sexta-feira, 17 de janeiro de 2025
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Luiz Dias Guimarães

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Entre escolhas e destino

Na cesta de desejos do novo ano sempre há escolhas. Escolho ser mais paciente, ser mais generoso e cuidar mais de mim. Escolho apenas o que posso escolher, por isso não escolho amar alguém, ter saúde e ganhar mais para a tranquilidade da vida.

Alguém dirá: a saúde de certa forma é uma escolha também, como ganhar mais. Sim, posso parar de fumar ou não, como trabalhar mais também. Ainda mais? Ao longo da vida fiz escolhas fundamentais ao meu caminho. As profissões que escolhi, as prioridades que dei à família, os desafios que aceitei.

Poderia, por exemplo, ter continuado a carreira docente na USP. Ou ter aceitado permanecer em universidade no Interior, cuja proposta me parecia irrecusável à altura dos meus vinte e oito anos de vida. Mas escolhi não lá continuar, sentia-me distante do meu mundo caiçara, familiar e mais cosmopolitano. A proposta era, sim, irrecusável, até que para batermos o martelo a reitora fez retumbante oferta: “Além de tudo lhe arrumo um bom casamento!” Pronto, acabara de sentenciar minha escolha, só de imaginar-me passando o resto da vida fazendo churrasco na fazenda do sogro.

Meu espírito queria mais, um ar que extrapolasse a rotina de uma vida monótona, ainda que revestida de conforto. Hoje me arrependo? Jamais, como raras vezes tive esse sentimento de querer voltar atrás. Somos andarilhos numa estrada onde bifurcam caminhos e temos de escolher, como quem decide num labirinto, afinal, nunca sabemos se preferimos o melhor.

A chegada do novo ano nos leva às promessas e decisões, importantes na pequena, mas importante medida em que determinamos nossa vida. Somos aves que voam às vezes ao sabor da brisa, outras contra a ventania, até que surge a tormenta ou um arremesso de estilingue.

A assustadora magia da existência é pouco conseguirmos prever, a morte que o diga. Cabe-nos parcela pequena para decidir, vez que a essencialidade na vida, como o coração em todos os sentidos, independe da nossa vontade. Sim, somos pássaros atrevidos a voar, muitos se sentindo gaviões, outros beija-flores, atraídos pelo sol que a todos ilumina, mas a poucos aquece.

Vivo sem pensar no destino, na sorte ou predestinação. Não frequento cartas ou búzios. Só o universo sabe o futuro que me espera. Cuido de cultivar meu presente, e faço as escolhas razoáveis de fazer.

Não evito aviões por medo da queda. Mas não mergulho em cachoeiras. Talvez a prudência seja a mais importante escolha a se fazer, ainda que soberano seja o destino.

Quando jovem voamos mais alto. Mas a esta altura da minha vida sonho mais rasante, por mais que tenha ainda grandes pretensões, como morar um dia na beira do mar, junto a um farol perdido em que gaivotas e pelicanos toquem a sinfonia à minha inspiração.

Sonho ainda sim, e não renego minhas escolhas. Como ser fiel aos meus princípios e ao meu sentimento. E não querer enterrar minha vida num pasto, ainda que ao sabor da picanha e o sibilar do canavial.

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