Divulgação
Estilo BE
“O que vamos fazer com a nossa alma?”
Mergulho
“O que vamos fazer com a nossa alma?”
A peça “Alma Despejada” está de volta, dessa vez no Teatro Renaissence, em São Paulo, a partir do dia 26 de maio. Irene Ravache está brilhante como Teresa, uma senhora que, depois de morta, visita pela última vez a casa onde viveu e relembra passagens de sua vida. A personagem transita entre o passado e o presente, sempre de maneira poética e bem-humorada, relembrando histórias e pessoas importantes em sua existência. O texto é de Andréa Bassitt, direção de Elias Andreato e cenário e figurino de Fábio Namatame. A montagem recebeu o Prêmio Bibi Ferreira de Melhor Atriz, para Ravache, Melhor Texto Original para Andréa Bassitt, e indicação na categoria Iluminação para Hiram Ravache. Nessa entrevista exclusiva para a coluna, Irene fala com muito carinho sobre o trabalho. E quem puder, não perca a oportunidade, eu assisti a estreia e gostei muito.
Por que você resolveu encenar “Alma Despejada”?
Todas as vezes em que eu leio um texto, a primeira impressão é a que fica; é aquela sem nenhuma avaliação prévia. Eu leio e vejo que impressão aquilo me dá, se as palavras que estou lendo têm a ver com o que eu gostaria de dizer para outras pessoas. Quando eu li “Alma despejada”, a primeira coisa que me chamou atenção foi a poesia. É um texto extremamente poético e tinha uma frase que dizia “a vida serve para isso, para nos acertarmos”. Eu falei: vou fazer esse texto por causa dessa frase, é o que eu acredito e gostaria de dizer para as pessoas.
O que te encanta na peça?
O texto da Andréa Bassit, apesar de falar de um assunto difícil que é a morte, mescla sensibilidade e humor, é divertido sem ser engraçado, levo muito isso em consideração. As pessoas não gostam muito da palavra entretenimento, acho que ligam a uma coisa fácil, fútil, passageira, gargalhante, mas não é. É algo que vai nos entreter, e quando você está entretida os seus sentidos ficam mais susceptíveis a ouvir a mensagem do texto. Sinal que aquele texto conseguiu uma alça em algum lugar da sua cabeça, do seu coração, da sua sensibilidade. Quando você apenas gargalha, você sai e aquilo vai embora.
É uma peça triste?
Eu fiquei fascinada com o texto e sua poesia. É muito delicado e fala da memória de uma mulher na minha faixa etária. Mesmo sabendo que a personagem está morta, não é uma peça triste, pesada ou rancorosa, fala muito mais de vida que da morte. Eu adoro esse tipo de possibilidade que o teatro oferece. E não tenho medo de misturar essas coisas, porque isso faz parte da vida. Nossa vida não é linear. Ela tem essas nuances.
Você acredita em reencarnação?
Gostaria de acreditar em reencarnação dessa maneira como lemos ou ouvimos falar, ou seja, você reencarna para cumprir uma missão que não conseguiu comprar em outras vidas. Essa reencarnação eu tenho bastante dificuldade, me parece que tem alguma coisa que não encaixa bem nisso, não saberia dizer o que, mas me agrada pensar que exista um prolongamento depois da morte, em outras esferas, outras galáxias, talvez, de uma outra forma de vida. Não a reencarnação como matéria, mas um prolongamento onde a matéria não seja mais necessária.
Quais são as suas dúvidas?
O que não se cumpriu aqui, não cumpriu, mas será que a vida é só essa, cumprir essa missão? Parece simplório, mas não vejo a reencarnação como um reformatório, ou nos acertamos aqui, nesse período chamado vida na terra, ou não nos acertamos. Talvez, se o prolongamento não incluir a matéria, a gente possa ter um entendimento maior do universo. Será que vamos conseguir finalmente uma comunicação por telepatia, sem ser necessário o uso das palavras, e será que essa comunicação vai se dar no sentido mais altruísta de uma ajuda coletiva? Será que essa não é a nossa evolução? São coisas que eu penso.
Qual é a sua ideia de reencarnação?
A reencarnação para mim é muito ligada ao DNA, é através do que nós vamos passando que nós vamos permanecendo. E me agrada pensar que talvez eu tenha, e é possível que tenha, componentes de um tataravô ou antes dele, que atuam no meu modo de pensar, em algumas escolhas, em definir sabores, olfatos, isso eu acho muito bonito. Também é um prolongamento de vida.
O texto mexeu de alguma forma com a sua fé?
Fazer “Alma Despejada” não mudou a minha fé no sentido espiritual, mas em outros pontos sim. É difícil você permanecer a mesma pessoa depois de escarafunchar um texto, as coisas mudam, mas não especificamente em relação à fé.
Como foi o retorno do público na primeira temporada?
O retorno do público é forte, exatamente no ponto ligado à possibilidade de termos uma outra vida. E isso independe da faixa etária. Muitos diziam “eu sou espírita, esse texto foi muito bom, gostei muito”, mas mesmo aqueles que não são espíritas falavam a respeito de como seria bom podermos realmente ter a certeza de que teremos algo, que a morte não é o fim de tudo. Isso é até de pessoas que perderam parentes há pouco tempo, pessoas com parentes em fase terminal, foram depoimentos muito recorrentes.
Como você sentiu que a peça marca o público?
O semblante era sempre muito suave, as pessoas tinham suavidade quando falavam, inclusive muitas se emocionavam, choravam, não era pesado, esse texto consegue tocar um núcleo muito delicado das pessoas, o retorno é muito bonito. E é interessante as pessoas fazerem questão de dar seus depoimentos de como a peça as tocou, mexeu com elas. Um homem na faixa dos seus 40 anos chorava copiosamente, não havia perdido ninguém ou estava com alguém de doença, mas ficou tocado pelo texto. É um retorno interessante ver como as pessoas querem falar delas.
Por que o texto é atual?
É um texto muito atual, que fala de assuntos que vemos no nosso dia a dia. A começar pela personagem Tereza, que é nossa conhecida, nós conhecemos essa mulher, uma tia, mãe, avó, amiga, parente ainda que distante. A vida dela não é desconhecida do brasileiro. Ela diz algumas coisas a seu respeito e a plateia sabe quem é aquela mulher. Ela fala de um tema que é recorrente a todos nós, que é a nossa alma. O que vamos fazer com a nossa alma? Podemos fazer alguma coisa, ela tem vida própria, pode ser despejada, inclusive? Tereza fala de netos, filhos, da vida de casada. Não é uma mulher de grandes feitos, não é uma desbravadora, é uma mulher comum, muito simples, ela é brasileira e nós a conhecemos.
Que outro assunto a montagem aborda?
Em determinado momento é tratado o tema corrupção. Ela não é nomeada a um partido, ela é presente em todos os partidos políticos e vemos como a corrupção entra e estraçalha a vida dessa família. Eu acho que é um tema contemporâneo, acho que vamos lidar sempre com a corrupção, tenho esperança que a forma de lidar vá mudando à medida em que se consiga ter uma atitude mais proativa em relação aos corruptores. Eles não passarão, devemos entender que esse tenha que ser o nosso lema em relação aos corruptos para diminuir a corrupção entre nós.
Serviço
Espetáculo: Alma Despejada
Temporada: Até 30 de julho de 2023
Sessões: Sexta, às 21h | Sábado, às 19h | Domingo, às 17h
Ingressos: R$ 100,00 (sexta e domingo) e R$ 120,00 (sábado) – com meia-entrada.
Teatro Renaissance: Alameda Santos, 2233 – Cerqueira César, São Paulo
Tel.: (11) 3069-2286 | Capacidade: 448 lugares.
“Se eu tivesse de viver minha vida outra vez, viveria num botequim”
C. Fields
Achei essa frase do humorista e escritor norte-americano William Claude Dukenfield e concordei plenamente. São lugares de encontros e desencontros, de conversas, de celebrações e desabafos. Tenho um amigo querido que vive procurando um bar para chamar de seu. É aquele bar em que a gente se sente em casa, que fazem festa quando você chega, que trazem seu vinho na temperatura certa e o sanduíche para aquecer o estômago na hora da fome fora de hora. Claro que pode ser um restaurante também, mas o boteco é mais descontraído. E quando você conhece o dono, melhor ainda. Não, eu não viveria a vida num botequim, mas gosto de ter esses espaços na minha vida.
Visuais
Van Gogh no Recife
Até 5 de junho você pode conferir a mostra interativa sobre o pintor holandês Van Gogh está no espaço de 2.800 m² montado no estacionamento do Shopping RioMar, no bairro do Pina, no Recife. É uma forma interativa de apreciar as principais pinturas do artista pós-impressionista do século 19, numa grande instalação, com mais de 250 obras, com reprodução dos quadros de forma digital, em resolução 8K.
Os visitantes também encontram textos ilustrativos retirados de cartas originais, interpretados por Fernanda Montenegro, com trilha sonora com músicas de Debussy, Ravel, Bach, O’Halloran e Pink Floyd, entre outros.
Serviço
Evento: Van Gogh Live 8k;
Local: RioMar Recife – Av. República do Líbano, 251, Pina – Recife; De segunda a sábado, das 10h às 21h20; domingo, das 10h às 20h20.
Leitura
E se?
A vida pode mudar em uma esquina, em um dia, em minutos. Essa realidade está presente na obra “Não fossem as sílabas do sábado” (Editora Todavia), de Mariana Salomão Carrara. A tal fatalidade é o tema a partir da morte de André, deixando Ana e a filha em um tempo muito dolorido. Na história entram Francisca, a babá que intervém com seus tentáculos de ajuda, e Madalena, a vizinha, viúva do outro homem envolvido no absurdo acidente que vitimou André. O resultado é uma narrativa íntima que assombra pela concretude.
Bebidas
O drinque do Rei Charles
O Rei Charles III tem muitas manias e uma delas é o drinque Dry Martini, segundo o especialista em monarquia britânica, Gordon Rayner. Esse também era o preferido de James Bond nos seus filmes como 007. Abaixo segue a receita de Dry Martini do Restaurante Piselli, de São Paulo.
Cubos de gelo a gosto
150 ml de gin
25 ml de vermute seco
Casquinha de limão-siciliano (para perfumar)
1 azeitona para decorar
Modo de Preparo
Em um copo largo cheio de gelo, coloque o gin, o vermute e misture delicadamente com uma colher bailarina até ficar bem gelado. Transfira para uma taça, mas sem os gelos. Enfeite com azeitonas em um palito.
Agora é só servir. Tim tim!