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Luiz Raimundo Azevedo

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Era da incerteza

Para a ALC, são projetados crescimentos na economia de 2,3% em 2022; 2,2% em 2023 e 2,4% em 2024. No Brasil, são esperados desanimadores 0,7% do PIB em 2022,1,3% em 2023 e 1,9% em 2024. No entanto, a inflação, a recessão e os juros altos podem alterar essas expectativas – pressões inflacionárias levam ao dilema de ter de escolher entre o crescimento a taxas satisfatórias e a estabilidade dos preços.


Recente relatório do Banco Mundial sobre América Latina e Caribe (ALC) diz que a vacinação pôs grande parte da região no caminho certo para recuperar empregos e renda perdidos no período da pandemia da COVID-19 e, também, explicita que os custos sociais foram brutais e distribuídos de forma desigual.

A Região Nordeste concentra quase a metade da pobreza do Brasil, onde a desigualdade social e a concentração de renda vêm atingindo índices vergonhosos e preocupantes. O 1% mais rico concentra 28,3% da renda total do País e, no que concerne ao IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), a região registra um dos menores na nação, estimando-se que mais de 10 milhões de nossos cidadãos brasileiros permaneçam na linha de pobreza extrema.

As causas são conhecidas e estão a exigir ação planejada e coordenada: falta de acesso à educação de qualidade (há exceções), política fiscal injusta, baixos salários, obstáculos de acesso à saúde, transporte público ineficiente e falta de saneamento básico, enfatizam os estudos e textos publicados no BE News, alguns de autoria do mestre Cesar Meireles. 

Para a ALC, são projetados crescimentos na economia de 2,3% em 2022; 2,2% em 2023 e 2,4% em 2024. No Brasil, são esperados desanimadores 0,7% do PIB em 2022,1,3% em 2023 e 1,9% em 2024. No entanto, a inflação, a recessão e os juros altos podem alterar essas expectativas – pressões inflacionárias levam ao dilema de ter de escolher entre o crescimento a taxas satisfatórias e a estabilidade dos preços.

Esse é um problema que precisa ainda ser resolvido. Uma agenda de reformas de longo alcance, inclusive do Estado, pode e deve ser consolidada nos próximos governos, é o que esperamos e queremos.

Por outro lado, a invasão russa causou quedas na produção, aumentos da inflação e maiores incertezas, inclusive quanto a mudanças climáticas que imporão dificuldades, mas também oportunidades de crescimento e bem-estar social na América Latina e no Caribe. A América Latina contribui pouco para as mudanças climáticas – queimadas, ocupações ilegais e garimpagem ilícita e predatória à parte – porém, a ALC é altamente exposta e vulnerável a maioria de seus efeitos prejudiciais.

Há perspectivas animadoras para os combustíveis alternativos (hidrogênio verde), as energias solar e eólica, os biocombustíveis de alta performance e para os minerais estratégicos, como lítio, níquel e cobre, essenciais para a transição energética e que, na ALC, são encontrados em quantidades apreciáveis. Por outro lado, a vantagem de ter alto grau de urbanização, o que favorece a eletrificação das cidades, a boa produtividade agrícola, sol e vento e domínio da tecnologia de uso dos biocombustíveis, como é o caso do Brasil, sim, são bons fatores de aproveitamento dessas oportunidades verdes.

No entanto, adverte o BIRD-Banco Mundial, se faz necessária uma combinação de incentivos e coordenação de investimentos públicos e privados que sejam oportunos ou mesmo cruciais. Políticas públicas importantes devem ser discutidas no Congresso e, com elas, é importante fixar corretamente os preços que incluam os custos para o meio ambiente, adequando ou até extinguindo, no médio prazo, os subsídios atuais para os combustíveis fósseis (um vespeiro perigoso), criando impostos para as emissões de carbono e incentivando a adoção de várias tecnologias de baixo carbono nas indústrias.

Mecanismos confiáveis e auditáveis de rastreabilidade ambiental, já existentes, devem ser analisados e auditados, para poder ser feita a premiação de projetos “green premium” e a adoção de um confiável mercado de créditos de carbono regulado. A agricultura inteligente, com as mudanças climáticas, precisa ter em mente a eficiência do uso da água de irrigação, do uso de biofertilizante e do aumento da produtividade com ciência e tecnologia. 

Capital social de qualidade deve ser formado com urgência e isso é um trabalho das universidades e dos centros de pesquisas nacionais, em apoio às iniciativas empresariais e do Sistema S. Vimos em Salvador (BA), com o Cimatec-Senai, um bom exemplo dessa ação estratégica. Inovações tecnológicas adicionadas aos nossos produtos ampliarão a nossa competitividade mundial.

As respostas do Brasil contra os aumentos das taxas internacionais estão ortodoxamente definidas. Os bancos centrais da América Latina e do Caribe, inclusive o do Brasil, optam sempre por aumento das taxas de juros para conter a inflação e proteger a moeda. Depois de reduzir a inflação e a desvalorização da moeda, creio que, em 2024, começarão a diminuir as elevadas taxas de juro para ajudar na recuperação da renda nacional.

Por outro lado, estamos assistindo ao maior choque de commodities dos últimos 20 anos. É preciso estarmos atentos para a questão dos fertilizantes, à desvalorização de nossa moeda, às duradouras invasão da Ucrânia e inflação mundial e, ainda, para onde irá o grande parceiro que é a China, com relação à aquisição de commodities, e assim, poder diversificar ainda mais o leque de países parceiros no comércio, na agenda do Itamaraty.

Petróleo, seu custo elevado, no entorno de U$ 100, e seus estragos ambientais inadmissíveis em certos nichos do comércio mundial – esse, sim, é o preocupante cenário e que precisa ser olhado com muita atenção e menos decisões desastradas e eleitoreiras. A época de poucas certezas e da globalização parece estar findando. Fica a dica do autor do clássico A era da incerteza: “a política é a arte de escolher entre o desastroso e o intragável”. Será ?

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