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terça, 02 de julho de 2024
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Hugo Figueirêdo

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O protagonismo do Porto do Pecém na transição energética mundial

O Ceará tem nas mãos uma oportunidade única de transformar gerações. A transição energética chega como um marco de desenvolvimento nunca visto na história do Estado. Tudo isso porque algumas das melhores condições para abrigar um hub de hidrogênio verde e liderar o movimento de transição energética no Brasil estão no Complexo do Pecém. A abundância em energias renováveis permite o preço mais competitivo do mundo. O investimento do Governo do Ceará em educação nos últimos anos supre a mão de obra exigida. A criação de um ambiente de governança facilita a instalação das empresas. Todos esses pontos unidos às vantagens do Complexo do Pecém, com sua área de Zona de Processamento de Exportação (ZPE) e a sociedade com o Porto de Roterdã.

 Nesse processo, os portos serão peça fundamental. Mas temos alguns desafios. O principal deles é a mudança. Mudança de processos, de mentalidades, especialmente num segmento que já atua há décadas da mesma forma. Para se manter competitivo é preciso acompanhar essa tendência mundial. No Porto do Pecém, temos alguns pontos que merecem destaque. Em março deste ano, durante a Intermodal – maior feira de logística da América Latina -, formalizamos a nossa adesão à Aliança Brasileira para a Descarbonização de Portos (ABDP). Ao todo, 14 portos do Brasil, além de empresas e entidades ligadas ao setor marítimo, assinaram a Declaração de Intenção de Ação Cooperativa que instituiu a ABDP. O principal objetivo é acelerar as ações de descarbonização no setor marítimo e portuário nacional, por meio da colaboração e do compartilhamento de experiências, tecnologias e informações.

Hoje, o Pecém é o terminal portuário com melhor colocação no IDA (índice que avalia indicadores, eficiência e qualidade da gestão ambiental dos portos) nas regiões Norte e Nordeste, com pontuação de 99,19. Dentro de nossas ações de priorizar o meio ambiente, oferecemos descontos para navios sustentáveis. No ano passado, 8% dos navios receberam esse benefício, quase o dobro do registrado em 2022, quando o índice foi de 5%. Nossa meta é seguir crescendo.

Comprometido com a transição energética nacional, o Porto do Pecém também tem avançado significativamente na eletrificação de suas operações. Hoje, cerca de 70% da movimentação no terminal já está eletrificada, incluindo os guindastes para movimentação de contêineres e placas, além da esteira para o transporte de insumos para a siderúrgica da ArcelorMittal, principal cliente do Porto. Para os próximos anos, o Pecém continuará avançando na descarbonização das operações por meio da eletrificação de outros equipamentos relacionados à logística portuária, perseguindo a meta de ser o primeiro porto brasileiro a oferecer energia para navios (shore power), permitindo que as embarcações atracadas no Pecém reduzam suas emissões.

Além disso, a fim de reduzir nossa pegada de carbono e demonstrar responsabilidade ambiental, realizamos aquisição de energia renovável para atender o Porto pelos próximos cinco anos. Essa energia terá a certificação internacional I-REC (International Renewable Energy Certificate), o que a torna rastreável desde a geração até o consumo. Isso vai incentivar a eletrificação contínua das operações portuárias, criando um ambiente propício para a aquisição de equipamentos elétricos ou a conversão dos equipamentos existentes, reduzindo custos operacionais e assegurando a conformidade com políticas de sustentabilidade.

Outra tendência que deve ser vista é a utilização de combustíveis verdes nos navios que farão o transporte do hidrogênio. As empresas de navegação em todo mundo estão estudando exatamente essa utilização, a melhor forma de implementá-la. E esse cenário deve se concretizar para que toda a cadeia logística relacionada ao H2V seja certificada como zero emissões de carbono.

Tudo isso dialoga com nosso projeto de tornar o Pecém uma referência na transição energética mundial. Hoje, temos seis pré-contratos assinados (AES, Casa dos Ventos, Cactus Energia, Fortecue, FRV e Voltalia), que já somam US$ 8 bilhões em investimentos até 2030. Isso deve duplicar a quantidade de empregos diretos e indiretos na região, que hoje é de 80 mil. As empresas já estão pagando pelo aluguel pelas áreas reservadas enquanto finalizam seus projetos. Elas têm até 2026 para tomarem suas decisões finais e assinarem contratos definitivos, iniciando a produção a partir do final de 2027.

Para receber essas empresas, a estrutura do Complexo e do Porto será modernizada. Será criado um corredor de utilidades por onde vão circular os dutos de amônia, gás natural, hidrogênio, água e a rede de energia elétrica. O píer 2 e o terminal de múltiplas utilidades do Porto devem sofrer adaptações para a operação de amônia e outros derivados do hidrogênio verde.

Além disso, uma nova subestação com linha de transmissão deve ser construída para garantir energia suficiente para os eletrolisadores (onde é produzido o H2V). Também será desenvolvido um Centro de Inovação em Combustíveis Renováveis no Pecém. Esses projetos terão financiamento de US$ 90 milhões do Banco Mundial, US$ 35 milhões do CIF (Climate Investment Funds) e contrapartida de US$ 10 milhões da CIPP S/A. Nesse processo, nós estamos nos preparando para produzir e exportar o hidrogênio enquanto o Porto de Roterdã – nosso acionista – está se preparando para receber e distribuir pelo mercado europeu. O Porto do Pecém e o Porto de Rotterdam serão a rota de exportação/importação de H2V mais próxima entre a América do Sul e a Europa.

No início, o hidrogênio verde produzido será realmente para exportação. Mas a longo prazo, o que esperamos é usar parte desse hidrogênio para consumo interno. Agregarmos valor e explorarmos produtos de valor ainda mais agregado como aço verde, fertilizantes nitrogenados, combustíveis sintéticos, além de equipamentos da própria cadeia produtiva do H2V. O hub de hidrogênio verde no Pecém tem potencial para transformar a realidade não apenas de grandes empresas instaladas no Pecém, mas também de pequenos produtores de energias renováveis e de todo o povo cearense.

Hugo Figueirêdo é presidente do Complexo do Pecém

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