Finanças Comportamentais e investimentos ESG: cada vez mais protagonistas no Brasil e em Portugal
Na teoria econômica tradicional, os agentes são racionais, ou seja, utilizam todas as informações disponíveis para tomar a melhor decisão, gerando um mercado eficiente. Por outro lado, quando se observa o comportamento efetivamente adotado pelo investidor, há uma racionalidade limitada por uma série de vieses ou tendências comportamentais.
No contexto atual, o tema ESG vem ganhando cada vez mais espaço na tomada de decisões de investimentos no Brasil e em Portugal. Da mesma forma, é crescente o interesse em compreender de que maneira as Finanças Comportamentais podem colaborar com esse processo. Vamos abordar o conceito, as tendências comportamentais e as contribuições dessa disciplina na tomada de decisão.
Finanças Comportamentais é uma ciência que estuda as emoções que estão por trás das decisões financeiras. Os investidores nem sempre tomam a decisão que representa o melhor risco-retorno, uma vez que sofrem a influência das emoções, crenças e experiências passadas quando da avaliação de um investimento.
Há 20 anos, o psicólogo Daniel Kahneman ganhava o prêmio Nobel de Economia com a Teoria da Perspectiva, desenvolvida na década de 70. Em 2017, foi a vez de Richard H. Thaler, conhecido como o “papa da economia comportamental” pela conexão criada entre economia e psicologia, e os efeitos no mercado financeiro. O conceito de “arquitetura de escolha”, ou seja, métodos que buscam influenciar as ações das pessoas, também foi amplamente estudado.
Na literatura acadêmica, existem diversos livros, artigos e dissertações de mestrado, sendo um dos mais famosos, o livro “Rápido e Devagar: duas formas de pensar”, de Daniel Kahneman. A Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais), a CVM (Comissão de Valores Mobiliários, órgão regulador) e a B3 (bolsa de valores) também têm contribuído bastante com a divulgação de estudos e materiais informativos aos agentes econômicos.
Na teoria econômica tradicional, os agentes são racionais, ou seja, utilizam todas as informações disponíveis para tomar a melhor decisão, gerando um mercado eficiente. Por outro lado, quando se observa o comportamento efetivamente adotado pelo investidor, há uma racionalidade limitada por uma série de vieses ou tendências comportamentais. Ademais, algumas atitudes não levam em consideração todos os fatores e suas ações, às vezes, são equivocadas para simplificar a tomada de decisões de investimentos.
Há mais de 60 tendências comportamentais, dentre elas: efeito manada (seguir as ações de um grupo, mesmo que as mesmas atitudes não fossem tomadas se estivesse sozinho); viés da confirmação (viés cognitivo que influencia a maneira com que os investidores sopesam informações, dando maior peso às informações que confirmam suas próprias crenças e menor valor para aquelas que as contrariam); ou, por exemplo, o viés do enquadramento, que refere-se à inclinação humana de mudar decisões de acordo com a maneira como o problema é apresentado.
Algumas questões aplicadas aos investimentos ESG foram apresentadas em estudos recentes, a saber: “Será que os investidores com objetivos declarados, efetivamente, realizam escolhas de investimentos ESG? Será que a maneira com que as informações ESG são apresentadas aos investidores (enquadramento) é clara o suficiente para simplificar o entendimento deles do risco-retorno? Qual será a crença dominante dos investidores a respeito da rentabilidade dos investimentos ESG e o quanto o viés da confirmação impede investidores de incluir aspectos ESG em sua tomada de decisão?”
O objetivo das Finanças Comportamentais é impedir que o lado emocional do investidor atrapalhe a decisão de investimentos em novos negócios, momentos de prosperidade e, principalmente, em bolhas ou crise econômica. É reconhecer que pode ser alvo de um viés e que existem ruídos no curto prazo, mas que, na verdade, os investimentos devem considerar a capacidade de geração de caixa, os resultados dos ativos e a visão de médio/longo prazos.
Portanto, o uso de insights das ciências comportamentais pode blindar e contribuir para o crescimento e o interesse em investimentos que financiem o desenvolvimento sustentável. Há muitas oportunidades de investimentos no Brasil e em Portugal, sendo as Finanças Comportamentais e os investimentos ESG protagonistas nesse processo.
Marcelo Sobreira é professor universitário e consultor do mercado de capitais.