo, eram pouquíssimas mulheres, ainda mais em cargos de gerência e coordenação. Aos poucos vejo que isto está mudando porque as mulheres estão ocupando esses lugares e dispostas a lutar contra os preconceitos que fazem parte do histórico portuário”, analisa.
Elaine afirma que, para ela, as mulheres são mais dedicadas, detalhistas e comprometidas em suas missões e que a ascensão profissional feminina é algo esperado no contexto cultural atual.
“As mulheres estão chegando com excelência em suas áreas de atuação e isso é provado em resultados, em números. Hoje, no grupo onde trabalho temos praticamente a mesma quantidade de homens e mulheres em cargos de gestão, e no passado não era assim. Percebo que esta é uma tendência em empresas de diversos segmentos, inclusive o portuário”, pontua.
POR PORTOS.
Quando analisados os dados por portos nota-se que, em alguns, o número de mulheres trabalhando no setor se aproxima ao de homens.
É o caso do Porto de Recife (PE), onde dos 81 funcionários, 34 são do sexo feminino (42%), e 47 são do sexo masculino (58%). Porém, a maioria das mulheres trabalha no setor técnico/operacional (71%), com salários que variam de R$ 2 mil a R$ 5 mil (65%). Na diretoria/superintendência, elas representam 3% – são dois diretores e uma diretora.
No Porto do Itaqui, em Maranhão, são 226 trabalhadores, sendo 80 mulheres, o que representa 35% do total do quadro de colaboradores, com um fator que chama a atenção: quando considerado exclusivamente o cargo de gerente, as mulheres ocupam 54% dos 24 postos. São 13 mulheres e 11 homens.
Na Gerência de Meio Ambiente, a presença delas também é marcante. A equipe tem 13 funcionários, sendo 11 mulheres, inclusive a gerente.
Grandes portos, como Santos e Paranaguá, têm menor participação de mulheres
Líderes em movimentação de cargas e no top 3 no ranking dos portos públicos com melhor desempenho em 2021, o Porto de Santos (SP) e o Porto de Paranaguá/Antonina (PR) ainda registram baixa participação de mulheres em suas atividades, de acordo com o levantamento de Abeph.
O complexo santista conta com 1.027 colaboradores, dos quais 872 são homens e 155 são mulheres. A maioria delas (71%), realiza funções técnicas/operacionais e ganha de R$ 2 a 5 mil por mês (32%).
Na diretoria não há nenhuma mulher e as 16 cadeiras existentes para o cargo são ocupadas por homens. Já na superintendência são 50 colaboradores, sendo nove mulheres e 41 homens, 6% de representação feminina em cargos executivos.
No total, a participação delas no complexo portuário santista é de 15%. O restante, 85%, são funcionários homens.
Já os portos de Paranaguá e Antonina contabilizam 527 funcionários, sendo 68 mulheres e 459 homens. Por lá, o perfil profissional é o mesmo, com a maioria delas (69%) ocupando cargos técnicos e operacionais e ganhando salários que não passam dos R$ 5 mil, (41%).
A diretoria conta com sete lugares, todos ocupados por pessoas do sexo masculino. Já na gerência são 22 colaboradores, nove homens e 13 mulheres, o que representa 19% do setor para elas. Em relação aos salários, não há nenhuma mulher ganhando acima de R$ 20 mil por lá, porém este montante é pago a 19 homens.