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Flávia Nico

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Aqui tem uma mulher

Acabo de ter o prazer de falar na II Jornada ESG, do Porto de Santos, sobre Equidade de Gênero. Tema que, como costumo falar, me escolheu. 

Tenho uma trajetória acadêmica. Há mais de 20 anos sou professora e pesquisadora e, em 13 deles, coordenei um curso de graduação. Já faz 2 anos que contribuo na Secretaria de Portos e aproveito a oportunidade para mostrar para outras muitas mulheres que há, sim, espaço para nós mulheres no setor marítimo-portuário. 

O ambiente de ensino é acolhedor para as mulheres. Ser professora é uma das primeiras profissões onde as mulheres foram acolhidas. Situação diferente foi quando estive nos papéis de coordenadora, de pesquisadora, de representante do notório saber. Nestes papéis eu precisei me reafirmar para lideranças masculinas que não tinham a mesma titulação ou a mesma trajetória acadêmica que eu. 

A superioridade do conhecimento feminino não é algo esperado e bem aceito por muitos em nossa sociedade… 

A desvantagem educacional das mulheres em relação aos homens é antiga e pode ser provada em dados. Trazendo a discussão para o setor portuário, além do desafio do conhecimento técnico, que segue concentrado na experiência prática de homens, também os cargos de liderança nos portos são majoritariamente ocupados por homens. E os desafios não param aí…

A entrada de mulheres no setor portuário ainda é tímida, como mostra o levantamento realizado pela parceria ANTAQ e Wista Brazil. Um relato comum das mulheres portuárias é que precisaram revisar a forma de falar, de se vestir, de se comportar para que fossem ouvidas e respeitadas. 

Como socióloga vejo isso como uma despersonificação do ser mulher, da nossa feminilidade, para ficarmos mais parecidas do que é ser homem. 

Em outras palavras, temos o obstáculo inicial da diversidade, ou seja, de ser mulher e estar presente num ambiente masculino; depois, temos o obstáculo da inclusão neste ambiente, e aí precisamos abrir mão de parte do que é ser mulher para ficarmos mais masculinizadas e assim sermos inseridas.

Se pegarmos fotos dos eventos que acontecem na área portuária observaremos que em 99% das fotos estão homens brancos de idade média – com terno cinza ou preto. No 1% há uma mulher. Já ouvi falas do tipo: É importante ter uma mulher na mesa, na foto, no palco… Para muitos, isso mostra que há diversidade… Ter uma mulher não é diversidade! 

Alcançarmos a diversidade no setor portuário é fundamental na trajetória de equidade de gêneros. Importante esclarecer que equidade de gêneros é buscar a igualdade na distribuição de benefícios e responsabilidades entre homens e mulheres, de acordo com suas diferenças e necessidades. Muito longe de mulheres se comportarem como homens, muito longe de acreditarmos ou defendermos que somos iguais. 

O que buscamos são oportunidades iguais, reconhecendo que somos diferentes.  

Para todas as mulheres que hoje atuam no setor marítimo-portuário, saibam que seus desafios são os meus desafios, que os nossos obstáculos são os de muitas outras mulheres, e que somos nós que podemos ajudar na transformação desse ambiente para que novas mulheres cheguem e sejam melhor acolhidas. 

Leio os resultados do levantamento da parceria ANTAQ e Wista Brazil como sinal de novos tempos, como uma rota de mudança, como a chegada de mulheres aos portos brasileiros. As lideranças permitindo, temos todas as capacidades para entregarmos a mesma produtividade que os homens. Havendo políticas de equidade, temos as mesmas chances de sermos tratadas de forma justa. Tendo oportunidades de aprendizado, temos as mesmas condições cognitivas. 

A questão é que uma mulher é sempre mais do que uma só. Onde tiver uma mulher, ainda que uma só, há ali uma conquista, uma porta, uma esperança de mais diversidade e de mais equidade. 

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TAGS equidade de gênero Jornada ESG mulheres portuárias trajetória acadêmica

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