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Emaculate Nenchang Asafor, Kribi, Camarões

Emaculate atua no “Harbourmaster´s Office” daquele porto.
Sua função é a de “beachmaster”. Única mulher na atividade, ela atua na coordenação
da atracação e da desatracação das embarcações, no controle do tráfego marítimo e terrestre
dentro da zona portuária. “É muito desafiador. Muitos pensam que esse é um trabalho
operacional só para homens. No meu departamento, por exemplo,
somos apenas 3 mulheres. Os outros 40 funcionários são todos homens”, conta.

 

Quem aqui nunca torceu por Camarões em Copa do Mundo? Conhecida como “Os Leões Indomáveis”, essa é daquelas equipes que nos encantam pela humildade, pela alegria, simpatia, mas também pela força e determinação. 

Pois são exatamente essas as características que chamaram a minha atenção à colega portuária africana Emaculate, de 48 anos. Formada em Gestão de Portos e Navegação na Universidade Marítima Regional de Accra, Gana, ela trabalha na Autoridade Portuária de Kribi. 

Emaculate atua no “Harbourmaster´s Office” daquele porto. Sua função é a de “beachmaster”. Única mulher na atividade, ela atua na coordenação da atracação e da desatracação das embarcações, no controle do tráfego marítimo e terrestre dentro da zona portuária. “É muito desafiador. Muitos pensam que esse é um trabalho operacional só para homens. No meu departamento, por exemplo, somos apenas 3 mulheres. Os outros 40 funcionários são todos homens”, conta.

Antes de seguir contando mais sobre esta leoa do Porto de Kribi, quero localizar um pouco mais este no contexto mundial. Kribi fica na Divisão Oceânica, na região sul de Camarões, no Golfo da Guiné. Conhecida pelas atrações turísticas, principalmente pelas belas praias, a cidade tem 40 mil habitantes. Além da pesca e da cultura do cacau, também tem a portuária como principal atividade econômica. O projeto da zona industrial e portuária local está em pleno desenvolvimento.

Entre os portos africanos, o de Kribi não é dos maiores. A propósito, do país, Douala está entre os dez principais portos do continente. No total, são seis os portos camaroneses: Douala (o mais movimentado), Kribi, Kribi Sul (que movimenta minério de ferro), Limbé, Garoua e Tiko.

Localizado a 35 quilômetros do centro da cidade, o Porto de Kribi tem como principal segmento o dos contêineres. Mas também exporta bastante madeira e importa cevada nos dois berços que tem. Emaculate ainda me contou que – diferente dos portos aqui do Paraná, no Brasil – nos de Camarões, o que eles chamam de “Harbourmaster´s Office” (HMO) é um órgão interno, como uma diretoria, na administração portuária.

O “Harbourmaster” é o capitão dos portos. Em Camarões, é o responsável pelo porto. É a autoridade marítima e portuária. Por isso, em relação a algumas funções, atua como a nossa Diretoria Operacional, adequada às proporções e realidades do porto local.

O HMO, assim como as demais diretorias de caráter mais operacional, fica em áreas mais próximas à zona portuária. Os demais escritórios, administrativos, estão na área central de Kribi. Em seu departamento, ela é a agente que representa diretamente o “cabeça”, o capitão do Porto de Kribi, nas inspeções. “Inclusive, sou responsável pelo Departamento de Controle de Qualidade e Estatísticas do porto, para manter os indicadores de performance, KPI´s”, afirma.

 

Emaculate faz planos para progredir na carreira portuária

Emaculate faz planos para progredir na carreira portuária

 

Emaculate vivia e trabalhava na cidade camaronesa de Bamenda, onde nasceu. Graduou-se em Medicina Veterinária, mas não chegou a atuar. Não era sua vocação. Foi então que resolveu mudar-se e buscar outro segmento. Foi para Douala, onde estudou Negócios. “Na cidade, meu irmão mais velho atuava na atividade marítima e portuária. E eu costumava acompanhá-lo no trabalho e logo me apaixonei pela profissão. Nessa época eu já me via trabalhando em portos”, lembra.

Em 2011, minha colega decidiu voltar às salas de aula. Foi estudar em Gana, com bolsa de estudos (uma das três que já conquistou na área). “Desde o primeiro dia de aula, eu me esforçava para ser a melhor. Isso aumentaria as minhas chances de ser contratada após a conclusão”, conta. 

De retorno a Camarões, em 2018, Emaculate entrou para os portos. “Hoje, sonho em ir ainda mais longe, alcançar posições cada vez mais altas. Chefe de departamento. Por que não capitão dos portos ou até GM (General Manager)?”, diz. Para isso, está fazendo cursos e dando continuidade na sua formação na área marítima e portuária para isso. O curso de Gestão Portuária para mulheres em Le Havre (França) fez parte desse caminho para o futuro. Ainda bem que eu tive a chance de compartilhar esse momento.

“Eu me tomo como exemplo para encorajar as mulheres a se juntarem a mim nesta profissão”, conta. Para isso, Emaculate integra organizações como a Women’s International Shipping & Trading Association (Wista) e Women in Maritime Association (Wima), associações internacionais de mulheres que atuam nas áreas marítima, portuária e de comércio exterior.

“Meu principal objetivo, ao integrar essas entidades, é sensibilizar as mulheres que atuam no Porto de Kribi a fazerem cursos na área e se desenvolverem na profissão. Fazemos isso promovendo mulheres internamente, organizando seminários, benchmarkings, conferências e treinamentos”, completa.

P.S.: Eu realmente fico fascinada por histórias como as da Emaculate! Espero que você também esteja curtindo essa série sobre mulheres que atuam em diferentes portos do mundo e que compartilham a missão de fazer aumentar a presença feminina no ambiente marítimo e portuário. Este foi o sexto artigo e outros quatro estão por vir. Na próxima semana, contarei sobre a advogada Bhavna, das Ilhas Maurício.

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TAGS áfrica Camarões Kribi mulheres setor portuário

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