Karishma Bhavna Gokhool, Porto Luís, Ilhas Maurício
As Ilhas Maurício são um paraíso localizado no Oceano Índico, bem próximo a Madagascar. Do continente africano, o país é o que tem um dos maiores IDH. O turismo é a principal atividade econômica, mas, desde o início dos anos de 2010, a atividade marítima e portuária segue em pleno desenvolvimento.
Nas ilhas, são dois os portos: Porto de Porto Luís (capital do país) e Porto Mathurin (na ilha de Rodrigues). Ambos são administrados pela Mauritius Ports Authority (MPA), que tem sede em Porto Luís. É nessa empresa em que Karishma Bhavna Gokhool trabalha.
Aos 39 anos, Bhavna entrou para a equipe da MPA em 2016. Advogada, atua como gestora dos serviços jurídicos da autoridade portuária. “Meu papel é assistir os demais departamentos em questões jurídicas. Estou envolvida na redação de contratos e documentos jurídicos”, detalha.
Antes de entrar para a MPA, a advogada trabalhava no setor de serviços financeiros, onde permaneceu por seis anos. “Mudei de área à procura de melhores perspectivas de carreira e oportunidades de desenvolvimento profissional”, revela.
Formada em Direito pela Universidade das Ilhas Maurício, Bhavna tem mestrado em Direito Comercial Internacional pela Universidade de Kent (Inglaterra). A profissional ainda é qualificada como “chatertered” em Governança (como se fosse juramentada para atuar nessa área) e, desde 2019, é membro associada do Chartered Governance Institute (Reino Unido).
Como o setor portuário é parte essencial da economia mauriciana, a boa governança, como completa a profissional, dá maiores segurança e tranquilidade aos players e contribui para os portos do país serem bem-sucedidos e sustentáveis. “A boa governança é imprescindível para o bom funcionamento dos portos”, afirma.
“Os princípios fundamentais da boa governança incluem Justiça, Responsabilidade e Transparência. Isso é alcançado através do cumprimento de regras e regulamentos, leis nacionais e convenções internacionais”, defende a especialista.
A Autoridade Portuária das Ilhas Maurício tem um quadro com cerca de 550 trabalhadores (mais ou menos como nós, aqui na Portos do Paraná). Desse total, lá, 150 são mulheres. “A maioria delas está na área administrativa”, diz. Mas, lentamente, como conta Bhavna, a presença feminina tem crescido nos portos da Ilha, também nas operações e até na área de segurança.
As ilhas têm portos pequenos. Juntos, movimentaram, em 2021, pouco mais de 7,6 milhões de toneladas de cargas, principalmente de importação. Além de passageiros, eles atendem a cargas conteinerizadas, granéis sólidos e líquidos e o mercado de pescados.
Sobre este último, tenho que destacar que o país tem uma forte indústria para atender à pesca: além da pesca em si, fazem transbordo de peixe, armazenamento, processamento, triagem, classificação, limpeza, filetagem e enlatamento.
Como garante a Autoridade Portuária das Maurícias, “todas as empresas de produtos do mar sediadas nas Ilhas Maurício operam de acordo com as normas da UE (União Europeia) e estão registradas para assegurar o nível exigido de conformidade alimentar e de segurança dos seus produtos”. A estimativa deles é de que 25% das importações de atum enlatado da Europa sejam provenientes do Oceano Índico, tendo a nação como um dos maiores exportadores.
Como minha amiga Bhavna me contou, a MPA é a única autoridade portuária no país. “Todos os anos, a MPA concede e renova cerca de 150 licenças a agentes de navegação, fornecedores de navios, operadores de carga a granel, empresas de pesca, arrendatários, inspetores marítimos, inspetores de mercadorias, estaleiros, entre outros”, diz.
Segundo a advogada, ao longo dos últimos cinco anos, a autoridade portuária tem atuado para ampliar a movimentação de contêineres e o abastecimento de combustível. E trabalhou na construção de um terminal de cruzeiros moderno e no desenvolvimento de um porto específico para a pesca. “Antes da pandemia da covid, o tráfego de peixe era de cerca de 155 mil toneladas por ano. Mas com a covid, o volume foi reduzido”, completa.
Bhavna gosta muito do seu trabalho. O mais interessante da atuação jurídica nos portos, segundo ela, é elaborar regulamentos e políticas para a área. “Pode ser demorado, mas, ao mesmo tempo, tenho a oportunidade de trabalhar com diferentes departamentos e partes interessadas, tais como ministérios e o Gabinete Jurídico do Estado”, conta.
O trabalho da advogada na MPA é dinâmico, exige cautela e há muita pressão. No entanto, a superprofissional atua colaborando para que os riscos legais sejam mitigados. “Eu espero reunir experiência e conhecimentos e que, um dia, possa trabalhar em projetos conjuntos com outros advogados em outros portos do mundo”, diz.
P.S.: Mulheres tão diferentes. Diferentes atuações, campos profissionais e objetivos. Mas enfrentamos desafios comuns em nosso dia a dia nos portos. Que neste texto, nos anteriores e nos próximos que virão, eu possa estar conseguindo passar um pouco de como superam e avançam essas portuárias.
P.P.S.: Não perca o próximo perfil, que será com Amany, do Egito.