A situação da BR-319 foi debatida durante o painel “Operações logísticas na Região Amazônica – dificuldades, complexidades e soluções”Crédito: Antonio Pereira
Norte Export
Obra na BR-319 é urgente, mas só isso não resolve gargalos de escoamento, dizem especialistas
Debatedores defendem o desenvolvimento de um sistema de transportes integrado na região Norte, principalmente voltado às hidrovias
Pavimentar a BR-319, única rodovia que conecta por terra o Amazonas ao restante do país, é uma obra urgente, mas sozinha não resolve os gargalos do escoamento de cargas da região. É o que defendem autoridades que participaram do primeiro painel de ontem (4), promovido pelo Norte Export – Fórum Regional de Logística, Infraestrutura e Transportes, que aconteceu em Manaus (AM).
Foram convidados para discutir o tema “Operações logísticas na Região Amazônica – dificuldades, complexidades e soluções” Helano Pereira Gomes, diretor-executivo Institucional e de Desenvolvimento de Negócios da Ultracargo; Marcello Di Gregório, diretor-geral da Super Terminais; e Renato Freitas, superintendente da Transglobal.
Para Di Gregorio, a obra da BR-319 precisa do apoio do Governo Federal e poderia ser viabilizada por meio de Parceria Público‐Privada (PPP). “De setembro a novembro não temos como escoar nem receber mercadorias em sua totalidade”, cita, devido ao período de chuvas que praticamente inviabiliza o tráfego pela quantidade de barro na via.
Porém, ele ressalta que, por si só, a BR-319 não resolve a logística necessária para o Amazonas e que há soluções “mais verdes” em outros modais. “Podemos começar pela BR-319, mas é preciso desenvolver, principalmente, as hidrovias”, diz.
Renato Freitas, da Transglobal, também salientou que a pavimentação da rodovia é uma obra “complementar” e que é preciso desenvolver no estado do Amazonas um sistema de transporte integrado, passando pelas hidrovias.
“Temos rios navegáveis que precisam ser regulamentados, temos rodovias que precisam ser recuperadas, como a BR-163, que passou recentemente por melhorias e refletiu de forma muito positiva na economia”. A estrada citada liga o Rio Grande do Sul ao Pará.
Ainda de acordo com Freitas, esse sistema integrado não sai do papel se o foco for apenas a BR-319, sendo necessário criar toda uma infraestrutura regional e multimodal, incluindo a obra da Ferrogrão (que deve ter 933 quilômetros acompanhando o traçado da BR-163, ligando Sinop, no Mato Grosso, a Miritituba, no Pará), além de novos terminais de transbordo na região Norte.
“E todos esses processos precisam ser mais céleres. Ainda há projetos que levam 10 anos para conseguirem suas licenças. O Norte é a região que mais vai crescer nos próximos anos, então precisamos que os holofotes estejam virados para cá e que os investimentos cheguem”, declarou.
Helano Gomes, da Ultracargo, emitiu a mesma opinião, afirmando que o maior problema da logística brasileira como um todo é a integração de modais e que por mais que a obra na BR-319 seja “de fundamental importância”, as ferrovias também precisam ser viabilizadas, contando com o apoio do poder público. “E não posso deixar de falar sobre a urgência em criarmos acessos rodoviários aos portos da região Norte para melhorar a eficiência”, pontuou.
A apresentação do primeiro painel foi feita por Sérgio Aquino, presidente do Conselho do Norte Export e da Federação Nacional das Operações Portuárias (Fenop), com moderação de Leopoldo Figueiredo, jornalista e diretor de Redação do BE News.
Dados
Em sua fala de abertura, Aquino citou uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), publicada em novembro do ano passado, mostrando que 82% dos empresários que atuam no norte do país apontaram que o transporte é o principal gargalo de infraestrutura da região.
Já um levantamento feito pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), também de 2022, destacou que a região Norte do Brasil precisa investir R$ 233,3 bilhões em projetos de infraestrutura e que as obras mais importantes para potencializar o escoamento regional seriam a conclusão da Ferrovia Norte-Sul, tornando-a 100% operacional de São Paulo até o Tocantins, e o Sistema Hidroviário do Tapajós (PA).