O presidente francês Emmanuel Macron acredita que o Brasil ainda precisa avançar mais no combate ao aquecimento global e propôs trabalhar em parceria com esse objetivo (Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil)
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“Não pode ser defendido”, diz Macron sobre acordo Mercosul e UE
Em São Paulo, presidente da França classifica como péssima a parceria costurada há cerca de 20 anos
O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou na quarta-feira, dia 27, que o acordo entre Mercosul e União Europeia (UE) “não pode ser defendido”. A declaração foi dada durante o Fórum Econômico Brasil-França realizado na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Para ele, o acordo que estava sendo costurado há cerca de 20 anos é “péssimo” para os dois lados.
“O acordo com o Mercosul, tal como está sendo negociado atualmente, é um péssimo acordo. Para vocês e para nós. Porque foi negociado há 20 anos. A vida diplomática, a vida dos negócios, mudaram muito. Quando se negocia com uma regra antiga, não é a mesma coisa. É preciso reconstruir [o acordo] pensando no mundo como ele é hoje, levando em consideração a biodiversidade e o clima”, afirmou o presidente francês.
Macron disse ainda que é preciso tentar um novo acordo, mas com base nos dias atuais. “Precisamos deixar de lado noções de algo construído 20 anos atrás e buscar um novo acordo, construído com base em novos objetivos, que tenha a luta contra o desmatamento e as mudanças climáticas e a luta pela biodiversidade no centro das prioridades”, disse.
O acordo de livre comércio entre Mercosul e a União Europeia é negociado desde 1999 e prevê a isenção ou redução na cobrança de impostos de importação de bens e serviços produzidos nos dois blocos.
Em 2019, durante a presidência de Jair Bolsonaro (PL), Mercosul e UE assinaram o acordo, mas para entrar em vigor o acordo precisava passar por uma revisão técnica e pela ratificação dos parlamentos de todos os países envolvidos.
Em 2023, o acordo voltou a ser negociado com a volta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Palácio do Planalto, mas as exigências ambientais europeias voltaram a travar as negociações.
“O Brasil e a França são duas potências que podem construir esses acordos, levando em conta o clima e a biodiversidade. A defesa do clima e da biodiversidade nos levará a formular estratégias muito mais ambiciosas”, completou Macron.
Para o presidente francês, o Brasil ainda precisa avançar mais no combate ao aquecimento global e propôs trabalhar em parceria com esse objetivo. “Juntos, podemos superar a enfrentar os problemas climáticos, para a diminuição da emissão de carbono. Criando um multilateralismo mais exigente, com regras mais claras, podemos vencer essa batalha que hoje ainda é vista com ceticismo por alguns. O combate ao aquecimento global é uma luta que ainda não foi vencida. Falta muito”, concluiu Macron.
Fórum Brasil-França
O tema do encontro foi a transição para a chamada “economia verde”. O evento reuniu empresários dos dois países. O chefe de estado francês foi recebido pela direção da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Segundo o Governo, na delegação estrangeira estavam previstos cerca de 50 empresários do país europeu.
Ricardo Alban, presidente da CNI, iniciou o evento com um convite às empresas francesas para expandirem seus investimentos no Brasil. “A CNI está à disposição para apoiar os empreendedores que planejam investir ou fazer negócios no nosso país”, disse Alban, que também reforçou o apelo à homologação do tratado entre Mercosul e União Europeia.
Josué Gomes da Silva, presidente da Fiesp, ressaltou a importância do fórum para fortalecer as relações bilaterais. “Não tenho dúvida de que a presença do presidente Macron no Brasil, tendo dedicado o tempo que está dedicando ao país, demonstra o interesse das duas sociedades de fortalecerem o seu relacionamento cada vez mais”, disse.
Relação comercial
Segundo o Banco Central, a França é o terceiro maior investidor no Brasil, com mais de US$ 38 bilhões. Em 2023, os dois países registraram um fluxo comercial de US$ 8,4 bilhões, sendo US$ 2,9 bilhões em exportações e US$ 5,5 bilhões em importações.
As exportações brasileiras para a França incluem principalmente farelo de soja, óleos brutos de petróleo, celulose e minério de ferro. Enquanto isso, os principais produtos importados da França são motores e máquinas, aeronaves e produtos da indústria de transformação.
*Com Yousefe Sipp