A primeira impressão é a que fica. É isso mesmo?
“A primeira impressão é a que fica para quem tem preguiça de olhar uma segunda vez.”
Day Anne, pensadora
Recentemente ganhei um Kindle da nossa filha mais nova, Giulia. Para um leitor voraz como eu, foi o presente ideal. Há tempos venho lutando com a ideia de comprar um. Acesso a uma biblioteca enorme, através de um dispositivo leve e fácil de carregar, é uma ideia ótima. Confesso que não o fiz porque, no fundo, no fundo, sentia como se fosse uma traição aos meus velhos amigos, os livros de papel.
Nasci digital, adoro manusear e gosto até do cheiro dos livros, revistas e jornais. Nunca me incomodei de ficar com os dedos manchados de preto após a leitura completa de um jornal de domingo.
Vasculhar uma livraria sempre foi uma ótima diversão para mim. Com esse mesmo espírito, abri o campo de busca desse meu novo amigo. De cara, um título chamou minha atenção: Manual de Persuasão do FBI, de Jack Schafer e Marvin Karlins. Jack é ex-agente especial do FBI, onde fez carreira no Programa de Análise Comportamental da Divisão de Segurança Nacional. Ali desenvolveu técnicas inovadoras para persuadir e detectar mentiras, por exemplo. Depois de se aposentar do FBI, tornou-se professor universitário e consultor de segurança. É autor de artigos acadêmicos e livros sobre comportamento humano, principalmente. Óbvio que suas técnicas baseiam-se em conhecer, avaliar pessoas e seus comportamentos e, com base nisso, criar relacionamentos que levem a um ou mais objetivos desejados. Esse é o ponto. Perceba que estamos falando, em última análise, de criar bases para iniciar e manter (que é muito mais difícil) relacionamentos, logo, serve para usarmos em qualquer ponto de nossas vidas pessoais e de nossas carreiras.
Quem não depende de bons relacionamentos no seu dia a dia?
Esse é um dos meus temas preferidos. Busco constantemente aprender tudo que posso sobre desenvolvimento de relacionamentos, o suficiente para ter certeza que, para ser eficiente e eficaz nesse tema, a primeira coisa a ser feita é comunicar-se de forma assertiva, desde o primeiro momento, da primeira impressão. Isso vai muito além das palavras. Comportamento, linguagem corporal, dizem muito mais sobre quem você é do que suas palavras. Por isso, não podemos parar a análise e concluir algo definitivo sobre alguém usando apenas o que observamos apenas na primeira impressão. É pouco e impreciso.
Jack Schafer propõe um exercício muito interessante, no início de suas palestras, que mostra bem o desafio de comunicar-se bem num mundo onde o contato direto, olho no olho, entre as pessoas é substituído diariamente por diversas ferramentas como e-mail, WhatsApp e redes sociais.
A brincadeira é a seguinte: convida duas pessoas para virem ao palco e sentarem-se frente a frente. Contato visual pleno. Pede então que iniciem uma conversa que dure cinco minutos. Normalmente o resultado é quase nenhum. Pede então que os mesmos participantes invertam suas posições, ficando de costas um para o outro e iniciem uma conversa, usando um aplicativo de mensagens. A conversa, então, flui.
E, estranhamente, é aí que mora o problema: a comunicação acontece, mas não se transforma em relacionamento. Não há elementos suficientes para conhecer, de verdade, o outro. Por isso os relacionamentos ficam apenas na superfície. Repito: o contato pessoal muda nossa percepção sobre o outro. Quantas vezes você encontrou-se no mundo real, com alguém com quem tivesse contato anterior apenas através de e-mail ou rede social? Não sei qual é a sua sensação, mas a minha é: “Pôxa, você existe de verdade!”.
O livro propõe uma fórmula simples e interessante para intensificar um relacionamento real, que o autor chama de Fórmula da Amizade, a qual, matematicamente, define assim:
Amizade = Proximidade + Frequência + Duração + Intensidade.
Proximidade é a distância real entre você e o outro e a exposição que isso pode criar. Em outras palavras, significa estar no mesmo espaço físico do outro e ser gradual e naturalmente percebido por ele, nesse ambiente comum.
Frequência é o número de contatos que você mantém com o indivíduo com quem pretende interagir, enquanto Duração é a quantidade de tempo que se passa com esse alguém. Frequência e Duração são importantes trabalhando juntos. Quanto menor a quantidade de contatos, maior deve ser o tempo investido em cada encontro. Na prática, esses dois fatores nos lembram quanto é importante estar presente em eventos, reuniões, etc, onde os demais stakeholders de seu ambiente profissional também estejam. Eu quase “li” o que você pensou agora: Acredite, não é perda de tempo. Tanto quanto, é um enorme ganho, cada minuto que você investe convivendo com família e amigos.
Intensidade é o fator que solidifica o relacionamento, de verdade, na medida em que cada um compreende o quanto de empatia mútua é gerada, na medida em que se apresenta ao outro quanto de seus valores, conduta e comportamentos são semelhantes.
É uma teoria interessante. Mas, … você deve estar se perguntando: É o básico, o natural, não?! Você tem razão, mas a pergunta de um milhão de dólares é: Por que estamos fazendo isso cada vez menos? Vamos mudar essa dinâmica? Espero que sim e que nos encontremos no mundo real.