O cargueiro Pyxis Ocean saiu da China, onde as velas foram instaladas, e segue rumo ao Brasil, com previsão de atracar no Porto de Paranaguá na segunda quinzena de setembroCrédito: Divulgação/Cargill
Internacional
Navio ganha velas e chega a economizar 1,5 tonelada de combustível por dia
Inovação usa o conhecido poder do vento na navegação e tem potencial de descarbonizar cargueiros em até 30%
Antigo aliado da navegação, o vento é novamente o protagonista em uma inovação tecnológica desenvolvida pela empresa britânica BAR Technologies e aplicada no navio Pyxis Ocean, da Mitsubishi Corporation e fretado pela Cargill.
O cargueiro foi o primeiro a ser readaptado para receber duas WindWings – velas com 37,5 metros de altura instaladas no convés da embarcação para aproveitar a energia eólica, ou energia dos ventos.
Com a propulsão gerada pelo vento, o navio chega a economizar 1,5 tonelada de combustível por dia, descarbonizando a operação em até 30% – porcentagem que pode ser ainda maior se utilizada em combinação com combustíveis alternativos, como biodiesel, metanol e amônia.
Em navios que tenham espaço para receber quatro velas, a economia pode chegar a 6 toneladas de combustível por dia, o que reduziria em 20 toneladas a emissão de CO2 na atmosfera. Por isso, a inovação tem sido vista como “revolucionária” para a indústria marítima, responsável por 2,1% das emissões mundiais de gás carbônico e sofrendo constante pressão para se tornar mais limpa.
O anúncio da viagem inaugural foi feito em 21 de agosto pelas companhias que participaram do projeto. O navio saiu do estaleiro Cosco, na China, onde as velas foram instaladas, e segue rumo ao Brasil, com previsão de atracar no Porto de Paranaguá (PR) na segunda quinzena de setembro.
As velas são móveis, ou seja, na hora do navio atracar, elas são “dobradas” sobre o convés. Quando o navio zarpa, elas voltam a subir, permitindo que a embarcação seja levada pelo vento ao invés de depender apenas do motor. Feita de aço, atualmente a China é o único país que constrói este tipo de vela.
O teste com a nova tecnologia pode trazer, pela primeira vez, uma propulsão eólica de ponta à navegação comercial, apontam os participantes do projeto.
“O setor naval está em uma jornada para descarbonizar, o que não é fácil, mas animador”, disse Jan Dieleman, Presidente da Unidade de Transporte Naval da Cargill.
Outro ponto positivo do projeto é que ele permite que navios já prontos sejam readaptados para receber as velas, o que é relevante, já que 55% das frotas de graneleiros do mundo têm até nove anos de uso.
Agora, o desempenho das WindWings será monitorado pelos próximos meses para aprimorar ainda mais o projeto, a operação e o desempenho. A ideia é que os resultados obtidos com o navio Pyxis Ocean sejam utilizados como uma ‘vitrine’, visando a adoção das velas não só na frota da Cargill, mas em todo o setor.
Nos próximos quatro anos, a BAR Technologies e a Yara Marine Technologies, parceiras no projeto, planejam construir centenas de velas para atender o mercado. A BAR Technologies também está pesquisando novas construções visando o aperfeiçoamento das formas hidrodinâmicas de cascos.
“Se a navegação internacional deseja conquistar sua ambição de reduzir emissões de CO2, a inovação deve vir à tona. O vento é um combustível quase marginal e sem custos, e a oportunidade de reduzir emissões, junto com ganhos significativos de eficiência em custos operacionais dos navios, é substancial”, declarou John Cooper, Diretor Executivo da BAR Technologies.
John acredita que a viagem inaugural do Pyxis Ocean será uma virada para a indústria marítima e que até 2025, metade dos navios encomendados contarão com propulsão eólica.