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Augusto Cesar Barreto Rocha

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Infraestrutura para as regiões negligenciadas

Sigo incomodado como não fazemos nada de infraestrutura na Amazônia, sob uma desculpa recorrente (e falsa!) de preservação do meio ambiente. De fato, usamos a natureza como desculpa para a inércia, pois há um espaço enorme para ampliação da governança da Amazônia.

Políticas igualitárias não promovem a equidade e facilmente deixam muitos da sociedade para trás. Paul Collier, em seu novo livro “Left Behind: A New Economics for Neglected Places” (algo como “Deixados para trás:  uma nova economia para lugares negligenciados”, lançado em junho deste ano, ainda sem tradução, pela Penguin), começa sua reflexão com a indústria do aço de South Yorkshire que quebrou nos anos 1980 e, hoje, é uma das regiões mais pobres da Inglaterra.

Dentre diversas outras questões, o autor conclui que não há um único método de recuperação de economias outrora prósperas que se perdem e afundam em pobreza – e “devem variar de acordo com os contextos locais”. Ainda segundo o autor, as abordagens devem conter métodos que recuperem a economia passo a passo, dada a variedade de problemas de cada localidade. O autor, após suas pesquisas, deixa evidente a razão pela qual os métodos “genéricos” empregados por consultorias e bancos internacionais de desenvolvimento não são efetivos em solucionar problemas de desenvolvimento ou redesenvolvimento (como também discutido por Mazzucato e Collington no livro “A grande falácia: Como a indústria da consultoria enfraquece as empresas, infantiliza governos e distorce a economia”).

Outra questão que chama a atenção no texto é que não há métodos preditivos que consigam ser assertivos em problemas complexos. O autor discute várias questões e regiões, chegando até a uma discussão sobre a guerra (em curso) da Ucrânia e a imprecisão dos modelos preditivos iniciais. Longe de ter a intenção de resenhar o livro, trago a questão para refletir sobre a necessidade de transformar o Brasil em um local mais próspero. Nossas agendas públicas de economia se desgarraram da necessidade de transformação social. Estamos regredindo em políticas públicas trabalhistas e empresariais, focados unicamente em uma perspectiva especulativa e financeira, vendendo um medo eterno pelo “déficit fiscal”, sem pautas de crescimento.

A economia depende primariamente do otimismo e das expectativas. Precisamos de políticas públicas para incluir milhões de pessoas e de cidades em uma rota produtiva, com infraestrutura sustentável. Grandes planos para a infraestrutura sustentável precisam sair do papel e não apenas planos para não fazer nada, o que mais temos em relação aos desafios ambientais. Como exemplo, sigo incomodado como não fazemos nada de infraestrutura na Amazônia, sob uma desculpa recorrente (e falsa!) de preservação do meio ambiente. De fato, usamos a natureza como desculpa para a inércia, pois há um espaço enorme para ampliação da governança da Amazônia.

A saída para um país próspero passa por descolarmos as análises e discussões econômicas que tratam o Estado como uma empresa ou uma pessoa física. A alocação de gastos deve constituir um modelo futuro em que soluções regionalizadas e continuadas levem à correção do baixo desenvolvimento humano, com mais recursos para regiões periféricas, como na Amazônia, transformando suas perspectivas econômicas. A inserção de mais infraestrutura, com sustentabilidade, tem o potencial de gerar empregos, desenvolvimento e transformações, mas só faremos isso se tivermos a intenção de crescer e de transformar a sociedade para melhor. Fora disso, seguiremos a sugar o Tesouro Nacional e a sociedade com taxas de juro aviltantes, em um caos, com pessimismo continuados e discussões apenas sobre a próxima eleição ou como destruir o Estado e transferir recursos para cima da pirâmide social.

 

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