Hábito, essa força que me habita! mas que pode ser vencida
A gente não se liberta de um hábito atirando-o pela janela: é preciso fazê-lo descer a escada, degrau por degrau.
Mark Twain, Escritor norte-americano.
Minha mulher e duas filhas, cuidamos de uma tia, 88 anos, portadora de Mal de Alzheimer desde 2019. Um amigão, médico conceituado, sabiamente diz: “É uma doença que maltrata mais as pessoas em volta do que o próprio paciente”. Como sabemos, é uma patologia degenerativa que causa a progressiva perda de memória. Perde-se a lembrança de toda a história, da família, amigos e até da própria identidade.
Apesar desse processo, temos observado que apesar de desconhecer quase tudo sobre si própria, os hábitos permanecem quase exatamente como sempre foram. Intocados, numa repetição contínua.
Que força têm os hábitos!! Mas será que estamos fadados a sermos escravos deles? Na verdade, escravos de nós mesmos?
Duvido! Fui buscar ajuda de Charles Duhhig, jornalista do The New York Times, ganhador do Prêmio Pulitzer e autor de dois livros sobre o tema: Mais Rápido e Melhor, e do best seller O Poder do Hábito. A obra reúne pesquisas científicas, histórias reais de sucesso e mostra estratégias e técnicas que podem ser usadas no dia a dia pessoal e organizacional.
Mais que tudo, nos ajuda a compreender como assumir o controle de nossa vida e sermos exatamente quem desejamos ser, por meio de uma explicação científica de como os nossos hábitos são desenvolvidos.
Desafiador, não? Os estudos condensados no livro afirmam que 40% das ações que realizamos todos os dias não são decisões, são simplesmente hábitos repetidos.
Tentarei apresentar a ideia de forma resumida, começando pela pergunta: Como se formam os hábitos? Veja que interessante.
O cérebro é o órgão que consome mais energia no corpo humano. Então, para evitar gastá-la tomando decisões o tempo todo, cria rotinas para economizá-la. São os hábitos.
Na prática esse processo é a soma de: GATILHO (o “problema” que estimula cérebro para ir para o modo automático), ROTINA (as ações para proceder de forma mais simples e rápida) e RECOMPENSA (estímulo que determina se vale a pena lembrar e repetir a rotina).
Pronto! Está criado o HÁBITO, esse desejo neurológico poderoso – o qual nem percebemos que está se desenvolvendo.
E a mudança de um hábito, digamos, ruim, como acontece? São cinco passos.
Passo 1: Reconhecer o hábito que quer mudar, por exemplo, reduzir o tempo de uso do celular;
Passo 2:Entender o que está ocorrendo quando o hábito desencadeia: Que horas são? Quem está com você? Onde está? O sente? O faz antes ou depois?
Passo 3: Isolar o gatilho e a recompensa: O que desencadeia o hábito? O que você espera em troca?
Passo 4: Criar uma nova rotina: positiva, lógico, que substitua a anterior, que atenda de forma mais “saudável” o gatilho, que continuará existindo;
Passo 5: Repetir a nova rotina: quanto mais, melhor. Mais rápido a mudança de hábito ocorrerá.
Existem “facilitadores” nesse processo de mudar um hábito considerado prejudicial à sua vida e/ou carreira. Primeiro e mais importante, ACREDITAR. Sem fé de que você tem força, tempo e coragem, nada muda. Em seguida buscar proximidade com outros que desejem o mesmo tipo de mudança. Essa é a razão pela qual os grupos de apoio, de qualquer natureza, fazem tanto sucesso. O suporte de pessoas próximas, família e amigos, ainda que não estejam buscando mudança de hábito, ajuda bastante. Em terceiro lugar e – eu diria – o mais importante de todos, mudar um hábito por vez. Mudanças exigem grande dose de energia. Não dá para tentar abraçar o mundo. Um hábito de cada vez. O ideal seria começar pelo mais grave ou prejudicial. Mas sejamos sinceros: às vezes é trabalho demais para quem ainda não domina a técnica de mudar o hábito.
Há alternativa? Sim. Comece pequeno, usando a técnica “baby steps”. É o que Charles chama de HÁBITO FUNDAMENTAL. Pequenas vitórias vão criando ânimo e energia para voos mais altos, um padrão que nos convence gradativamente que novas mudanças estão ao nosso alcance. Aquela sensação boa de subir na balança e ver que perdeu peso após iniciar uma dieta. Transformam o Círculo Vicioso em Círculo Virtuoso, onde uma coisa boa produz outra e assim sucessivamente.
Há um ponto que quero reforçar: a mudança de hábito transforma pessoas, mas transforma também organizações. Sim, pois elas são movidas e principalmente lideradas por pessoas. São milhares de padrões (porque não dizer, hábitos), repetidos por cada um de seus membros que formam a cultura organizacional, forma de agir, tomar decisões e fazer negócios. Os papéis de cada um de nós pode mudar, em casa ou no trabalho, mas a essência de que somos nos acompanha aonde formos.
Uma última dica: momentos de crise criam a sensação de urgência necessária para promover mudanças, criar novos hábitos. Devemos aproveitá-los.
Não podemos controlar a forma como nosso cérebro cria os hábitos, mas uma vez tendo consciência deles, temos a responsabilidade de mudá-los. Vamos lá?
Hudson Carvalho é Consultor em Gestão de Pessoas e Estratégia Empresarial, Diretor Executivo da Elabore Online – Resultados Através das Pessoas e Diretor da WISDOM – Gestão Organizacional (Desenvolvemos Pessoas e Processos) – Baixada Santista e ABCD