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quarta, 03 de julho de 2024
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Marcelo de Souza Sobreira

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Mercado de Capitais de Portugal: uma alternativa de financiamento à transição energética

O mercado de capitais é composto por diversos atores, dentre eles: as empresas emissoras de ações que buscam fontes de financiamento para seus projetos de crescimento; os órgãos reguladores, que são fundamentais para dar transparência e confiança ao sistema financeiro; as instituições financeiras e de capital de risco, composta pelos bancos, corretoras e empresas de private equity e venture capital; e, por último, mas não menos importante, os investidores, agentes detentores de recursos para investimentos e com visão de longo prazo.

O mercado de capitais também tem o papel de contribuir na agenda de logística e infraestrutura, notadamente ao financiamento para transformação digital e à transição energética, temas recorrentes dos diversos fóruns de discussão de tecnologia e sustentabilidade, no Brasil e em Portugal.

Recentemente, assisti uma apresentação da empresa portuguesa The Navigator Company, que atua no setor de papel e celulose, floresta e energia, e tem presença internacional em aproximadamente 130 países. A companhia fez o IPO (abertura de capital) na bolsa local, foi a primeira empresa de Portugal a assumir o compromisso de tornar os complexos industriais neutros em emissão de carbono e, com isso, atingir uma redução de 86% das suas emissões de CO2 em 2035.

Outros exemplos de empresas do setor de energia que recorreram ao mercado de capitais para reforçar o caixa foram a EDP Renováveis, em abril de 2021, e a GreenVolt (antiga Bioelétrica da Foz). Com sede na cidade do Porto, a GreenVolt realizou o IPO em julho de 2021 e fez uma oferta subsequente no ano seguinte, ambas na Euronext Lisbon. 

A bolsa de valores portuguesa integra o grupo Euronext desde 2002, ligando a economia portuguesa ao mercado global de capitais. O órgão regulador local é a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM, equivalente a CVM do Brasil) e possui três objetivos estratégicos: garantia da integridade e da transparência dos mercados; promoção do desenvolvimento dos mercados de instrumentos financeiros; e a proteção dos investidores.

De acordo com dados da CMVM, o número de investidores ultrapassa 1,21 milhão (cerca de 10% da população) e estão distribuídos em 393 organismos de investimento em instrumentos financeiros. Em Portugal, há 3.900 entidades supervisionadas, 246 fundos e 64 sociedades de capital de risco. 

Em 2023, será criado um sandbox para promover a cultura de acesso ao mercado de capitais. Trata-se de um projeto inovador para educar e facilitar a entrada de empresas na Bolsa, ou seja, um programa que visa desenvolver um ambiente de experiência em mercado para potenciais novos emitentes.

A AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal) também vai ajudar a promover este projeto junto às empresas familiares portuguesas, para apoiar o financiamento da internacionalização ou reforçar as suas presenças nos mercados externos. Ademais, a Euronext lançou o segmento Tech Leaders, voltado para empresas ligadas às energias renováveis e de baixo carbono.

Cabe destacar, ainda, o estudo “Capital Market Review of Portugal”, publicado pela OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) em outubro de 2020, com recomendações para o investimento e o crescimento da economia local, concluindo que a melhoria do mercado de capitais pode ajudar Portugal a construir um setor empresarial mais dinâmico.

A despeito das incertezas geopolíticas trazidas com a guerra na Ucrânia e a possibilidade de recessão econômica do bloco europeu, um ambiente construtivo desenvolvido pelos agentes de mercado favorecerá a atração de investimentos de longo prazo.

Na minha opinião, as ações em curso estão no caminho correto para o desenvolvimento do mercado de capitais português como alternativa ao financiamento da transição energética e contribuirá também para a retenção dos profissionais mais jovens e de talentos do exterior.

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