Façam seus jogos, senhores!
A vida é um cassino. A sorte é como chamamos o resultado do que fazemos neste existir. Um grande cassino onde apostamos no amor e nas derradeiras decisões que podem nos falir ou enriquecer. A energia, tão fundamental quanto o ar que respiramos, é a rodada da vez.
Corporações alucinadas apostam suas fichas na solução. A energia fóssil está condenada, é unanimidade entre tantos jogadores CEO e pesquisadores profetas. Mas esse resultado é fácil de prever, diz o crupiê que tenta animar a roda de jogadores.
A cada dia, leio sobre novos experimentos e novas promessas. Tenta-se de tudo para salvar o planeta. E o mercado. Já li e ouvi de tudo para gerar energia politicamente correta. O lítio foi o lance de partida, para louvor à memória de José Bonifácio, o Patriarca. Viabilizou o notebook, o smartphone e, tal a empolgação, até o carro do ano. A célula 18.650 virou palavra mágica da modernidade, permitindo que deslizemos feito gansos na avenida sobre patinetes.
A cada um que passa à minha frente, fico imaginando a hora que a energia dessas pequenas pilhas acabar e os ‘patineteiros’ ficarem largados no asfalto, tentando comprar pelo Mercado Livre novas células importadas que, às vezes, só contêm areia.
Com os carros não é diferente. O sonho da energia verde tem prazo de validade, e a fortuna que se pagou por um carro elétrico será dinheiro de pinga em poucos anos, quando as células atingirem seu tempo. Em resumo: o íon de lítio só serviu para abrir uma janela para o terceiro milênio. Cumprida a missão, creio, virará lenda, tal o seu custo, escassez e vida curta, como os smartphones que nos seduzem e em três anos nos deixam na mão.
Então, qual a alternativa? Os apostadores se olham em volta da mesa de apostas. CEOs iluminados na sua autoconfiança mais valorizada quanto ousada jogam as fichas na mesa: grafeno, grita alguém, riscando nervoso o lápis nas contas a pagar. Sódio, ouço ao lado. Metanol, grita um brasileiro. Água!, apela outro adiante. Amônia e hidrogênio…ouço por fim.
Que elemento é necessário para produzir o outro que gerará energia? Há uma sopa de letrinhas na tabela periódica da química que hoje atormenta a mente de quem só quer entender se aposta na compra de um carro novo flex, elétrico ou híbrido.
Fato é que tudo indica que aquela imponente SUV vai perambular para achar um posto que a abasteça em pouco tempo, para não desanimar tanto e antever que, em dois ou três anos, não valerá nem o prêmio do seguro.
A produção de energia limpa começa na natureza, continua nela e termina na esperança. O sol e o vento, o movimento das águas e até o ar que respiramos são as grandes apostas dos alquimistas modernos para gerar energia sem queimar. O que vem depois para mover nossos sonhos tem hoje vários caminhos – e trilhonárias apostas.
Afinal, nesse cassino, há uma sala reservada para as multinacionais automotivas e alguns desbravadores do espaço. Sim, porque não se joga só com a mobilidade no asfalto. Há um céu imenso e uma estratosfera maior ainda para sustentar sonhos espaço acima – e mergulho abaixo – atrás de estrelas, do Titanic, ou no mínimo para captar uma imagem instagramável do universo.
A indústria naval parece estar se definindo, na maioria, pelo hidrogênio, a partir da captação do vento. A automotiva joga na roleta com fichas também no hidrogênio e no sódio. Quanto à substitutiva das células de lítio, ainda há muito que se caminhar.
Nesse cassino de apostas, fico imaginando a qualquer hora, definidos a sorte e o vencedor, o crupiê acenando os braços e declarando solenemente: No mas, no mas! E muita gente fazendo fila com suntuosas e fumegantes limusines na porta do ferro-velho.