As mudanças são muitas. Negociar nunca foi tão importante
“Negociar não é você contra o outro. São os dois juntos contra um problema”
Jay Shetty, autor, coach, influenciador, com mais de 38 milhões de seguidores nas redes sociais.
Vivas! As mudanças estão mais vivas do que nunca: Inteligência Artificial, automação, diversidade, governança, sustentabilidade, carbono zero, hidrogênio verde, projetos ESG…
Esqueci algo? Polêmicas ou não, bem vindas as mudanças! E sua irmã gêmea, a negociação. Se quisermos produzir resultados positivos, uma não pode andar sem a outra.
Como essa dupla afeta o mundo do trabalho portuário em que vivemos? Sim, pois esse cenário não permite que os Portos, Brasil afora, fiquem escondidos atrás de muros, apartados do que acontece a seu redor. Gigantes em tamanho e importância, mas escondidos, conhecidos apenas pelos “doqueiros” que lá trabalham.
TRABALHO! Curiosamente essa palavra, apesar de afetada, não aparece explicitamente na lista acima.
Logo ela, tão importante, para tantas e tantas famílias de portuários, é pouco explorada, no cenário de profundas mudanças pelas quais estamos passando.
Poderíamos estar discutindo a completa revisão nos instrumentos que regulam as Relações Trabalhistas, os temas que ligam quem contrata a quem fornece atividade profissional.
Falar sobre eles envolve rever o próprio significado dos termos TRABALHO e EMPREGO.
Continua havendo mais e mais trabalho? Sim! E cada vez menos empregos formais? Também, pelo menos da forma como o conhecemos.
A contratação com “carteira assinada”, regida pela C.L.T., uma senhora de quase 80 anos, não é mais a única alternativa. A crescente “pejotização”, contratação de profissionais que atuam como se fossem pequenas Pessoas Jurídicas, através de MEIs, etc é uma realidade. Contratos de Trabalho Temporário, Trabalho Intermitente ou a pura e simples informalidade são igualmente alternativas.
Em qualquer um desses formatos a relação é a mesma: profissionais executam determinada atividade, com a frequência combinada com o contratante do serviço, são pagos por isso e só voltam a se encontrar quando e se houver nova necessidade de prestação de serviço.
Essa realidade não deveria assustar os Profissionais e os Operadores Portuários. Há décadas temos regimes de contratação específicos para as chamadas Categorias Profissionais Diferenciadas: estivadores, capatazia, vigilantes de embarcações, trabalhadores de bloco e consertadores de carga. Os T.P.A.s – Trabalhadores Portuários Avulsos – trabalham sob demanda. Quando há trabalho, são requisitados, quando não há, não são. Nada muito diferente da “pejotização” pura e simples, com exceção da intervenção do Ogmo – Órgão Gestor de Mão de Obra –, que atua em todos os portos organizados, este uma exigência da Lei 12.815/2013.
Porém, há muito mais a ser tratado.
O conjunto de temas a serem seriamente conversados vai muito além da remuneração por “faina” (como é chamado cada trabalho realizado por essas categorias) ou o tamanho dos “ternos” (grupos de trabalho que executam trabalhos de estiva e capatazia). É pouco.
Quem está discutindo produtividade, reduções de custo e tempo, melhor ambiente de trabalho, a tecnologia que cria novos postos de trabalho enquanto dizima antigos?
É aí que entram as negociações. A discussão de qualidade que defendo produz resultados através de negociação, muita negociação. Clara e direta, sobre cada um desses pontos, incluindo-os na celebração de Convenções ou Acordos Coletivos, afinal o “negociado” prevalece sobre o “legislado”, certo?
Na minha visão, as negociações efetivas são as que trazem à mesa fatos e dados que permitem falar abertamente, com coragem, sem agenda própria sobre trazer eficiência e eficácia aos processos de trabalho e proporcionar aos profissionais e empresas mecanismos que tornam o trabalho portuário atrativo.
Na prática, sinto falta de duas linhas de ação. O maior envolvimento dos reais interessados, os trabalhadores que podem perder seus postos de trabalho, e a atuação integrada entre Poder Público e entidades e empresas do setor portuário – sindicatos incluídos. Há iniciativas importantes ocorrendo, concordo, mas parece faltar um “catalisador” que acelere, complete e melhore esse processo.
Se quisermos trabalhar bem a relação ganha-ganha, Porto COM Cidade, temos que começar rapidamente a negociar ações que gerem melhores relações e ambiente para o trabalho portuário. Assim, aproveitaremos bem o melhor que esse momento tão rico pode nos proporcionar: criar para as gerações futuras um contexto de trabalho, tão ou mais atraente do que qualquer outro em nossa economia.
Hudson Carvalho é Consultor em Gestão de Pessoas e Estratégia Empresarial, Diretor Executivo da Elabore Online – Resultados Através das Pessoas e Diretor da WISDOM – Gestão Organizacional (Desenvolvemos Pessoas e Processos) – Baixada Santista e ABCD