Minhas três entrevistas com Pelé
Adoro a minha profissão e uma das melhores coisas é conhecer pessoas, das mais simples às mais famosas, todas acrescentam à soma das suas histórias. Pelé, por exemplo, consegui entrevistar três vezes. A primeira no início da minha carreira, com menos de 20 anos, no Jornal Cidade de Santos.
A segunda vez foi em julho de 1988, quando fiz uma longa entrevista para a edição de aniversário de um caderno de Cultura e Variedades que eu editava no Jornal A Tribuna. Fui convidada pelo meu amigo Rubinho de Souza para acompanhá-lo em um almoço de domingo na casa de Pelé, no Guarujá. Os dois eram muito amigos.
Chegamos junto com a jogadora Hortência, que na época estava famosa pelas fotos para a Playboy. Pelé nos recebeu muito bem, mostrou a casa, a capela, que era o seu orgulho, e foi um excelente anfitrião, servindo uma deliciosa feijoada. Não gostou quando eu falei a palavra entrevista e disse que não falaria, já recusara muitos pedidos de entrevistas de jornalistas de São Paulo naquela fase.
Acho que minha cara de decepção comoveu o Rei. Ele disse que me telefonaria outro dia, mas eu não acreditei. Quatro dias depois ele ligou para a minha casa e marcou a entrevista. Foram duas horas de conversa em que ele falou um pouco de tudo: religião, mulheres, política, corrupção e muito sobre a preocupação com os filhos. Fiquei muito feliz por mostrar outras facetas do atleta.
Anos depois, quando Pelé ia completar 50 anos, apareci três dias seguidos no campo do Santos Futebol Clube, na Vila Belmiro, e mesmo embaixo de chuva, fiquei firme acompanhando os treinos de Pelé. Ele dava voltas pelo campo e eu dava um tchauzinho e não falava nada. E nem precisava. Valeu o sacrifício e as horas de espera. Consegui a entrevista, em que ele falou comigo e com o jornalista Márcio Calves, a primeira sobre o aniversário. Até envelhecer foi tema da conversa. Pena que não guardei os exemplares, mas a memória ainda preserva bons momentos da minha vida profissional.