Olimpíadas 2028! Vamos oferecer medalhas de cobre, alumínio ou aço?
“A vitimização me incomoda, em primeiro lugar porque apaga parte do merecido brilho dos vencedores (os quais nessas narrativas são vistos como alguém que teve mais sorte que os demais) e, o pior de tudo, diminui no perdedor o desejo absolutamente necessário de voltar a treinar ainda mais duro e com mais vontade, para brilhar nas próximas edições dos Jogos”
“Homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos, mas homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes”
Provérbio Oriental.
“O importante não é vencer, mas competir”. É o Lema Olímpico, que teria sido dito pelo educador francês Pierre de Frédy, o Barão de Coubertin, criador dos Jogos, em sua versão moderna, iniciada em 1896, em Atenas.
Há quem afirme, que essa frase teria sido dita originalmente pelo Bispo de Londres, em um ato religioso, antes dos Jogos de 1908. E teria acrescentado: “E com dignidade”.
“O importante não é vencer, mas competir. E com dignidade”.
Esse “acréscimo” é o que me incomoda. A dignidade. A palavra vem do Latim dignitas, “o que tem valor”, de dignus, “valioso, adequado, compatível com os propósitos”. Daí a minha pergunta: Quanta dignidade há em tentar justificar um desempenho abaixo do esperado?
Antes de reagir, entenda bem o que estou querendo dizer.
Treinar duro – durante quatro anos – todos os dias, abrindo mão de quase todo o restante da vida, incluindo a convivência com Família e Amigos, muitas vezes sem recursos, é por si só algo de altíssima dignidade, seja qual for o resultado. Ganhar uma medalha é uma consequência que pode acontecer ou não. Sair das Olimpíadas com uma medalha depende, entre outras coisas, de quanto o esforço dos demais competidores foi maior ou mais eficiente do que o Atleta sobre o qual estivermos falando.
Uma comparação válida com o mundo corporativo seria o quanto você trabalha, estuda, se dedica enquanto outro é promovido antes de você (estou supondo que tudo tenha se passado de forma ética, sem a “mão amiga” de ninguém).
Meu incômodo, como escrevi acima, não é com a pessoa ou com o resultado que obtém. É com as justificativas que se tentam dar quando “a medalha não vem”.
Tenho assistido a todas as competições que minha agenda permite. Ouço com frequência, comentários louvando um atleta que chegou nos últimos lugares. Além dos argumentos óbvios, como “ele deu tudo de si, mas não foi tão rápido quanto fulano”, há com frequência uma narrativa generalizada que classifica a turma do fim da fila como vítima, sabe-se lá do quê ou de quem.
A vitimização me incomoda, em primeiro lugar porque apaga parte do merecido brilho dos vencedores (os quais nessas narrativas são vistos como alguém que teve mais sorte que os demais) e, o pior de tudo, diminui no perdedor o desejo absolutamente necessário de voltar a treinar ainda mais duro e com mais vontade, para brilhar nas próximas edições dos Jogos.
De novo, como na vida, devemos aprender mais com as derrotas do que com as vitórias. Quem de nós já não passou por algo assim? Quem de nós, que tenha filhos, não deseja que eles levantem a cabeça e sigam para serem vitoriosos na próxima oportunidade. Essa narrativa incomoda porque é contrária ao que naturalmente sentimos.
Tenho notado, de uma maneira geral, na sociedade, esse sentimento de condescendência com o baixo desempenho. Uma espécie de “Progressão Continuada” generalizada, esse sistema adotado em algumas escolas, onde os alunos são promovidos de uma série para a seguinte, sem ter aprendido tudo que deveriam (a justificativa é que se aprendem determinadas habilidades e competências em ciclos, não em séries). Os resultados apresentados pelos alunos brasileiros, em comparação com os dos demais países estão aí e falam por si só.
Na vida real a situação se repete. Lidando com Gestão de Pessoas há mais de vinte e cinco anos, sinto dizer que os resultados dessa forma de ver o aprendizado para a vida – que justifica a baixa performance, deixando em segundo plano o lado o esforço que leva ao mérito – tem feito os mesmos efeitos desastrosos nas organizações. Quem tiver dúvida, pesquise os dados sobre a produtividade da indústria de nosso País. É baixo.
É isso que queremos? Ou queremos reagir? Devemos reagir.
Os Jogos Olímpicos são amados e populares pois trazem os ingredientes dessa reação, contando as boas histórias, que todos amamos: drama, comédia, emoção, superação. Reproduzem a vida. Acabamos de ver Caio Bonfim levar uma Medalha de Prata, apesar de uma infância difícil que incluiu vencer uma Meningite aos sete meses de vida e uma cirurgia de realinhamento das pernas aos três anos. Os Médicos acreditavam que ele teria dificuldades para andar, quanto mais de marchar para a vitória.
Superar e superar-se é o caminho. Quem não lembra de Vanderlei Cordeiro de Lima que perdeu sua vantagem tranquila de vinte e cinco segundos sobre o segundo colocado – e a Medalha de Ouro – na Maratona de Atenas-2004 após ter sido empurrado por um perturbado espectador irlandês? Terminou com o Bronze, mas foi transformado Herói, pelo Comitê Olímpico Internacional.
Assim é. Cada um de nós busca uma Medalha a cada dia. Faz o melhor para consegui-la. E quando não conseguimos, levantamo-nos no dia seguinte, sacudimos a poeira e começamos tudo novamente.
É o caminho para a vitória que um dia chegará.
Hudson Carvalho é Consultor em Gestão de Pessoas e Estratégia Empresarial, Diretor Executivo da Elabore Online – Resultados Através das Pessoas e Diretor da WISDOM – Gestão Organizacional (Desenvolvemos Pessoas e Processos) – Baixada Santista e ABCD
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