João Amaral também atua como presidente do Conselho ESG do Brasil Export (crédito: Divulgação/Voz dos Oceanos)
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“O oceano é uma potência a ser descoberta”, afirma diretor geral da Voz dos Oceanos
João Eduardo de Villemor Amaral é carioca, criado perto do mar, sempre próximo à natureza. Quando diz que debaixo da água há um universo gigante para ser descoberto, tem conhecimento e experiência de anos ligados ao mar e ao tema sustentabilidade. É diretor geral e de Operações da Voz dos Oceanos – iniciativa liderada pela Família Schurmann, cuja expedição tem o apoio mundial do Programa da ONU para o Meio Ambiente.
Presidente do Conselho ESG do Brasil Export, está entusiasmado com os resultados: “A sustentabilidade não tem lugar, não tem lado, ela é transversal. O que um porto está fazendo interessa a outros portos, a terminais, a outras empresas. Precisamos trocar essas experiências, e não guardar. O Brasil Export conseguiu colocar o que antes eram partes antagônicas para sentar na mesma mesa e conversar sobre os desafios do setor”.
Desde o início, deixou claro que não queria uma discussão acadêmica, e sim prática: “A diversidade é intelectual, ou seja, se nós somos seres humanos pensantes, ouvir o outro e compartilhar informações traz soluções mais ricas. O mote do Conselho ESG é desenvolver um novo olhar para as oportunidades, trazendo empresas para mostrarem seu trabalho na área”.
Formado em Direito pela PUC do Rio de Janeiro, é pós-graduado em Direito da Economia e das Empresas pela FGV, mestre em Direito Societário e Negociações pela New York University School of Law, possui MBA Executivo Internacional pela FIA-USP e especialização empresarial pela Harvard Business School. É sócio fundador do J Amaral Advogados.
Atualmente mora em Portugal e lidera o projeto de internacionalização da Voz dos Oceanos para a Comunidade Europeia. No país, está cursando a Pós-Graduação em Desenvolvimento de Negócios Sustentáveis pela NOVA School of Business and Economics. “Sou um eterno aprendiz, levo muito a sério. Aos 50 anos, tomei o desafio de sentar de novo na universidade, desaprender para aprender, além de ajudar a colocar de pé uma iniciativa inspiradora em que eu acredito”.
Na universidade, faz um mergulho no tema sustentabilidade, mas com a lente empresarial. “Aqui aprendemos a derrubar alguns mitos. O primeiro é que a sustentabilidade é o meio ambiente, e não é isso. O meio ambiente é importante porque é onde vivemos, mas não adianta você ter uma empresa com boas práticas ambientais e tratar os colaboradores com exclusão, não ter boas práticas para relacionamento interno ou não ter transparência”.
Há cinco anos, quando participou em Portugal do Websummit, percebeu que o mundo de inovação e tecnologia estava começando uma jornada para trazer a sustentabilidade ao centro das discussões. “Os temas ESG vieram à tona. Ficou claro que era um segmento que ia ganhar cada vez mais destaque e era hora de arregaçar as mangas e participar”.
Aos poucos, foi se envolvendo, principalmente depois que o escritório iniciou o trabalho com a Voz dos Oceanos. Aponta a sustentabilidade como um eixo das empresas, com influência em todos os setores. “Diferente do que acontecia antigamente, quando o lucro era o primeiro vetor, não dá mais para ser assim por conta da pressão financeira. O lucro acima de tudo nos levou para uma sociedade de consumo que não pensa, na hora de entregar um produto, o que acontece quando termina a vida útil”.
Portugal
Atuar em Portugal tem sido uma experiência incrível: “Apesar de termos uma história de 40 anos, agora queremos mudar a dinâmica. A Voz dos Oceanos não é uma expedição apenas, é uma iniciativa inseparável, com DNA da família conhecida para perenizar no tempo. Resolvemos fazer essa expansão para o mercado europeu, que é maduro para economia azul, transformação energética, sustentabilidade e gestão de resíduos”.
O melhor é ter uma história para contar: “Quando mostramos nosso trabalho, em que tudo é auditado, as pessoas percebem que temos um grau de maturidade e organização, além de contar com grandes empresas ao nosso lado como Ambev, Natura, Sabesp, Raia, Drogasil, TV Globo, Plastic Soup e outros apoiadores”.
Mesmo com notícias alarmantes sobre a crise climática, João Amaral não desanima: “Eu não chamo de problema e sim de desafio. Estamos lidando com a falta de planejamento e enfrentamos o desafio de reverter essa situação para garantir uma história diferente nos próximos 40 anos”.
Ele aponta o despertar de mercados mais maduros, especialmente na Europa, como um efeito propagador: “As empresas que não se adaptarem não vão sobreviver, é questão de regramento, ordenação e punição. Sustentabilidade é estratégia e não adianta só criar um departamento ou um relatório socioambiental bonito”.
Excelentes iniciativas encontradas em Estados e cidades do Brasil na expedição Vozes do Oceano garantem esperança: “Falo de esperança porque há possibilidades. As empresas começam a entender que podem continuar lucrando, manter seus negócios longevos e manter a sustentabilidade como eixo do negócio”.
Em Portugal, João Amaral logo aprendeu o conceito de literacia azul, que é a compreensão do oceano como “órgão” que é o regulador do nosso Planeta. “Temos um Planeta composto por ¾ de água, o resto é terra; como vamos pensar num ecossistema que não considera água como eixo fundamental?
Nas parcerias feitas pela Voz dos Oceanos, cita o trabalho realizado com a Universidade de São Paulo, através do departamento de Oceanografia do professor Alexandre Turra, para entender qual é o grau de contaminação de plásticos e de resíduos na rota pré-determinada. “Isso vai ter uma geração de dados. Outro protocolo é como um case da Universidade do Vale de Itajaí, para mostrar que os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU estão interligados”.
João Amaral entende a importância de divulgar boas iniciativas que podem ser desenvolvidas em outros lugares: “Nossa responsabilidade é dar palco e voz para esses empreendedores e startups que não têm espaço e a capilaridade da Voz dos Oceanos contribui para isso. Durante a expedição sentimos muito apoio e colaboração nas cidades e Estados e vejo o governo atual bem envolvido com o tema. Nos próximos 5, 10 anos, veremos uma evolução positiva na forma como nos comportamos, como consumimos, como nos relacionamos como sociedade”.
Mar e aprendizado
Viagens e natureza estão sempre na bagagem do presidente do Conselho ESG do Brasil Export: “Eu sou um cara do mar, pratico esportes de água desde pequeno, sou pai de 12 animais, 6 cachorros e seis gatos, meus filhos de quatro patas, eu me conecto muito com eles. Estou em uma relação muito feliz e estável há 7 anos, gosto de ler e aprender. Enquanto eu tiver vontade de aprender e experimentar coisas novas é a sensação de que a vida está andando para frente”.
O livro de cabeceira é “Impacto Positivo”, de Paul Polman, ex-CEO da Unilever e referência internacional em sustentabilidade nos negócios. “Qualquer CEO ou gestor que trabalha com as questões empresariais e temas de sustentabilidade deve ter como leitura obrigatória. Ele mostra que a sustentabilidade é estratégica, geradora de recursos e de lucro”.
João Amaral acredita que só mesmo com educação se envolve as crianças e jovens na defesa dos oceanos e no olhar para a sustentabilidade. “Em Portugal, os temas de literacia azul fazem parte da grade curricular do Ensino Médio e Fundamental. Precisamos levar isso para as escolas brasileiras, que são importantes vetores de ação. O poder público é agente fundamental nessa transformação”.