Hidrogênio: chave da transição energética no setor de transportes
O setor de transportes é um dos setores de maior relevância quando se fala em transição energética. E, nos próximos anos, a demanda energética nesta área tende a crescer ainda mais, em consequência do aumento de consumo e da mobilidade pessoal, o que estimula a demanda de transportes de cargas e de passageiros.
Do ponto de vista da sustentabilidade, no entanto, essa projeção levanta uma bandeira vermelha, visto que, como consequência dessa alavancagem, teremos o aumento da emissão de gases poluentes decorrentes dos variados tipos de transporte, agravando os impactos – já bastante conhecidos – ao meio ambiente.
Com esse prognóstico, o mundo vem explorando uma variedade de soluções para transformar o setor de transportes em um setor mais limpo e mais eficiente – e, claro, mais sustentável. É nesse contexto que um elemento vem ganhando destaque mundial: o hidrogênio, considerado o “combustível do futuro”. Inclusive no contexto nacional, percebe-se relevância do tema, dado que no último dia 12 de junho, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em sua visita ao Brasil, anunciou que a União Europeia irá investir € 2 bilhões (cerca de R$ 10,4 bilhões) na produção de hidrogênio verde no Brasil.
Atualmente, é possível ver a utilização do hidrogênio aplicada em diferentes soluções para o mercado de transportes, a partir da transformação do calor gerado por esse elemento em energia. São vários os tipos de transporte em que se pode utilizá-lo: em trens, ônibus, veículos e até navios movidos a hidrogênio. Importante, então, levantarmos alguns dos pontos mais relevantes sobre esta larga utilização.
Primeiramente, faz-se necessário trazermos a diferenciação entre o hidrogênio azul e o hidrogênio verde, que são diferentes métodos de produção de energia, e que possuem diferentes custos, impactos ambientais e processos de produção. Enquanto o hidrogênio verde pode ser produzido a partir de fontes renováveis de energia, como a eólica ou a solar, o hidrogênio azul é produzido a partir de gás natural, o qual, quando aquecido com vapor, produz referido hidrogênio. Ocorre que este processo também resulta na produção de dióxido de carbono, um famoso vilão do meio ambiente. Entretanto, o dióxido de carbono gerado neste processo é armazenado no solo – ao invés de liberado na atmosfera, como no caso do hidrogênio cinza – o que ajuda a reduzir as emissões de gases poluentes, geradores do efeito estufa.
Isso significa que, enquanto o hidrogênio verde é considerado uma energia limpa, visto que utiliza fontes renováveis de energia, o hidrogênio azul ainda depende da utilização de combustíveis fósseis. Nesse sentido, diferentemente do hidrogênio verde, ainda que com uma emissão reduzida de dióxido de carbono, o hidrogênio azul não pode ser considerado uma fonte limpa de energia. Não obstante, a grande vantagem da sua utilização resta no custo para a sua produção, que é de duas a três vezes inferior ao custo de produção do hidrogênio verde.
Diante desse contexto, uma das questões que cercam o tema é: devem os governos apostarem no hidrogênio azul, já que é economicamente mais viável, e, melhor que o hidrogênio cinza, possui uma redução de emissão de poluentes atmosféricos, mesmo que isso signifique que se permaneça com a dependência de utilização de combustíveis fósseis? Ou deve-se priorizar a utilização do hidrogênio verde, que é a energia proveniente de fontes sustentáveis, ainda que economicamente menos escalável?
Entendemos que a resposta para essas perguntas não seria nem tanto ao céu, e nem à terra. A grande questão a ser colocada refere-se ao planejamento da transição energética de forma consciente, eficaz e adequada ao local de implementação.
Entendemos ser o hidrogênio azul um importante passo neste processo de transição energética, considerando que é mais sustentável e menos poluente do que a utilização de combustíveis fósseis. É, todavia, importante manter em vista que sua utilização deve ser transitória, visando, sobretudo, auxiliar a transição energética em razão do seu custo-benefício, focando-se no objetivo final de utilização do hidrogênio verde. Dessa forma, não há como negar que a utilização do hidrogênio azul é uma importante e necessária etapa rumo a uma transformação sólida para as fontes energéticas sustentáveis.
Por fim, é importante ter em mente que a alteração da matriz energética dos países é um processo complexo e, como tal, leva em conta diversas variáveis. Faz-se essencial, porém, construir o planejamento dessa transição de forma consciente, considerando soluções intermediárias como válidas, mas sem que isso signifique o desvirtuamento do planejamento de alteração da matriz energética sustentável e eficiente.
Notas: