Os computadores permitem a troca de operação de cada guindaste entre os funcionários. Ou seja, um operador pode assumir o serviço em outro guindaste pelo mesmo computador (Foto: Divulgação/Santos Brasil)
Porto de Santos
Operação remota de guindastes muda rotina de trabalhadores
Santos Brasil investe R$ 130 milhões em tecnologia para aumentar eficiência e melhorar as condições de trabalho
As operações de RTGs no terminal de contêineres da Santos Brasil, no Porto de Santos (SP), têm passado por uma transição. Guindastes movidos a diesel e de operação tripulada, que demandam mais tempo no serviço e impõem algumas restrições físicas, têm dado espaço para equipamentos elétricos e de operação remota, visando mais eficiência, sustentabilidade e segurança.
A Santos Brasil já conta com oito RTGs elétricos, que podem ser operados de forma remota, uma prática pioneira no país, que teve início em meados de 2024. Os equipamentos são fruto de um investimento de R$ 130 milhões.
A mudança carrega impactos na vida de pessoas que começaram a trabalhar no terminal há bastante tempo e nem imaginavam a possibilidade de um dia atuar em uma sala climatizada e distante da movimentação de cargas. Érica Matias, de 40 anos, é a única mulher capacitada para a operação remota de guindastes da Santos Brasil. Está há 16 anos na empresa e tem vivido um período transformador.
“Foi um desafio. A gente acaba tendo um pouco de receio. A gente acredita que não vai ter a visão que tinha na operação presencial. Só que, pelo contrário, foi uma surpresa pra gente. Nós temos várias câmeras que facilitam muito a nossa visão”, explicou.
A mesa é composta por um tablet que mostra qual operação tem que ser realizada, ligada ao Terminal Operating System (TOS) — uma tela que mostra os quatro cantos dos lockers utilizados para “agarrar” o contêiner —; outras duas telas com imagens do ambiente ao redor da operação; uma interface com informações sobre o funcionamento e posicionamento da máquina; além de dois joysticks usados para manusear o guindaste.
Apesar de serem oito guindastes, o terminal possui cinco mesas para operação remota. Os computadores permitem a troca de operação de cada guindaste entre os funcionários. Ou seja, um operador pode assumir o serviço em outro guindaste usando o mesmo computador.
“É muito diferente porque a gente não precisa subir o RTG na chuva, pegar sol, todas as coisas que podem atrapalhar o nosso conforto. Aqui, ficamos sentados em uma sala, com uma ergonomia completamente diferente. Também temos a liberdade de levantar quando ficamos cansados. Permanecer na mesma posição pode ser cansativo”, afirmou Érica, ressaltando a opção de levantar a mesa e poder operar a máquina de pé.
Outros benefícios
Os guindastes de operação tripulada contam com 120 degraus, incluindo uma escada de marinheiro no início da jornada até a cabine no topo da máquina. Com o trabalho à distância, os operadores conseguem ter acesso a banheiros, água e alimentação com muito mais praticidade. O ambiente também propõe uma convivência com os outros operadores, que ficam na sala.
Érica ainda destaca que a ferramenta oferece mais longevidade para os trabalhadores da área, com menos restrições físicas.
“Quando eu entrei na Santos Brasil operando RTG, eu nunca pensei que isso seria um marco. A gente pensa ‘vou conseguir operar um RTG por 30 anos, 40 anos, naquela posição’? A gente acaba pensando que vai ter que procurar outro rumo. Isso veio para favorecer quem gosta de operar um RTG, podendo se aposentar fazendo o que gosta”, ressaltou.
A empresa já comprou mais de oito guindastes elétricos, além de dois portêineres, que devem começar a ser utilizados em 2026. O objetivo é substituir todos os guindastes movidos a diesel no terminal até 2031. Além dos oito guindastes elétricos, a empresa opera 39 RTGs a diesel.
Atualmente, 12 funcionários estão capacitados para atuar com os guindastes por meio de computadores que ficam em uma sala de controle ao lado do pátio. Eles foram treinados a partir de um recrutamento interno. Todos se dividem em uma escala de dois dias em trabalho remoto e um dia dentro do equipamento. A empresa ainda prepara uma segunda leva de 50 operadores remotos.
“Cada mesa é conectada a um equipamento. Através de câmeras e sensores, eles conseguem operar como na cabine, mas em condições muito mais sustentáveis”, afirmou o diretor de Tecnologia da Santos Brasil, Ricardo Miranda.
Plano climático prevê neutralidade de carbono até 2040 e modernização do terminal
A Santos Brasil mira se tornar net zero, ou seja, virar uma empresa de carbono neutro, até 2040. Para isso, lançou um Plano de Transição Climática, um conjunto de diretrizes e compromissos para reduzir em 70% as emissões diretas de gases de efeito estufa nas operações, e em 30% as emissões indiretas.
A troca dos guindastes integra esse plano. Segundo a Santos Brasil, a substituição deve evitar a emissão de 713 toneladas de gás carbônico por mês. Isso significa uma redução de 97% nas emissões desses equipamentos.
A troca dos equipamentos também faz parte do projeto de ampliação e modernização do terminal da Santos Brasil, iniciado em 2019. Os investimentos passam de R$ 2,5 bilhões. Cerca de R$ 1,2 bilhão já foi aplicado.
A empresa espera atingir a marca de 3 milhões de TEU de capacidade até 2026, projeção que foi adiantada em cinco anos e estava inicialmente prevista para 2031. Hoje, o terminal opera com capacidade de 2,6 milhões de TEU.