Entrevistas: só as perguntas difíceis!
Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas.
Sun Tzu (544-496 a. C.) estrategista, em “A Arte da Guerra”.
Falar em público dá um frio no estômago, não dá? Se fosse apenas isso, esse já seria um tema difícil, mas minha proposta vai além.
E se o “público” for um entrevistador? O “cara” que, sozinho, pode decidir se sua vida vai mudar ou não. Se ficará com o trabalho dos sonhos ou não. A tensão aumenta! A sensação não é boa.
Passei e passo muitas vezes por ela, como entrevistador inclusive, que é o lado onde estou nos últimos anos. Mas, ainda que a sensação seja forte e o momento de grande tensão, estamos falando de uma situação que ocorre poucas vezes ao longo da vida. Será?!!
Humm, … eu preciso lhe dizer que não. Na prática, todos somos “entrevistados” todo o tempo. Um bate papo no café, um almoço com um cliente, um churrasco “da firma” e pronto: estamos sendo observados.
Quer saber? Não é uma questão de maldade. O ser humano é um “animal social”. Vive (ou sobrevive) mais e melhor, quanto maior for a sua capacidade de observar os demais e, através dessa análise, antecipar movimentos, protegendo-se, se necessário. A maldade existirá quando, e se, usarmos esse poder de observação/ação para prejudicar o observado.
Por isso, a analogia entre a preparação para uma entrevista de emprego e as reflexões importantes para a carreira e vida profissional fazem sentido.
Há uma “entrevista permanente” em casa e nas organizações, do primeiro ao último dia de nossas vidas.
Quer dizer, então, que é preciso estar armado e atento, em estresse permanente, defendendo-se todo o tempo? Não!
Recomendo, sim, que não seja ingênuo e lembre-se que está sob a lupa de quem está à sua volta. Na maior parte do tempo para o bem e, em algumas situações, nem tanto. Mas, recomendo também que seja quem é de verdade, prepare-se continuamente para ser melhor, não se deixe intimidar e … siga com sua vida.
Lidar com a sensação de estar sob observação será mais fácil se tiver um roteiro de preparação, que possa usar no dia a dia, como se estivesse preparando-se para a tal entrevista de emprego. Vamos a ele.
Há um texto chamado “Six Grueling Job-Interview Questions To Get Through” (Seis Perguntas Exaustivas para Passar nas Entrevistas de Emprego), escrito pela coach de carreira Stacey Perkins e pelo gerente de consultoria Brittney Molitor, ambos da Korn Ferry. O texto se presta bem para essa comparação que pretendo fazer. É só manter a reflexão sempre presente.
Trarei as principais questões, mas permito-me acrescentar três – aquelas que sempre aparecem e que devem ser pontos de reflexão constantes: Fale-me sobre você? Quais são seus pontos fracos? Onde você se vê daqui a cinco anos?
São as clássicas, feitas para termos noção da personalidade, do potencial, de ambição, autoconhecimento e agilidade mental do candidato. Clássicas, porém, não suficientes em tempos pós pandemia para avaliarmos as referências que mudaram, por conta da importância que empresas e profissionais conferem a aspectos ligados a saúde emocional e qualidade de vida, como itens tão ou mais importantes do que a remuneração e a estrutura de benefícios. Lá vão as perguntas:
O que você acha do trabalho remoto?
Essa busca mais do que descobrir sua capacidade de ir e vir ao escritório. É feita para descobrir sua capacidade de colaborar e trabalhar efetivamente, esteja onde estiver. “Os empregadores querem saber que você fará o esforço (extra) para colaborar”, diz Perkins.
O que você faz quando comete um erro? Ou, “Conte-me sobre uma vez que você falhou”.
Busca descobrir como lida com o estresse, se é capaz de responsabilizar-se por erros e se tem capacidade de recuperar-se de fracassos.
O que você faz fora do trabalho?
Essa é típica de nossos dias e feita para descobrir o equilíbrio que você apresenta nesse momento de vida. Todos estamos preocupados com o esgotamento que ronda nossas equipes e a queda de produtividade que a acompanha. Além do trabalho, é importante ter hobbies, vida social, voluntariar-se ou qualquer outra coisa que o mantenha feliz.
Por que há uma lacuna de tempo no seu currículo (se houver)?
Nesse caso, deve-se estar preparado para discutir o que o impediu de conseguir um emprego. Durante a pandemia, muitos tiveram que cuidar de um dependente ou aprimorar suas habilidades profissionais, porque estavam reinventando-se profissionalmente. É aceito normalmente, mas é natural que a pergunta seguinte seja sobre a razão de estar procurando uma nova posição agora.
O que você faz quando discorda da decisão do seu gestor?
É importante mostrar as discordâncias, mas também como fez isso. Lembre-se daquela máxima: “Não é o que diz. É como diz.”. A pergunta também pode ser usada para determinar como você lida com feedbacks difíceis, se aceita críticas e é capaz de melhorar o seu trabalho por causa delas.
Percebe? “A vida imita a arte”. São questões que preparam para uma entrevista, mas principalmente para a vida. Fazê-las é um exercício de autoconhecimento que devemos fazer diariamente.