Internet, elixir da vida
Não sei se o mundo da internet me tornou um ser maior ou se fiquei mais perdido. Às vezes, a seguir tantos ensinamentos, creio que viveremos todos eternidade afora. Diariamente algum cientista diz haver descoberto verdadeiro elixir para milagrosamente nos curar de tantas mazelas. E oferece os poucos frascos do medicamento a preço módico. É a velha banquinha de remédio para calos circulando nas redes sociais.
Estes dias ainda um professor contou que desenvolveu um produto cuja substância foi responsável por recuperar e transformar em gênio um garoto vítima de uma barra que ceifou seu lóbulo frontal. Os milagres digitais agora extinguem o Alzheimer, sem falar de variados tipos de câncer. Quando somos vítimas de infortunada doença e consultamos um médico sobre essas descobertas, invariavelmente ele dá de ombros. Nunca sei o quanto esse profissional é desinformado ou eu sou um idiota por, no desespero, acreditar no que vejo por aí.
É quando reflito sobre o quanto lucro com tantos posts que me mostram como viver infinitamente melhor. Pequenas dicas que, se seguidas, me dariam sobrevida. Exemplo é a informação de que a saborosa batatinha Mc contém 17 produtos químicos nocivos. Ou que a salsicha é saborosa porque é feita com miolos do cérebro dos animais. Ou também que não devo ler jornal no vazo sanitário, se é que alguém ainda lê um periódico fisicamente, a não ser nossos companheiros caninos. Permanecer no trono além do necessário provoca prolapso retal!
Um médico é categórico: troque seu travesseiro a cada dois anos, pois se torna um cemitério de ácaros e cocôs de ácaro que são tantos a ponto de aumentar o peso do travesseiro e provocar rinite, sinusite e outras ites.
Alguns posts são bem-vindos, como os que alertam para as consequências de tantas horas no celular e o perigo de explosão e morte ao mantê-lo na tomada. Sem falar na irradiação. Outros posts ganham o status da filosofia, tantos são os mentores que querem me tornar um ser maior. E então fazem sacadas analogias. As formigas recolhem sementes e partem-nas em duas para que não procriem. E quando é semente de coentro, em quatro, pois elas sabem que mesmo dois pedaços da espécie podem gerar novas plantinhas desse tempero que abomino pelo cheiro. E aí perguntam filosoficamente: como as formigas aprenderam e transmitiram aos descendentes tal sabedoria?
Também questões práticas despencam no ecrã. Os pais agora não precisam mais fazer papel de bobo. Ao chegar em casa, com a criança aparentemente dormindo no banco de trás, basta fazer um teste, erguer seu braço. Se parar no ar, está mesmo dormindo. Se o braço despencar é porque a criança está fingindo e apenas quer um colo. Nessa já caí algumas vezes.
Ah, quantas descobertas! Por isso tudo fico ainda mais confuso. Mas ao menos agora sei que o beija-flor, que para no ar e voa para todos os lados, bate suas asas 80 vezes por segundo, o bicarbonato tem mais utilidades que o bombril, e talvez eu seja um psicopata, pois acertei um teste que, segundo o posts, só os gênios e psicopatas acertam.