Motivação ou disciplina? Que tal os dois?
“A disciplina te levará a lugares que a motivação não alcança”
Alessandro Teodoro, que não consegui descobrir quem é, mas que está coberto de razão.
Um dos itens da agenda dessa última semana foi uma reunião em um dos sindicatos de trabalhadores com os quais negocio. Há mais de vinte e cinco anos, discuto temas árduos com os maiores e mais combativos, de norte a sul do País. Ao contrário do que sentem alguns dos meus colegas de Recursos Humanos, essa é uma atividade à qual me dedico com muito prazer. Gosto do contraditório, do desafio de discutir pontos de vista diferentes dos meus.
Mas não é da arte de negociar que pretendo tratar neste texto. É de motivação e disciplina.
Uai?! O que tem uma coisa a ver com a outra? Que salada é essa, que mistura reunião com motivação?
Explico. Chego sempre com antecedência aos meus compromissos. Cinco, dez minutos. E foi na porta desse sindicato, aguardando o início da reunião, que conheci o Wagner da Tapioca (@wagnertapioca).
Como não resisto a uma boa cocada, aquelas brancas, de fita, nem consigo ficar muito tempo sem falar, comecei a perguntar-lhe: Quem faz os doces (sim, além de tapioca, ele tem cocadas de vários tipos e quebra-queixo)? Quantos cocos processa por mês? Quantos colaboradores possui na equipe? E por aí, vai…
Ouvindo as explicações e vendo as fotos que ele orgulhosamente foi exibindo no smartphone, descobri uma estrutura enxuta, bem planejada, por trás do que parecia ser apenas um carrinho de doces. Seis pontos de venda, uma pequena fábrica, limpa e organizada, escritório, computador, todos os empregados registrados. Na sua simplicidade, soube discutir a composição do custo de cada produto, qual deles era mais rentável e porquê.
A motivação para produzir cocadas veio do desejo de “ser seu próprio patrão”, reforçada pela ideia de um tio, que “inventou” a máquina de cortá-las todas iguais. Foi o suficiente para começar, mas não para manter o negócio. Wagner acorda às cinco da manhã e começa a processar os doces. Lá pelas oito, leva a esposa, a filha e uma ajudante para a praia, onde juntos montam o “carrinho” de batidas que mantém igualmente organizado (@wagnertapiocadrinks). Volta para a fábrica, orienta o pessoal, distribui os produtos e sai – ele próprio – para vender também. Todos os dias, de segunda a segunda.
A lição do Wagner: motivação é imprescindível para começarmos algo, mas é a disciplina que nos faz chegar ao final.
As duas são importantes. São processos distintos que se complementam, quando o plano é nos movermos rumo a um objetivo importante em nossas carreiras ou vida pessoal.
Se fosse possível usar conceitos da Física para explicar esses conceitos, faria da seguinte forma: Motivação definiria como a força de destaque, aquela que, aplicada a um corpo, faz com que ele saia do repouso e inicie um movimento. É o momento em que a força de vontade (desculpe-me o trocadilho) faz a coisa começar a acontecer. É um evento único, dá trabalho, embora possa acontecer mais de uma vez.
Há dias em que acordamos com um impulso maior de colocar em prática as ideias que temos. São dias de “agora vai”.
A disciplina é mais trabalhosa. Ainda usando a Física, exige controle rigoroso da direção, da velocidade (e sua irmã, a aceleração) e do tempo. Vamos lá?
Direção: significa estabelecer onde estamos e aonde queremos chegar (não se impressione se muitos tiverem dificuldades de dizer sequer onde estão). Conhecer a direção nos dá rumo, o caminho a ser seguido.
Cuidado! Direção é diferente de sentido. Direção é o trajeto em si. Sentido define se estamos indo ou voltando. Quando se trata de praticar a disciplina, não há problema em reconhecermos que – em determinado momento – as dificuldades que enfrentamos estão acima de nossa capacidade de resolvê-las e, por isso, voltamos. Como nos jogos de tabuleiro, “voltamos duas casas” para fortalecermo-nos e avançarmos outras tantas. Estabelecermos o destino é análogo a definirmos metas. Então, outro cuidado: metas devem ser atingíveis. Nem fáceis demais, nem demasiadamente difíceis, que as tornem intransponíveis e nos façam desistir delas.
Velocidade e aceleração: são as medidas de quanto nos deslocamos no tempo e espaço (a aceleração mede a variação da velocidade). Aplicadas ao exercício da disciplina, refletem o ritmo que pretendemos dar às ações de mudança. Na verdade, a quantidade de mudanças que estamos dispostos a abraçar de uma só vez. Aviso: aqui reside o maior risco que corremos na caminhada para aumentarmos nossa capacidade de sermos mais e melhores disciplinados, que é sermos consumidos pelo dia a dia e suas urgências. Elas existem, devem ser resolvidas obrigatoriamente, mas devemos ter discernimento suficiente para voltarmos aos temas importantes. Sem essa volta, o exercício da disciplina se quebra.
Por fim, o tempo, senhor da razão. É fundamental termos e mantermos nossas agendas rigorosamente sob controle, incluindo obrigatoriamente, as metas estabelecidas em nossa programação diária. Não só pela clareza que prioridades bem estabelecidas nos dão, mas porque agir dentro de um espaço de tempo planejado nos permite tomar decisões melhores, livres da pressão que a falta de tempo nos traz.
Concluo essa reflexão revendo a origem dessas duas palavras que vêm do Latim: motivação, de motivus, coisa que se move. e disciplina, de discipulus, aquele que aprende.
Vamos nos mover para aprendermos, com a disciplina, a conseguir resultados.
Hudson Carvalho é Consultor em Gestão de Pessoas e Estratégia Empresarial, Diretor Executivo da Elabore Online – Resultados Através das Pessoas e Diretor da WISDOM – Gestão Organizacional (Desenvolvemos Pessoas e Processos) – Baixada Santista e ABCD
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