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Luiz Dias Guimarães

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O triunfo sem limites do céu

O céu não é limite para a ousadia e o dinheiro pode ser o passaporte para o inatingível. O que faz sermos às vezes mais que reles mortais mergulhados na experiência dos pequenos prazeres e viver a luxúria do tempo que não é igual para todos?

Alguns humanos crescem mais que nossas tímidas asas. E se tornam seres quase mitológicos. A dimensão que dão à vida depende de seus sonhos e ousadias. São seres que almejam o poder, de variadas formas, como as asas distintas dos pássaros que serpenteiam as nuvens e pousam nos galhos cantando vitórias.

É comum vermos nossas vidas subjugadas àquelas aves que miram simplesmente o poder de mandar na vida coletiva, e serem alguns reconhecidos e admirados por méritos. Outros não, apenas aves cujo canto encanta e faz brotarem ilusões.

Há os pássaros cujas correntes de ar conduzem apenas à dimensão do prazer de acumular e exibir.

São espécies distintas, como Elon Musk e Tio Patinhas, o primeiro querendo ser visto como desbravador desapegado da fortuna que cria com seus lampejos de olhar mais à frente do que pequenos pardais. Outros voam simplesmente para acumular luzidias barras que brilham à luz do sol e refletem apenas a ostentação.

Outro dia um bilionário anunciou a terceira tentativa de construir uma réplica do Titanic, aquela lenda que repousa no fundo do mar e atrai e instiga curiosos abastados. Alguns que perecem em meio à fantasia como os que recentemente implodiram no submersível Titan, que pelo visto de titan nada tinha.

O bilionário do novo Titanic declarou solenemente que se dedicava a realizar um sonho ao invés de ficar contando sua fortuna num quarto imenso sem emoção.

Admiro outras, as aves inconformadas com suas dimensões, e por tê-las racionalmente imensas, não se perdem nas nuvens que escondem as estrelas. Há vários admiráveis tipos assim.

Outros não. Um bilionário anuncia que venderá o prazer com uma traquitana no ar, cuja passagem supera o milhão. Sua nave em forma de aeróstato envidraçado subirá até a beira da atmosfera, numa breve viagem que servirá jantar a bordo com vista para o inebriante azul do planeta.

Há preços de vários tamanhos para quem quer subir ao céu e os mais módicos se destinam aos que se contentam em olhar nosso mundo a míseros 300 metros de altura, como é comum hoje em muitas cidades nos rooftops, coberturas às vezes feitas de vidro e destinadas a quem, pelo valor de um show, pode tirar fotografias e exibi-las no Instagram. Em outros casos podem compartilhar uma ceia inesquecível a quem quer impressionar e brindar a relação.

Existem também ofertas cada vez mais exóticas, porque além da satisfação que o programa oferece, extasiando a quem se sente feliz por poder usufruir esse sonho, ainda tem de brinde o gosto da exclusividade, componente valorizado e frequentemente exposto nas avenidas em forma de Ferrari ou Porshe. Ficam tanto extasiados que às vezes, além de impressionar as passantes, estatelam a vida de quem segue à frente.

Talvez o exemplo mais peculiar além da nave que promete ver o mundo como quem se senta à beira da lua, seja a joia da Cidade Luz. O engenheiro Gustave Eiffel, ao construir a cereja do bolo francês para a Expo em 1889, viveu seu momento de imortalidade exclusiva, surpreendentemente inusitado para a época.

No alto da sua torre, discretamente construiu um apartamento para deleite pessoal e acessível a poucos que compartilhavam de suas íntimas emoções, como Thomas Edison. Era um apartamento simplesmente decorado porque a estética insuperável do ambiente eram as janelas com vistas de 360 graus.

A raridade atraiu muitos que sonhavam ir às alturas, mas eram solenemente negados por Eiffel no seu recôndito mundo particular. Que se contentassem com as vistas debruçados nos balcões.

Agora uma arquiteta acaba de redecorar o cantinho privilegiado do construtor e alguém passará a oferecer acesso com jantar exclusivo àquelas que ainda mi, sonham um dia chegar a bilionários também. Como se sentirão por poucas horas, iluminados como a mágica, emblemática e suntuosa Champs Elysèe. E então estarão sendo águias e falcões sobrevoando o mundo habitado por simples sabiás que se contentam em fazer seus ninhos nas majestosas árvores que conduzem ao Arco do Triunfo.

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