quarta-feira, 18 de dezembro de 2024
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A força do ORM e a sua importância para a logística portuária

Por Carlos Cesar Meireles Vieira Filho e Marco Grandchamps

 

O propósito de trabalhar comprometido com o ORM é    o de salvar vidas, e fazer um futuro sustentável

Davide Vassallo (CEO) da dss+

Durante a segunda metade do século passado, muitos foram os acidentes registrados globalmente. Dentre eles, um dos maiores desastres ambientais do mundo ocorrido entre as décadas de 1950 e 1960 no Japão, quando a Chisso Corporation foi responsabilizada por envenenamento das pessoas e contaminação do meio ambiente por lançamento de mercúrio na baía de Minamata.

Outro acidente de elevada proporção foi o vazamento de toneladas de gás isocianato de metila em uma fábrica de agrotóxicos desativada da Union Carbide em Bhopal, na Índia, em 1984, vitimando milhares de pessoas.

Em Chernobyl, na Ucrânia, em 1986, ocorreu o mais catastrófico acidente nuclear com a explosão de um reator durante um teste de segurança, o qual liberou 400 vezes mais material radioativo do que a bomba atômica de Hiroshima, Japão.

No Brasil, já neste século, registram-se desastres de elevadíssimo impacto às pessoas e ao meio ambiente. Dois dos mais graves ocorreram em Minas Gerais. Em 2015, em Mariana, o rompimento da Barragem do Fundão, da Samarco Mineração, contaminando o Rio Doce até a sua foz, no Espírito Santo. Em 2019, em Brumadinho, o rompimento da Barragem Córrego de Feijão, da Mineradora Vale, foi considerado o maior acidente do gênero no Brasil e um dos acidentes industriais de maior fatalidade do século XXI.

No campo da navegação, aviação, logística portuária, transporte rodo-ferroviário e operações logísticas, em espectro global, os exemplos são fartos.

Na aviação, com registro muito recente e de elevado impacto, houve o trágico acidente com o Airbus A320 da LATAM, em 2007, com origem em Porto Alegre, o qual não conseguiu pousar em Congonhas, chocando-se contra um prédio da própria companhia, deixando 199 mortos entre tripulantes, passageiros e pessoas da região.

Ainda que haja registro de um sem-número de eventos, findamos com a citação do grave incêndio em um dos terminais de líquidos na Alemoa, na margem direita do Porto de Santos, em 2015, que perdurou por nove dias; o incêndio em terminal retroportuário de contêineres, em Guarujá, na margem esquerda do Porto de Santos, em 2016; bem como a explosão em um dos silos de secagem de grãos em Pelotina, PR, em 2023, vitimando oito pessoas e deixando 12 feridos. Em 2024, outro incêndio, desta vez em centro de distribuição em Barueri, SP, em galpão de operador logístico, mostra a vulnerabilidade das operações e seus impactos.

A pergunta que talvez muitos se façam é: o que todos esses desastres e acidentes têm em comum? Todos ocorreram por um conjunto de falhas e todos eles poderiam ter sido evitados!

Gestão Operacional de Risco | Operational Risk Management (ORM)

A definição de risco na norma ABNT NBR ISO 31000:2018, d.d. 28/03/2018, diz que “Risco é qualquer coisa, desconhecida ou incerta, que possa impedir e/ou alterar os resultados esperados.”

Desta forma, podemos ter uma operação livre de riscos? A resposta é NÃO!

Risco é inerente às operações. Não se pode, portanto, eliminá-los na totalidade! Pode-se e deve-se estabelecer métodos e critérios confiáveis e seguros para que se estabeleça uma gestão operacional de risco que utilize as melhores práticas disponíveis, capazes de mitigar e controlar os riscos das operações.

Nos exemplos aqui trazidos, vimos que acidentes, desastres, fatalidades, não ocorrem apenas por um só fator, uma só causa!

É o que nos ensina a Pirâmide de Frank Bird. Ocorrência de simples desvios, comportamentos inadequados e inseguros; ambientes insalubres, condições operacionais sob estresse, questões climáticas adversas, vícios operacionais, ausência de cultura de segurança e gestão de risco, ao encadeirarem-se repetidamente, levam a acidentes fatais.

A Gestão Operacional de Risco, ou ORM (Operational Risk Management) é um conjunto de métodos, práticas e técnicas que visa estabelecer nas organizações a Mentalidade em Gestão de Risco e a Cultura de Segurança como sendo valores inegociáveis e que, necessariamente, esteja presente em TODOS.

A cultura de segurança precisa ser defendida pelo principal da organização, que fará permeá-la por toda a empresa. Cultura de segurança tem que ser percebida no primeiro ponto de acesso da organização, perpassando por todos os seus departamentos e setores até o último ponto de saída.

Para que uma empresa tenha Mentalidade em Gestão de Risco e seja assim percebida, sendo parte da sua governança, tem que ter o comprometimento da alta administração! Sem o desejo expresso do CEO nenhum programa de ORM logrará êxito!

É preciso entender a importância da Gestão de Risco para o negócio da empresa, para os vários stakeholders. É necessário que a alta administração saiba a importância de um acidente para a empresa! Acidentes graves não só são indesejáveis pela ruptura operacional e risco às pessoas, como são, per si, ofensores que derrubam valor de mercado da empresa!

Desta forma, espera-se da alta administração a definição da tolerância e do seu apetite ao risco! O que não é aceito, não é tolerável! Perfil de risco é uma questão técnica. Apetite ao risco é uma questão política da empresa, sendo definido pela alta liderança, o qual influencia o comportamento, decisões e investimentos da empresa.

Assim, a mudança cultural da organização irá formular o comportamento das pessoas, cristalizando a necessária Mentalidade em Gestão de Risco. Através da Curva de Bradley, vê-se a evolução da força organizacional quanto ao gerenciamento do risco por toda a empresa. Nela, a empresa caminha do ambiente reativo (instintivo), evoluindo para o dependente (supervisionado), passando pelo independente (individual), até atingir o interdependente (equipe), quando a cultura de gestão de risco e de segurança, passa de cuidar não só de si, mas dos outros, tornando-se um sentimento de orgulho para todos!

Conclusão

O valor de mercado da empresa tende a ser tão maior e crescente, quanto maior for a percepção de todos os stakeholders de ser ela uma empresa comprometida com a Cultura de Segurança e Mentalidade em Gestão de Risco.

Por outro lado, o risco é inerente às operações, portanto, sempre estará presente, muitas vezes invisível, outras vezes latente, mas sempre estará presente! O necessário é estabelecer uma eficiente Gestão de Risco capaz de identificá-lo, tratá-lo, gerenciá-lo e mantê-lo sob controle, mitigando ao máximo a sua profusão e o seu descontrole.

Carlos Cesar Meireles Vieira e Filho. Sócio-diretor da Talentlog – Consultoria e Planejamento Empresarial Ltda., Business Development (BDA) da dss+(DSS Sustainable Solutions Switzerland SA) e fundador e ex-presidente da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol)

Marco Grandchamps. Latam Business Director – Infrastructure | Transportation | Manufacturing da dss+(DSS Sustainable Solutions Switzerland SA).

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