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Hudson Carvalho

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Cuidado: equipes de trabalho não são família

Esta família é muito unida

E também muito ouriçada

Brigam por qualquer razão

Mas acabam pedindo perdão

 

Trecho de A Grande Família, tema do seriado de mesmo nome,

composta por Expedito Machado De Carvalho e Antonio Carlos Dos Santos Pereira

 

Minha mãe, D. Ébe, é uma pequena descendente de italianos, os Simonetto’s. Irmã do meio de outras quatro, teve que se virar muito cedo, após a morte do meu avô Luiz. Tem pouco mais de um metro e meio, mas sempre foi a líder que tocou o dia a dia da família com presença e energia maiores do que meu pai, que, como muitos, passava mais tempo no trabalho do que lidando com as questões da casa ou dos filhos. Ela não precisava falar nada. O simples olhar dos grandes olhos verdes, dizia tudo.

Em casa, tínhamos papéis definidos, que iam crescendo conforme ganhávamos condições de executá-los. Minha irmã e eu tínhamos responsabilidades e tarefas das quais cuidávamos com muito zelo, diariamente. E aí se não cuidássemos. Havia consequências.

As eventuais recompensas só existiam quando, e se, tudo estivesse limpo e arrumado, como combinado. Havia pouquíssima margem para o erro, porém, por mais que perante os outros, fôssemos obrigados a ser impecáveis, internamente, nunca nos faltava carinho e compreensão com os erros e faltas que cometêssemos. E elas existiam. Nunca houve dúvida de que, por mais que pudéssemos estar errados, não nos faltaria um lugar à mesa ou nos corações de todos.

É nesse ponto que eu paro o filme para divergir das empresas e líderes, que afirmam: “Aqui somos uma família”. Você vai ver que se trata muito mais do que uma questão de semântica.

Entendo a comparação simpática que se pretende fazer, mas equipes de trabalho não são famílias. Não é produtivo, e não explica bem o papel que uma equipe deve desempenhar numa organização, ao compará-lo ao de uma família.

Explico: numa família bem estruturada, se alguém passa dos limites, pode levar uma repreensão forte, mas não será posto para fora de casa. Numa equipe, também ela bem estruturada, ultrapassados os limites e as naturais chances de recuperação, muito provavelmente será demitido.

Equipes têm resultados a serem atingidos, seus membros têm responsabilidades definidas e competências técnicas e comportamentais que se completam. Funcionarão tanto melhor, quanto mais trabalharem apoiando-se de forma integrada. Não há espaço para destoar, por ser “queridinho”. Na família, amor e compreensão (e uma certa obrigação) manterão o elemento dissonante, dentro, quase sem consequências, quando muito um nariz torcido.

Chamar as equipes de famílias, passa um recado distorcido a respeito do compromisso de cada um, que é contribuir para o resultado com o melhor de seu conhecimento, habilidade e comportamento. Além disso, deixa a porta aberta para alguém dizer: “Se isso aqui é uma família, esse deve ser um cunhado” (Emerson e Almir, nem de longe estou falando de vocês), toda vez que for necessário demitir alguém. Cria, desnecessariamente, dificuldades para que se tomem essa ou outras decisões difíceis.

Na verdade, o nome que damos importa muito pouco.

Mal comparando, para ficar no campo da nomenclatura, é parecido com a diferença entre chamar o profissional de empregado, funcionário ou colaborador. O nome importa pouco. O respeito, muito. Se quisermos amenizar o termo, chamemos então de time.

.O que realmente conta é que a liderança de plantão seja capaz de inspirar, orientar e cobrar na medida certa, cada componente, na medida do seu grau de amadurecimento. Reconhecendo e corrigindo (com firmeza quando necessário) a cada tipo de comportamento apresentado.

Não podem faltar de verdade, para a formação contínua do Time, a atenção ao desenvolvimento individual, o privilégio à meritocracia, o respeito à diversidade e inclusão, com uma bela cobertura de foco em resultados, alinhados aos valores da organização, algo de que não se pode abrir mão.

Aqui abro parênteses para uma preocupação pessoal, que pode dificultar as coisas: o pouco compromisso com o desenvolvimento da maturidade, que muitos profissionais (e pessoas) apresentam hoje em dia. Não se trata, inclusive, de uma questão de idade. Há jovens maduros demais e seniores infantis na mesma proporção. Não é possível delegar esse aspecto a ninguém, senão nós mesmos.

Um último ponto antes de encerrarmos, ao qual devemos estar atentos também. Não referir-se aos times como famílias, não quer dizer que não devamos estimular a boa convivência social, inclusive fora do ambiente de trabalho. Podemos ser bons amigos dos colegas de trabalho. Eu mesmo tenho vários, dos quais não me separo, cujo relacionamento começou no ambiente de trabalho. Um encontro ao final da tarde, um churrasco no final de semana, são muito positivos se cada um souber separar os papéis que possui em cada lugar.

Vamos separar as coisas?

Hudson Carvalho é Consultor em Gestão de Pessoas e Estratégia Empresarial, Diretor Executivo da Elabore Online – Resultados Através das Pessoas e Diretor da WISDOM – Gestão Organizacional (Desenvolvemos Pessoas e Processos) – Baixada Santista e ABCD

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