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Augusto Cesar Barreto Rocha

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A Amazônia e a busca pelo certo

Todos que, ao menos, ouviram falar na Amazônia querem o certo e o melhor para ela. O mesmo desejo poderia ser um mantra para qualquer outro local na Terra. O problema começa ao tentar compreender o que está ruim e deveria ser transformado e o que está bom e deveria ser mantido, ou o que é o “certo” e o “errado”. Até que ponto queremos que os “outros” façam? Até que ponto aspiramos que nós façamos algo? De quem é o papel e com o que quero contribuir? 

A maior parte – ou um número muito próximo da totalidade – dos que deliberam sobre a Amazônia quer tirar proveito dela, seja pelo não aquecimento global, seja pelo mineral de seu subsolo. Com mais ou com menos democracia, pobreza, avareza, a qualquer custo, o alvo é sugar da Amazônia. Inclusive nós que aqui vivemos. O que será o certo para um, não será o certo para o outro, porque, como afirmou Descartes, não é o bom-senso que resolverá as questões, pois todos pensamos ter bom-senso em abundância. Precisamos encontrar uma construção harmônica e coletiva para o melhor de todos os povos do planeta, mas que seja aceita pelos moradores da região.

A The Economist divulgou, em 21/06/2023, o ranking das cidades mais habitáveis do planeta, com três brasileiras: Manaus, Rio de Janeiro e São Paulo, em uma mesma faixa do índice, entre 60 e 80. Como o Amazonas é pouco desmatado, então é possível coexistir na região uma cidade com mais de 2 milhões de habitantes em meio a uma floresta preservada, com convívio pacífico e por métricas internacionais. Mas o que queremos no Amazonas (1.571.000 km2) ou na Amazônia (5.082.539 km2) ou mesmo na PanAmazônia (7.702.264 km2) no longo prazo? Devastação da floresta? Pouquíssima ou nenhuma presença predatória, mas com um enorme desperdício de potências da natureza? O Amazonas possui parte importante da resposta.

A reflexão do equilíbrio entre o uso dos recursos com destruição mínima ou o uso econômico desenfreado é a questão que fica disfarçada nos debates liderados tipicamente por europeus. Precisamos retomar esta liderança, como o Brasil começou a fazer em 22/06 nos debates de Paris. 

A agregação de uma vida equilibrada e realmente sustentável na Amazônia passará por uma compreensão e respeito a quem nela vive, com escolhas muito experimentadas antes de implementar. Para chegar nisto, precisaremos admitir que não conhecemos a Amazônia e que muito existe de histórias de sucesso e fracasso na região. Quem não conhece só tem um caminho: estudar, pesquisar, entender. Apenas com a ciência é que poderemos começar a arranhar seus mistérios e encontrar as oportunidades não destrutivas, mas só existe recurso público para este tipo de empreitada, segundo se observa na história. No Brasil do presente, este recurso desapareceu, mas precisa reaparecer.

Mariana Mazzucato e outros autores, ao longo dos últimos anos, têm discutido esta questão. Em seu último livro, com Rosie Collington, “The Big Con: How the Consulting Industry Weakens Our Businesses, Infantilizes Our Governments, and Warps Our Economies” (“O grande contra: como a indústria de consultoria enfraquece nossos negócios, infantiliza nossos governos e distorce nossas economias”), lançado em março, pela Penguin e ainda sem tradução para o português, é feito um contundente alerta sobre a infantilização das discussões sobre desenvolvimento, na esteira de seus outros livros. Precisamos partir disto para definir nossos próximos passos de real governança e não de submissão ou de destruição.

A conclusão que deixo é que precisaremos aceitar o desconhecimento sobre a Amazônia, respeitar os povos locais, quer das grandes cidades, como Manaus ou Belém, ou de seu interior profundo, como Autazes ou Marabá, destruindo menos, mas ao mesmo tempo atraindo o mundo da ciência para compreender como potencializar as possibilidades biotecnológicas da região. Fora disto, iremos para um “greenwashing” (termo frequentemente usado para caracterizar ações que se dizem responsáveis ambientalmente, mas que de fato não são), uma destruição lenta e continuada, um isolamento com mortes erráticas ou uma guerra pela água, caso seja o último dos ecossistemas. 

Fora de um meio termo que seja mais voltado para a floresta e a sua proteção, não haverá salvação para a Amazônia. Enquanto todos só olharem para si, não haverá saída “certa”, mas apenas uma repetição da história, seja a do pau-brasil na Mata Atlântica, seja a da cadeia do alumínio, conforme relatado para o passado recente e extrapolado para o futuro próximo.

 

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TAGS Amazônia construção harmônica Mata Atlântica rio de janeiro The Economist

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