Fazer o bem é muito mais do que uma visão de mundo. É uma “competência” que tem o poder de mudar a sua carreira
“A alegria de fazer o bem é a única felicidade verdadeira.”
Leon Tolstói
Na última semana, estive presente a um evento em São Paulo. Uma grande cerimônia de premiação.
Entre as várias etapas, houve uma homenagem ao fundador da Cyrella, Elie Horn. Não quero me estender por sua biografia de 80 anos, que inclui o nascimento em Alepo, na Síria, a mudança para o Líbano e, finalmente, a instalação no Brasil, onde fundou a empresa na década de 70. Diagnosticado com Mal de Parkinson em 2012, acelerou a transferência de comando da empresa para seus dois filhos.
Longe do dia a dia da empresa, passou a dedicar-se com mais afinco à filantropia, que já praticava. Fundou o Movimento Bem Maior, que agrega outros empresários, como o fundador da MRV, da CNN e do Banco Inter, Rubens Menin, e o CEO da Localiza, Eugênio Mattar. Fundou também a Liberta, criada para combater a exploração sexual de crianças e adolescentes. Não é pouco.
A parte mais interessante vem agora: é até hoje o único brasileiro a aderir ao Giving Plegde, iniciativa de Bill Gates e Warren Buffett para estimular a filantropia. Na prática, isso resultou no seu compromisso de doar 60% de toda sua fortuna pessoal, avaliada em R$ 3,25 bilhões.
Eu o ouvi dizer de viva voz: “Só não doei 100% porque minha família não deixou.”
Todos rimos, mas a pessoa ao meu lado disse: “É fácil doar 60% de tudo que possui, quando é dono de bilhões!”. Errado!!
Viu o número, mas não viu a atitude. Sessenta por cento de muito ou de pouco são a mesma coisa. Imagine uma pessoa que ganha mensalmente R$ 10.000, doando regularmente R$ 6 mil.
Ainda que não significasse muito, é o exemplo que conta. Arrasta, como dizem.
No mínimo, quebra a prática comum de vermos pessoas muito bem parecidas nas fotos, mas sem colocar a mão no bolso. Nem um centavo que seja. Então, aqui vai a primeira parada para reflexão: saiamos das intenções. Se não fizermos nada de concreto, pelo menos não critiquemos.
Mas por que o título desse artigo afirma que fazer o bem pode ajudar a desenvolver a carreira de alguém?
Vamos lá. Primeiro, estudos mostram que a sensação de ajudar o próximo aumenta a serotonina, neurotransmissor que nos dá a sensação de satisfação. O nível de estresse diminui. A autoimagem e a autoestima aumentam. Parada para reflexão, número dois: o primeiro beneficiado, quando ajudamos alguém, somos nós mesmos.
Um desses estudos, da Universidade de Harvard, publicado no Brasil pela Revista Veja, submeteu 1.209 adultos a testes que avaliavam sua capacidade e disposição de fazer o bem e o correto. Submetidos a questões como “Estou disposto a enfrentar dificuldades para fazer o que é certo”, “Uso os meus pontos fortes para ajudar os outros” e “Estou disposto a abrir mão da minha felicidade momentânea para colher bons frutos no futuro”, os participantes respondiam segundo a seguinte escala: de zero (“Não tem nada a ver comigo”) a 10 (“Tem tudo a ver comigo”).
Essa pesquisa continuou acompanhando essas pessoas pelo ano seguinte. E descobriu que os que demonstraram espírito solidário apresentavam até 50% menos de probabilidade de sofrer um dos males do nosso século, a depressão. Concluiu também que eles se apresentavam menos ansiosos. Quanto maior a pontuação, menor a propensão às doenças cardiovasculares. Tudo isso, conseguido a partir da simples capacidade de verdadeiramente ajudar alguém.
Se você, como eu, gosta de fatos e dados, sugiro que leia as conclusões dos brasileiros Ricardo de Oliveira Souza, neuropsiquiatra, e Jorge Moll Neto, neurocientista, que submeteram candidatos a trabalhos voluntários a uma ressonância magnética no momento em que decidiam se iam ou não participar de uma ação. Eles descobriram que o ato de fazer o bem ativou regiões cerebrais relacionadas ao prazer e aos sentimentos de apego e pertencimento. Ora, não é isso que as organizações querem? Gerar em seus colaboradores a sensação de pertencimento, que aumenta a eficiência do time e por isso gera melhores resultados?
Para pessoas e empresas que pretendem criar ações de melhoria na saúde emocional, está aí um excelente caminho.
Obviamente, a definição de fazer o bem não se limita a dar dinheiro ou participar de ações de voluntariado. É mais do que isso. Está relacionada a padrões morais como honestidade, responsabilidade, respeito e empatia, qualidades que todos admiramos e que vão ajudar, sim, o desenvolvimento positivo das carreiras.
No fundo, no fundo, todos sabemos o lado certo das coisas, as verdades e os valores que sempre existiram e, espero, continuem existindo através de pessoas como você e eu.
(Leia mais em: https://veja.abril.com.br/comportamento/pesquisa-mostra-que-fazer-o-bem-traz-efeitos-positivos-para-corpo-e-mente/)