Debate público faz falta
Estamos realizando um debate público baseado em humores e rumores, com fontes sem nomes, como “o mercado”, “o Judiciário” ou “o Governo”. Não há clareza com nomes ou responsabilidades efetivas, ou mesmo sobre papeis e resultados. Cai adequadamente ao que o filósofo norte-americano Jason Stanley chamou a atenção: encher o espaço público com bobagens, o que, segundo ele, é consistente com uma armadilha para retirar o foco sobre o que realmente interessa.
O debate público brasileiro está alicerçado em fofocas e não em fatos e problemas da realidade. Há fome? Não se discute. Há problemas de mobilidade nas cidades? Ninguém fala nisso com métricas. Há problemas de eficiência no gasto? Não há discussão. Os parâmetros gerais do debate são “ataques”, “favoritismo”, tribunais, decisões judiciais, “obrigar”, “critica” etc. Pouco ou nada se deliberam sobre o problema das pessoas. Assim, ficam desfocados os problemas reais e ficamos lidando com humores dos poderosos e dos “poderosos”.
Enquanto isso, nas cidades, há engarrafamentos que não fazem mais sentido, ausência de recursos no posto de saúde mais próximo de sua casa, universidades sem água, falta de discussões sobre a construção do futuro com drones, indústria 4.0 ou como formar pessoas para a próxima geração tecnológica com o uso das ferramentas de inteligência artificial.
Estamos realizando um debate público baseado em humores e rumores, com fontes sem nomes, como “o mercado”, “o Judiciário” ou “o Governo”. Não há clareza com nomes ou responsabilidades efetivas, ou mesmo sobre papeis e resultados. Cai adequadamente ao que o filósofo norte-americano Jason Stanley chamou a atenção: encher o espaço público com bobagens, o que, segundo ele, é consistente com uma armadilha para retirar o foco sobre o que realmente interessa.
A imprensa vai pouco a pouco perdendo o seu reconhecimento, fazendo um debate cada vez mais superficial, não aprofundando as questões, cheias de opiniões em “off” e pouca clareza sobre a diferença de informação e opinião. Estamos distantes do “fim da história”, predito por Francis Fukuyama. O Brasil está atolado nos problemas dos anos 1970, com cidades pouco inteligentes e uma sociedade com dificuldade de dialogar. Precisamos retomar com urgência a capacidade do diálogo, tanto público quanto privado.
Este desafio está posto para já. Teremos uma eleição municipal em breve e o que menos se vê são debates com densidades sobre os problemas reais da cidade onde vivemos. Fica natural compreender a desilusão das pessoas: não se fala sobre o que são seus problemas, mas apenas em humores e apoios. Não há junção de ideias ou ideais sobre o que pode ser feito, as razões, os diagnósticos, as causas ou efeitos. Apenas as vantagens pequenas, mesquinharias e imposições de vontades.
A saída para isso é um esforço coletivo. Precisamos mudar a pauta dos debates, pois interessa a todos que possuem poder que este modelo se perpetue, pois isso garante o poder. Todavia, se isso não mudar, voltaremos a ter uma onda de insatisfação, pois “nada disso nos representa” – afinal os problemas reais não são deliberados por ninguém e as bolhas vão ficando cada vez menores, sendo que os problemas são de coletividades e a soma de decisões individuais são pouco eficientes do ponto de vista econômico e social.
Estamos perdendo mais um momento de virada dos sistemas, pois há uma transição para novas ferramentas de inteligência artificial e de tecnologias integradas às cidades. É na administração municipal que estas soluções acontecem. É nas creches e no Ensino Fundamental que se plantam as bases para uma sociedade mais equilibrada e justa. Se mantivermos esta lógica em 2024, nosso 2025 e os demais anos adiante serão mais difíceis. Precisamos construir um caminho alternativo. A hora é esta.