Não me chame de “selfmade man”
“Minha teoria dos “selfmade men” é, então, simplesmente esta; que eles são homens de trabalho. Quer esses homens tenham ou não adquirido excelência material, moral ou intelectual, o trabalho honesto, fiel, firme e persistentemente perseguido é a melhor, senão a única, explicação de seu sucesso”.
Frederick Douglass. Abolicionista, escritor e estadista norte-americano, conhecido como o Sábio de Anacostia
Respeito as pessoas que pensam. Respeito mais ainda se elas forem capazes de dizer o que pensam. Se explicarem porque pensam de determinada maneira, então, meu respeito chega ao máximo.
É o nível que dedico ao sr. Douglass, o máximo. Mas, … sou obrigado a discordar dele em um ponto.
Quando o assunto é fazer-se (vencedor) sozinho na vida, prefiro a definição de Arnold Schwarzenegger. E tenho que respeitá-lo também, pois além de exterminar o futuro na ficção, foi – na vida real – o 38º. governador da Califórnia, o estado mais rico da Federação Americana.
Sua definição é simples: “… você pode me chamar do que quiser, mas nunca, nunca, me chame de selfmade man. Isso passa a impressão errada de que você pode fazer tudo sozinho. Nenhum de nós pode. O conceito de alguém que se faz sozinho é um mito. Eu nunca poderia ter feito o que fiz em minha vida sem ajuda. Por que eu preciso que você entenda isso? Porque uma vez que você perceba que você está aqui por causa de muita ajuda, você reconhecerá que deve ajudar os outros”.
Poderoso, mesmo para quem já salvou o mundo mais de uma vez.
Falando sério, todos nós entendemos que o ser humano é um animal gregário, palavra bonita para dizer que a psicologia do homem o força a viver em grupo. O que começou como uma questão de sobrevivência, uma necessidade, transformou-se numa habilidade. Aristóteles tinha razão ao dizer que o “homem é um animal social”.
Se restar dúvida para um de nós, convido-o a imaginar alguém saindo do ventre de sua mãe e – sozinho – alimentar-se, vestir-se, mais tarde alfabetizar-se e por aí vai.
Mesmo entre as organizações, um dos exemplos mais bem acabados do que é possível construir a partir da ação conjunta de homens e mulheres, reina o consenso que os melhores resultados são obtidos pelas que possuem as melhores equipes, não os melhores talentos.
Veja, isso não quer dizer que não tenhamos a obrigação individual de progredirmos. Há um trecho bíblico que demonstra isso de forma interessante: “Pois a quem tem, mais será dado, e terá em grande quantidade. Mas a quem não tem, até o que tem lhe será tirado”. O trecho fala literalmente sobre talentos, mas poderíamos acrescentar a expressão “desejo de melhorar” e a explicação ficaria completa.
Quanto mais conhecimentos, habilidades e comportamento tenho para colocar à disposição do grupo, mais ferramentas temos para trabalhar junto com nossos semelhantes. Semelhantes, não necessariamente iguais, insisto, pois a ideia é justamente que as competências de um completem as do outro
Entendida essa primeira parte da ideia, quero voltar a Schwarzenegger e fixar-me na segunda, que é a necessidade de “ajudar os outros”, como ele diz. Esse ponto me parece o mais desafiador da atualidade, na medida em que está mais fácil concentrarmo-nos em nós mesmos do que nos outros. Ouço alguns dizerem: “Já é difícil ser eu mesmo, quanto mais ajudar ao outro”. É aí, caminhando sozinhos, que perdemos parte de nosso valor.
Nas empresas, em casa, na escola em que estudamos, no futebol aos finais de semana, ou vencemos como um time ou perdemos como indivíduos. Temos que colocar mais e mais energia em desenvolver a capacidade de melhorar o conjunto. A soma de 1+1 tem que dar mais do que dois.
Não há receita pronta para fazer um conjunto de pessoas funcionar melhor, mas tenho certeza de que os resultados começam a aparecer quando exercitamos três competências fundamentais: humildade, comunicação e liderança.
Quando falo em humildade, não quero dizer subserviência. Quero deixar clara a importância de, eventualmente tendo um conjunto melhor de habilidades, nós não nos sintamos melhores e mais importantes do que os demais. O contrário inibe o desenvolvimento do grupo e a qualidade dos relacionamentos.
A comunicação é o sistema circulatório de qualquer grupo, por onde se disseminam os objetivos e metas do conjunto, sim, mas também por onde tornamos conhecidas as competências de cada um de nós. Sem ela, o sistema simplesmente para de funcionar.
A liderança, além de dar ritmo e rumo, é capaz de inspirar – melhor seria dizer arrastar – todos a quererem ser melhores e a trabalharem de boa vontade em favor dos objetivos do conjunto.
Não é tudo, mas já cria base para um belo início. Está disposto, ou prefere fazer sucesso sozinho?